Chacina em creche deixa a pequena Saudades, em SC, transtornada

Creche em Santa Catarina
Entre os mortos estão uma professora, uma agente de educação e três crianças (Reprodução/Record TV)

“É uma tragédia, uma cidade de 10 mil habitantes como a nossa, um fato desses, nem nos piores pesadelos a gente poderia imaginar”, disse à reportagem Maciel Schneider (PSL), prefeito de Saudades, na região oeste de Santa Catarina.
A tragédia a que ele se refere são as mortes de pelo menos cinco pessoas, depois que um jovem de 18 anos invadiu uma creche e golpeou professores e crianças com uma arma branca semelhante a um facão, na manhã desta terça-feira (4).

O episódio deixou em choque a cidade, que tem 9.810 habitantes, segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), e nunca tinha testemunhado casos de violência parecidos. Entre os mortos estão uma professora, Keli Adriane Aniecevski, 30, uma agente de educação, Mirla da Costa Renner, 20, e três crianças menores de dois anos.

O jovem também se cortou com a arma, sendo encaminhado a um hospital com ferimentos no pescoço, abdômen e tórax, segundo as forças de segurança do estado.

As professoras da Escola Municipal Infantil Pró-Infância Aquarela, onde ocorreu o atentando, se trancaram nas salas de aula com as crianças para tentar conter a ação do suspeito. Com as restrições da pandemia, havia cerca de 20 pessoas no local, segundo fontes ouvidas pela reportagem.

Uma das funcionárias que não quis se identificar contou à reportagem que estava na sala dos professores no momento do atentado, se preparando para retornar para a sala de aula, quando ouviu gritos de Keli, primeira vítima atingida pelo rapaz.

Segundo ela, a professora o abordou logo que ele entrou na escola, perguntando do que ele precisava, mas, sem maiores explicações, foi atacada pelo rapaz, que vestia roupas pretas.

A funcionária conta que, pelo tamanho e características, chegou a pensar que a arma fosse um cacetete. Logo que percebeu a agressão, ela e outra professora se trancaram na sala de materiais da escola. Ela percebeu depois que as colegas fizeram o mesmo em outros ambientes, na tentativa de impedir a ação do suspeito.

Ela afirmou que, ao sair para pegar o celular, viu o homem tentando quebrar os vidros com o facão e entrar nas salas, enquanto as professores e agentes de educação seguravam as portas. Ao retornar para a sala de materiais, a professora disse ter ouvido muitos gritos e barulhos que pareciam disparos de arma de fogo. Segunda ela, depois soube que ele soltou estalinhos durante a ação.

Quando o barulho diminuiu, ela pulou a janela da sala em que estava para verificar como estavam as crianças das quais cuidava. Naquele momento, o suspeito já havia sido capturado por vizinhos da escola.

Segundo relato de outra funcionária, que também pediu para não ser identificada, a segunda vítima do rapaz foi Mirla, que chegou a ser socorrida, mas morreu no hospital. Após atacar as funcionárias, ele conseguiu entrar em uma das salas de aula, onde atingiu as crianças.

Uma das fontes ouvidas pela reportagem disse que foi tudo muito rápido e que tentou pegar as crianças no braço, mas não teve força suficiente. O jovem teria vindo, então, em sua direção, e ela correu até o portão para pedir socorro, conseguindo escapar.

À NSCTV, outra professora, Aline Biazebetti, que trabalha em outro turno, mas mora em frente à creche e foi até o local depois de ouvir os pedidos de ajuda, também relatou que professores tentaram esconder as crianças, para protegê-las durante o ataque.

“Elas viram que estava acontecendo alguma coisa, conseguiram levar todos [alunos] para o fraldário e botar debaixo do mármore e uma ‘profe’ conseguiu segurar a porta, ele tentou abrir, mas daí no fim ele [agressor] acabou desistindo. Elas começaram a fechar as janelas para tentar se proteger”, contou ela à emissora. “É muita tristeza. Não tenho nem palavras porque eu perdi colegas.”

Uma das professoras ouvidas pela reportagem contou que Keli era formada em Sistema de Informação e, para problemas de informática, ela era o “socorro” das colegas. Disse ainda que era adorada pelas crianças.

Já Mirla é descrita pela colega como uma menina quieta e sonhadora, mas muito prestativa, e que gostava de artes e desenho. Ela tinha 20 anos e cursava Engenharia Química na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).

O prefeito decretou luto no município, suspendeu todas as aulas na rede municipal, colocou profissionais de saúde, especialmente psicólogos, à disposição de familiares das vítimas e testemunhas e conta que está recebendo suporte em serviços de outros municípios vizinhos.

Maciel se emocionou ao comentar a tragédia. Prefeito de primeiro mandato, ele tem um filho de um ano e um mês, idade próxima das vítimas, e conhecia a maioria dos envolvidos no episódio. “Nós conhecemos todas as pessoas, aqui é uma cidade pequena. Conheço as crianças, os pais das crianças, os avós das crianças, a gente conhece todas as pessoas”, disse ele à reportagem, por telefone.

Ele conhecia também os pais do jovem suspeito do ataque. Segundo o prefeito, o rapaz não tinha vínculo com a escola, professores ou alunos e morava distante do local, onde chegou de bicicleta na manhã desta terça. “Não se sabe o que passou na cabeça dessa pessoa”, diz ele.

Mais cedo, a Polícia Militar de Santa Catarina divulgou que, segundo relatos de pessoas que estavam no local, o jovem disse ter sofrido bullying, mas nunca estudou no local.

Vereador no município, Alfeu José Schuh (PT), é tio-avô de uma das crianças mortas no atentado, uma menina de cerca de um ano e meio de idade. “O município está transtornado, é uma coisa inacreditável, não caiu a ficha ainda do que aconteceu”, afirmou ele. Segundo ele, o jovem, suspeito pelos crimes, é de família simples, filho de um homem que cuida de uma chácara. “A mãe dele é uma pessoa muito simpática, meiga. Perante a sociedade, nunca imaginaríamos que ele faria algo assim”, diz o vereador.

A Escola Municipal Infantil Pró-Infância Aquarela atendia crianças na faixa etária do chamado berçário, de 0 a 3 anos. Pelo plano de contingência do município, durante a pandemia do novo coronavírus, havia cerca de 50% do público normal no local.

Um velório coletivo para as vítimas, com restrições sanitárias devido à pandemia, deve ocorrer no Ginásio do Parque de Exposições Theobaldo Hermes. O dia e a hora não foram informados.

O governo de Santa Catarina anunciou que a governadora em exercício, Daniela Reinehr, e representantes das forças de Segurança Pública estarão em Saudades para prestar apoio às famílias e acompanhar as investigações.

Folhapress

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