Após Kalil anunciar recursos para vacina da UFMG, Zema visita universidade e sinaliza investimento

Zema na UFMG
Declaração foi feita pelo governador após cerimônia de inauguração de prédio na UFMG (Gil Leonardi/Imprensa MG)

Depois de o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), anunciar que a PBH vai financiar a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o governador Romeu Zema (Novo) também sinalizou pretensão de investir na fase de testes do imunizante.

A declaração foi feita por Zema no Instagram, nessa quinta-feira (6), após participação na cerimônia de inauguração do Anexo 3A do Departamento de Química da universidade.

“Estamos trabalhando através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico para atrair recursos para o investimento na fase 3 dos testes e agilizar a produção da vacina em Minas”, escreveu Zema na rede social.

O BHAZ procurou a Secretaria de Desenvolvimento Econômico para mais informações a respeito do planejamento do Governo de Minas. A pasta reforçou a declaração do governador, mas não deu mais detalhes. Segundo a secretaria, novas informações sobre o possível financiamento serão divulgadas assim que houver novidades.

A UFMG também foi procurada para confirmar a informação do Governo de Minas, mas não retornou até a publicação da reportagem. Tão logo a universidade se posicione, esta publicação será atualizada.

Investimento do município

A pretensão sinalizada pelo governador veio pouco mais de uma semana após o prefeito Alexandre Kalil anunciar, na última quarta-feira (28), que a PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) vai destinar R$ 30 milhões para que a UFMG consiga avançar da fase pré-clínica para as etapas 1 e 2 dos testes clínicos da vacina Spintec.

“A prefeitura garantiu, sim, a continuidade do plano tão importante para população, porque não sabemos se vamos precisar de mais vacinas no ano que vem, ou 2023, ou 2024”, disse o mandatário em entrevista à Rede Globo.

“Belo Horizonte vai garantir, sim, a fase dois de estudos da vacina da UFMG. BH é grande parceira, haja vista que a UFMG disponibilizou um superfreezer caso vacinas da Pfizer chegassem à cidade. É motivo de orgulho de BH e Minas Gerais”, completou Kalil.

‘Grande alívio’

A UFMG já confirmou que a primeira parcela, estimada em R$ 6 milhões, deverá ser liberada no mês de maio, e as outras serão transferidas até dezembro, conforme proposta apresentada pela universidade e aceita pela PBH.

“Foi com grande alívio que recebi essa notícia do próprio prefeito Alexandre Kalil. Havia o risco de que a pesquisa parasse, e esse recurso garantirá a execução do projeto ao menos até o fim do ano”, afirmou a reitora Sandra Regina Goulart Almeida.

De acordo com a instituição, os recursos da PBH serão usados no pagamento de despesas de custeio relacionadas à manutenção e experimentos com os animais, na compra de reagentes (para avaliação da resposta imune, produção e formulação das vacinas), na produção de lotes de teste para análise da Anvisa, na supervisão dos ensaios, no preparo da documentação de pedido de registro, na execução dos testes pré-clínicos e nas duas etapas dos ensaios clínicos.

Uma das coordenadoras dos estudos, a professora Ana Paula Fernandes, do CTVacinas, afirma que é estratégico investir em produtos brasileiros, apesar de já existir um leque de imunizantes disponíveis ou em desenvolvimento em várias partes do mundo.

“Não sabemos a duração da imunidade, é preciso atestar a segurança de algumas vacinas, talvez precisemos obter produtos específicos para faixas etárias distintas e encontramos dificuldades para importar e produzir insumos no Brasil”, argumenta.

“Além disso, estamos descobrindo variantes que devem exigir outros tipos de vacinas. Por tudo isso, não podemos deixar de investir em vacinas nacionais. Elas são fundamentais para garantir uma imunização massiva”, completa a pesquisadora.

Mais recursos

Além do recurso da PBH, a UFMG já tem garantidos R$ 3 milhões em emendas parlamentares das deputadas estaduais Laura Serrano (Novo) e Beatriz Cerqueira (PT). De acordo com a reitora Sandra Goulart, novos aportes serão necessários no início de 2022 para a execução da etapa 3.

“É uma fase mais complexa, multicêntrica, que envolverá alguns milhares de voluntários. Por isso, precisaremos continuar buscando recursos. Todo apoio financeiro que conseguirmos é essencial neste momento”, afirma.

“Já temos um compromisso do deputado Agostinho Patrus [presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais] e dos demais parlamentares estaduais de que a ALMG apoiará o restante da pesquisa, incluindo aporte no acordo da Vale com o Estado pelos danos causados em Brumadinho. E também estamos fazendo gestões junto aos parlamentares da bancada federal e ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações”, detalha a reitora.

Sandra ressalta que o apoio dessas instâncias governamentais é fundamental para compensar as próprias dificuldades orçamentárias enfrentadas pela UFMG. “Não teríamos condições de executar um projeto dessa envergadura sem esse suporte. Vivemos um momento crítico, principalmente depois do corte imposto, na semana passada, ao nosso orçamento, que deverá ser superior a 25% neste ano”, finaliza.

A vacina

A Spintec é uma das três vacinas em estágio mais avançado no Brasil. A plataforma tecnológica usada no desenvolvimento da candidata consiste na combinação de diferentes proteínas para formar uma única, artificial. Esse composto, chamado de “quimera”, é injetado no organismo em duas doses e induz à resposta imune.

Por não usar exclusivamente a proteína S, na qual se dá a maioria das mutações, as chances de sucesso desse imunizante no combate às novas variantes são bastante elevadas. Quando inoculado em camundongos juntamente com um adjuvante vacinal já testado em humanos, o composto foi capaz de induzir resposta adequada nos animais imunizados.

Em camundongos geneticamente modificados para servirem como modelo para a Covid-19, a formulação induziu 100% de proteção. No momento, estão sendo realizados ensaios de tolerabilidade e imunogenicidade em primatas não humanos, destinados, respectivamente, a detectar possíveis efeitos colaterais e a confirmar a geração de anticorpos nas células de defesa.

Avanço nos testes

O objetivo central do projeto que será financiado com recursos da PBH é viabilizar os estudos de fase clínica 1 e 2 em adultos saudáveis sem exposição prévia à Covid-19. Essas etapas são requisitos necessários para os ensaios de fase 3 e aprovação pela Anvisa.

O esforço vai incluir a produção da proteína quimérica, o preparo da documentação para registro do produto e os procedimentos para execução dos testes pré-clínicos de segurança e tolerabilidade e dos experimentos clínicos.

Após os testes com os primatas, os pesquisadores esperam ser autorizados a iniciar os experimentos clínicos em humanos, que serão divididos em três fases. As fases 1 e 2 deverão ser realizadas ainda este ano, e a fase 3, no início de 2022. Caso os testes confirmem a segurança e a eficácia da vacina, o imunizante deverá chegar ao mercado ainda em 2022.

Com UFMG

Edição: Giovanna Fávero
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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