Âncora da CNN questiona ação no Jacarezinho e é atacada nas redes

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Jornalista apontou inconsistências em tese de confronto apresentada pela polícia (Reprodução/CNN Brasil)

Daniela Lima, jornalista da CNN, virou alvo de ataques e críticas nas redes sociais por ter questionado a tese de que um confronto justificaria o elevado número de mortos durante a operação policial na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. Ao vivo, ela apontou inconsistências no argumento utilizado pelas autoridades para defender a ação, que terminou com quase 30 mortos na última quinta (6), entre eles um inspetor da Polícia Civil.

No CNN 360º de sexta (7), Daniela comentou sobre a operação e citou o número de mortes para apontar o problema na narrativa oficial. “Uma operação policial que chega num lugar para prender 21 pessoas, prende seis e deixa 25 mortos precisa ser olhada de perto. Conseguiu o feito macabro de ser a operação mais letal da história do Rio de Janeiro”, disse a âncora.

Daniela comentou ainda sobre as manifestações registradas no estado após as mortes. “Moradores do Jacarezinho, onde aconteceu essa ação desastrada, para dizer o mínimo, trágica da polícia, foram a um protesto”, comentou, ao introduzir a reportagem sobre o caso.

Ela também citou o balanço de mortes – um policial e 25 civis, de acordo com os números oficiais no momento da exibição da matéria – como um indício de inconsistência. “Vinte e cinco mortos, um policial. E o discurso da polícia era de que estava todo mundo armado. Aparentemente estavam muito armados, mas não sabiam atirar, porque eram 24 armados e mataram só um do outro lado, mas morreram todos”, pontuou.

‘Nojo define’

Após a repercussão do comentário, vários internautas discordaram e muitos até atacaram a jornalista. Vários políticos bolsonaristas também reforçaram as críticas a Daniela. “E ainda dizem que ‘pelo jeito não sabiam atirar’, quase que numa torcida para que morressem mais policiais. Nojo define!”, escreveu a deputada federal por São Paulo, Carla Zambelli.

O vereador Nikolas Ferreira (PRTB), segundo mais votado da história de BH, também fez várias publicações sobre o caso. “Espero que a carta de demissão da Daniela Lima esteja pronta. Não é possível que a CNN deixará essa fala impune”, disse em uma delas. Neymar também se manifestou sobre o vídeo. Em resposta a um comentário, ele disse: “Parece piada mesmo, só pode!”.

Comentários semelhantes se espalharam pelo Twitter ao longo deste sábado. Muitos deles com tom semelhante às críticas feitas com frequência a outra emissora que costuma desagradar o grupo: a Globo. “Sejamos honestos, a CNN Brasil já superou a Globo. Ela tem a melhor equipe de militantes do ‘jornalismo’ brasileiro. É militância na veia”, comentou uma internauta.

“Daniela Lima, da CNN Brasil, lamentou a morte de 24 vagabundos armados dizendo que somente um policial morreu ‘do outro lado do confronto’, não sendo justo, na opinião dela. Na luta entre o bem e o mal, a imprensa de esquerda já definiu que está contra você, que cumpre a lei”, disse um segundo.

Daniela rebate críticas

Após o episódio viralizar na rede social, a jornalista voltou a comentar sobre o assunto. Em uma série de publicações no Twitter, ela voltou a reforçar o argumento e explicou o que quis dizer. “Operação que tem que prender 21, DEIXA QUASE 30 mortos e prende 6 não pode ser considerada eficaz. Obviamente estou questionando a TESE DE CONFRONTO, como também fez o STF. Eu, ao contrário de alguns, não queria NINGUÉM MORTO”, disse.

A jornalista, que definiu a repercussão do comentário como “esforço de distorção” também rebateu aqueles que disseram que ela “queria a morte de mais policiais”. “Em nenhum momento quis minimizar a morte do policial. Rogo por um país em que a polícia não tenha que matar e muito menos que morrer. Que tenha condições de, com segurança, cumprir a lei. Prender quem deve ser preso”, comentou.

“Dito isso, o que está sob investigação é a tese de que houve confronto. O ‘só’ não exprime, por óbvio, qualquer desejo de que mais homens da lei tivessem morrido. Apenas tentei – e aparentemente não consegui – mostrar que os números colocam em dúvida a hipótese de confronto”, finalizou Daniela.

Giovanna Fávero[email protected]

Editora no BHAZ desde março de 2023, cargo ocupado também em 2021. Antes, foi repórter também no portal. Foi subeditora no jornal Estado de Minas e participou de reportagens premiadas pela CDL/BH e pelo Sebrae. É formada em Jornalismo pela PUC Minas e pós-graduanda em Comunicação Digital e Redes Sociais pela Una.

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