Jovem denuncia agressão e ameaça de morte por parte de PMs em ônibus de BH

Homem agredido policiais em ônibus
O caso ocorreu na linha 3302 D (Arquivo Pessoal/Alexandre Braga)

Um jovem de 29 anos denuncia ter sido agredido e ameaçado de morte por policiais militares na quarta-feira (5). O caso ocorreu dentro do ônibus da linha 3302 D – Braúnas. Gleidson Henrique, auxiliar de estoque e morador do bairro Céu Azul, região de Venda Nova, estava voltando do trabalho quando foi abordado pelos policiais e questionou o motivo. Procurada, a PM informou que abriu um procedimento administrativo para verificar as circunstâncias da abordagem (confira na íntegra abaixo).

Ao BHAZ, Gleidson conta que perguntou por que os policiais estavam sendo rudes na abordagem – e foi depois do questionamento que as agressões começaram. “Vieram me xingando palavrões, que eu não tinha que saber de nada e que eles eram policiais e eu tinha que entregar a identidade”, conta.

Gleidson lembra que tentou argumentar explicando que “não precisava de tamanha ignorância”. Um dos policiais, que estava próximo ao trabalhador, avisou aos outros que o rapaz estaria desrespeitando a corporação. “Primeira coisa é educação. Eles [policiais] têm que saber conversar com as pessoas e tratar bem”, pontuou o jovem.

Passageiros filmaram tudo

Os próprios passageiros começaram a gravar a ação assim que os policiais tiraram Gleidson à força do coletivo. No vídeo, é possível ouvir gritos pedindo para que parassem de agredi-lo. Um dos agentes usa um cassetete enquanto outros dois puxam o jovem para fora de forma violenta.

“Eu só falei que não ia descer porque não sou bandido. Quando viram que eu não ia descer eles chamaram outras dez viaturas e nisso me deram socos, me bateram com cacetete e me jogaram lá fora. Me algemaram com o rosto no chão, machucou meu rosto. O soco quebrou meu aparelho [ortodôntico]. Depois disso me colocaram dentro da viatura para evitar que as pessoas continuassem filmando”, relembra Gleidson.

‘Não sabia para onde iam me levar’

Dentro da viatura, Gleidson conta que sofreu mais agressões. Ao ser colocado no veículo, o jovem conta que as agressões continuaram. As algemas apertadas no pulso do rapaz fizeram com que a pele ficasse machucada. “Minha mochila ficou pendurada na algema”, explica.

“Me chamaram de folgado o tempo todo e me bateram”, lembra. O jovem afirma que foi levado para a UPA Santa Terezinha, na região da Pampulha, mas que em nenhum momento ele foi avisado o destino da viagem.

“O médico que me atendeu não fez nenhum exame nem perguntou porquê eu estava machucado. Eu fiquei com medo de falar o que realmente aconteceu e apanhar ainda mais lá dentro [da viatura]. Por isso eu menti falando que não estava sentindo dor”, conta o jovem.

Por volta das 19h, Gleidson foi levado para uma delegacia da Polícia Civil no bairro Alípio de Melo. Ele conta que os policiais não permitiram que ele fizesse ligações para a família ou conhecidos. Além disso, o jovem afirma que os militares ameaçaram quebrar o aparelho de celular dele. “Um policial civil me recomendou fazer exame de corpo de delito. Foi totalmente errado o que fizeram comigo”, lamenta.

O que diz a PM?

Confira a nota da Polícia Militar na íntegra:

Quanto ao fato consultado, a Polícia Militar de Minas Gerais, por intermédio do Comando de Policiamento da Capital, esclarece que será instaurado um procedimento administrativo para verificar às circunstâncias em que se deu a abordagem

Jovem afirma ter se machucado com algemas (Arquivo Pessoal)

Tortura contra periferia

Uma das tias de Gleidson conversou com a reportagem e contou que o que fizeram com o sobrinho foi “tortura”. A mulher, que prefere não se identificar, explicou o jovem é trabalhador e que nunca passou por nenhum tipo de abordagem sequer parecida com essa.

“A polícia tá torturando o povo da periferia. Bateram muito nele e só liberaram depois das 22h da noite, isso sem. agente saber onde ele estava. Meu sobrinho é trabalhador, trabalha o mês inteiro para ganhar um salário mínimo. E tá vivendo do jeito que pode, fazendo bico, se virando”, conta.

Gleidson garantiu que vai levar o caso de violência à Justiça e que já acionou um advogado. O rapaz não conseguiu comparecer ir ao trabalho no dia seguinte e precisou pegar atestado médico por conta das lesões. Relatando profundo medo, o trabalhador explicou que vai mudar o percurso de volta para casa por receio de reencontrar os militares.

Eu tenho um filho de cinco anos, ele depende de mim, e eu tenho medo de fazerem algo contra mim. Eu quero que eles só paguem pelo que fizeram, foi muito errado.

“As pessoas me questionam a coragem de denunciar mas eu acho que o mundo está assim hoje porque tem pessoas que não tem coragem pra falar e lutar por seus direitos. Se a gente não fizer isso, o mundo vai ser assim pro resto da vida. Se eu não lutar, meu filho vai sofrer daqui para frente”, reforça.

Edição: Roberth Costa
Jordânia Andrade[email protected]

Repórter do BHAZ desde outubro de 2020. Jornalista formada no UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) com passagens pelos veículos Sou BH, Alvorada FM e rádio Itatiaia. Atua em projetos com foco em política, diversidade e jornalismo comunitário.

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