Backer anuncia que voltará a vender cerveja Capitão Senra

Capitão Senra
Justiça autorizou a retomada da comercialização do produto (Reprodução/@cervejariabacker/Instagram)

A cervejaria Backer anunciou, nesta terça-feira (11), que vai voltar a vender a cerveja Capitão Senra, após a Justiça autorizar a retomada da comercialização do produto. A marca já havia sido relançada em outubro do ano passado, em evento no Templo Cervejeiro da empresa. À época, familiares e vítimas da intoxicação por dietilenoglicol, substância encontrada na cerveja Belorizontina, expressaram revolta com o evento de lançamento, já que o espaço fica ao lado da fábrica da bebida. 

“A Cervejaria Três Lobos Ltda. tem pautado sua atuação na estrita observância das normas e no cumprimento das decisões administrativas e judicias. Nesse sentido, voltará a comercializar a cerveja Capitão Senra, iniciativa fundamental para a manutenção do emprego de seus colaboradores e para honrar seus compromissos”, diz publicação da Backer no Instagram.

No total, 26 pessoas foram afetadas pela cerveja Belohorizontina, da Backer, sendo que 10 delas morreram. A Polícia Civil indiciou 11 pessoas por crimes diversos no início de junho (relembre aqui). A denúncia contra 10 pessoas foi feita à Justiça pelo MPMG (Ministério Público de Minas Gerais) no dia 4 de setembro.

Autorização da Justiça

Em novembro do ano passado, a Justiça havia proibido a comercialização da cerveja Capitão Senra, mas a decisão foi revogada pelo juiz Haroldo André Toscano de Oliveira, da 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, no dia 22 de abril. De acordo com a decisão mais recente, foi firmado acordo entre o MPMG e a Backer, para “a constituição de fundo para pagamento das despesas emergenciais”.

Ainda segundo a Justiça,  a cerveja não será produzida no pátio industrial da Backer, mas, sim, “sob a responsabilidade de empresa detentora dos alvarás sanitários competentes”. Em outubro do ano passado, quando a empresa relançou a Capitão Senra, um usuário questionou no Instagram onde ela seria produzida, e a Backer respondeu que seria por meio de uma “cervejaria parceira”.

Revolta

“O meu sentimento é de tristeza por ter chorado a noite inteira relembrando os últimos momentos do meu marido se desmanchando na cama com feridas pelo corpo do tamanho de uma pizza. Ele urrava de dor. Fico revoltada vendo tudo isso acontecer”, diz Eliana Reis, esposa de José Osvaldo Faria — uma das dez vítimas da intoxicação, quando a Backer relançou a cerveja no ano passado.

O dentista Ney Eduardo Vieira Martins é uma das 16 pessoas intoxicadas que conseguiram sobreviver às complicações. Antes de opinar sobre o evento, ele comentou a triste situação que viveu. “Foi um negócio pavoroso que enfrentei. Nem consigo me lembrar direito. Digo que nós, sobreviventes deste envenenamento, estamos literalmente sobrevivendo. Eu fiquei com sequela neurológica, não tenho equilíbrio e perdi 70% dos meus rins”. Ney tem, inclusive, problemas para retomar a carreira de dentista por causa das consequências da doença.

“Ver um negócio desses, a cervejaria fazendo festa de relançamento da Capitão Senra, é revoltante. O que aquelas pessoas estavam brindando? A sensação que fica é que brindavam a desgraça alheia. Nós que passamos por todas as dificuldades e continuamos passando e esta empresa na ganância. Esta cervejaria debocha da gente e a Justiça segue muito morosa”, complementou ele à época.

Relembre a investigação

A Polícia Civil chegou à conclusão de que a contaminação das cervejas da Backer ocorreu por conta de dois pontos de vazamento no processo de refrigeração da bebida. Esses “furos” permitiram que o dietilenoglicol tivesse contato com a bebida. O dietilenoglicol é um anticongelante bastante usado na indústria, mas sua ingestão pode causar intoxicação com sintomas como insuficiência renal e problemas neurológicos. 

“As cervejas demandam tempo nesse tanque para serem maturadas. A Belorizontina [marca da Backer] demora 14 dias de maturação, existem outros tempos para outros produtos. Nós encontramos o vazamento dentro do tanque, literalmente dentro do tanque, jogando o tóxico para dentro da cerveja”, informou, à época, o delegado do caso, Flávio Grossi (relembre aqui).

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!