Basta! Já passou da hora de se colocar freios no presidente

jair bolsonaro
Marcelo Camargo/Agência Brasil

É certo que o segundo governo de Dilma foi marcado por uma das mais graves recessões de nossa história. O aumento do desemprego e a falta de perspectiva de uma retomada da atividade econômica tiveram papel determinante em sua queda.

É certo também que a hiper exposição dos casos de corrupção no governo federal, capitalizados por grupos movidos por uma difusa ideologia, não apenas reforçou o sentimento antipetista como, ainda, afastou partidos e políticos tradicionais, abrindo caminho para todo tipo de aventureiros.

Para nosso azar, um desses aventureiros obteve quase sessenta milhões de votos. Um político inexpressivo, que há décadas transitava pelos subterrâneos da Câmara, aparentemente envolvido em pequenos golpes, como rachadinhas e superfaturamento de combustível, racista, machista, homofóbico, truculento e desqualificado – se quisermos ser avaros nos adjetivos, podemos nos contentar apenas com estes…

Pois foi justamente esse aventureiro que chegou ao Palácio da Alvorada: Um filhote da ditadura, formado na academia militar nos anos de chumbo, sem qualquer apreço pela democracia.

Ele conseguiu convencer o eleitorado que sua deselegância era sinônimo de franqueza, que sua irrelevância política era sinal de honestidade e que seria independência a sua incapacidade de se articular.

Foi ele que também conseguiu convencer os donos do capital de que implementaria medidas liberais na economia. Justo ele, que em trinta anos no parlamento não chegou a fazer um único pronunciamento de cunho liberal.

Que o desastre estava anunciado, já se podia prever. Mas o que não se poderia prever era o tamanho do desastre. Nem os mais pessimistas poderiam imaginar que o presidente conseguiria ser tão incompetente, negligente e irresponsável.

O tempo, porém, é implacável. O presidente com a agenda mais vazia de toda a história não conseguiu administrar o País – e a impressão é a de que nem chegou a tentar.

As principais medidas implementadas durante seu governo foram tomadas apesar do presidente: ele não se empenhou na aprovação da Reforma Previdenciária, ele boicotou o quanto pode o auxílio emergencial e, a cereja do bolo, enrolou-se com as vacinas a ponto de poder colocar-se em sua conta pessoal centenas de milhares de vidas perdidas.

Agora, quando a inflação volta a rondar a economia, quando o desemprego e o subemprego afligem a quarta parte da população, quando a fome substitui a carne pelo osso na mesa das famílias e as ruas se tornam os lares dos novos miseráveis, Jair resolve portar-se como o garoto mimado que não aceita ser contrariado.

Ao invés de voltar seus esforços para implementar medidas que melhorem a vida da população, Bolsonaro dedica-se a ofender seus desafetos no Supremo. Xinga a mãe de um ministro, mobiliza sua matilha virtual para atacar os integrantes e da Corte e, para completar, ameaça, dia sim dia não, dar um golpe militar.

A ameaça, tantas vezes brandida, já não encontra mais eco. A cada vez que é repetida, um novo segmento vem a público dizer que não apoiará uma quartelada. Aliás, quais generais da ativa estariam dispostos a serem diuturnamente humilhados pelo capitão reformado?

Bolsonaro já deixou claro que tem um prazer especial em constranger os “seus” generais. Ou os chama de melancia ou os equipara a um inconveniente cunhado. E são dispensados sem motivos e substituídos sem qualquer hesitação.

Ora! Se os generais são sujeitos a essas humilhações em plena democracia, podem imaginar como seriam tratados se o poder se concentrasse nas mãos de Bolsonaro. Por isso que deixaram claro que não tomarão parte em nenhuma aventura golpista. E, como se pode facilmente perceber, não há quartelada sem os quartéis!

De qualquer forma, os ataques do presidente são inaceitáveis. São incompatíveis não apenas com a liturgia do cargo; são incompatíveis com qualquer noção, por mínima que seja, de urbanidade.

Por isso, é chegada a hora de colocarmos um freio no presidente, de dizermos que não haverá voto impresso, que as vacinas salvam vidas e que não será tolerado qualquer atentado à democracia. E, já que vamos colocar o freio no presidente, aproveitemos a oportunidade para colocarmos também um bridão em seus apoiadores.

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior[email protected]

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito civil, professor universitário, Diretor Científico da ABDC – Academia Brasileira de Direito Civil e associado ao IAMG – Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Foi presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG. Apresentador do podcast “O direito ao Avesso”.

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