Enquanto colhe plantas que cultiva no quintal de casa para fazer os produtos de sua marca, uma empreendedora de BH parece distante da rotina de figurões engravatados. “Não é só sustento, realização pessoal, mas também uma forma de movimentar como acredito que a sociedade deveria ser”, diz. Do outro lado da cidade, um jovem olha, do alto de um prédio, o horizonte. “Vi que era uma máquina de fazer dinheiro, mas fazia dinheiro para a pessoa errada”, assegura. Aline de Santas, da marca de cosméticos orgânicos Afrôdiz, e Micha Menezes, da Agência Pinguim, especializada em lançamentos de cursos online, não estão sozinhos. Aqui, se juntam aos fundadores da Be Honest – minimercado 100% dependente da honestidade dos clientes –, Marcelo Carneiro, Vitor Casagrande e Bruno Alexandro, e à dupla do Trokaí – aplicativo de troca de roupas usadas –, Fabiano Jardim e Lucas Leandro. Embora não se conheçam, têm muito em comum: empreendimentos e trajetórias que desenham novos caminhos – pelos quais as trocas de serviços e produtos já passam e vão passar. Eles são a cara do ‘boom’ de novos negócios no Brasil.
Se nas décadas passadas grandes empresários eram a referência ao empreender, atualmente o país vive uma explosão de novos negócios comandados por pessoas que, mais do que impactar a economia a níveis local e nacional, se mostram alinhadas com tendências globais. Elas focam em inovação e estão de olho nas mudanças das relações de trabalho, cada vez mais atreladas à qualidade de vida. Só entre maio e agosto de 2021, segundo o Boletim do Mapa de Empresas do Ministério da Economia, mais de 1,4 milhão de brasileiros abriram empresas. Empreendedores do futuro e do agora que buscam, cada um a seu modo, transformar ideias e processos, democratizar conhecimentos, inovar e criar oportunidades a partir dos desafios.
O BHAZ ouviu especialistas em inovação, inteligência competitiva, estratégia e gestão – do Sebrae à UFMG, além de players do próprio mercado, e mostra quem são os profissionais que dão cara ao ‘boom’ de novos negócios no Brasil. Diversos, eles retratam um novo cenário: a máxima de que “alguns têm perfil para empreender, e outros não” caiu por terra. No dia a dia, os desafios e os riscos são inúmeros, mas eles crescem nessa jornada ao absorver e compartilhar conhecimentos.
Seja no setor de vestuário, cosméticos, alimentação ou tecnologia, esses empreendedores carregam valores e práticas que se distanciam da definição de “sucesso” mais comum. Imagine investir em uma loja 100% dependente da honestidade dos clientes, um espaço em que eles pegam os produtos e pagam por si, sem funcionários presentes fisicamente. Ou ainda, apostar no consumo consciente por meio de trocas de roupas usadas. Engana-se quem pensa que tornar os negócios mais humanos, sustentáveis e conectados também quer dizer deixá-los menos competitivos. E é assim que o ‘boom’ de novos negócios redefine a imagem dos empreendedores no Brasil.