Bloco ‘Filhos da PUC’ racha, se transforma em dois e trava briga judicial em BH

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Quando era um só, bloco era um dos maiores do Carnaval de BH (Reprodução/@blocofilhosdapucmg/Instagram)

Um dos grandes blocos do Carnaval de Belo Horizonte, o Filhos da PUC se dividiu em dois por causa de discordâncias entre gestores atuais e antigos do DCE (Diretório Central dos Estudantes). Agora, os dois desfilam no mesmo dia, no domingo (19) de Carnaval, com diferença de uma hora. A briga está na Justiça.

Na programação oficial da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), o Filhos da PUC (da atual gestão do DCE) sai na avenida Olegário Maciel, 1801, no Lourdes, com concentração às 9h. Enquanto isso, o Bloco Filhos da PUC MG desfila na avenida Getúlio Vargas, 792, Savassi, com concentração às 10h.

O BHAZ ouviu representantes dos dois blocos para entender um pouco do imbróglio. Gabriel Luna é estudante da PUC Minas, atual presidente do DCE e coordenador geral do bloco. Ele venceu as eleições de 2022, e ocupa o cargo deste então. Do outro lado está Fernanda Souza, que ocupava a posição no DCE anteriormente, e coordena o outro bloco.

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As eleições no DCE aconteceram em 12 e 13 de setembro de 2022. De acordo com Gabriel, a antiga presidente fez o registro do bloco um dia depois da eleição no nome dela. “Logo no dia seguinte, ela registra no nome e endereço dela. A intenção era de querer tomar o bloco para ela. Por isso, tivemos que mudar o local, que antes era na Getúlio Vargas, e agora passou a ser na Olegário Maciel”, começa.

“O bloco não é de propriedade de nenhum estudante, ele é transitório. A gente fica, ajuda o bloco e depois sai, mas o bloco fica. Quando ela faz isso sozinha, de forma isolada, gera esse conflito. A forma como ela conduziu o bloco também não agradou as pessoas. Tudo do jeito dela, não é democrático”, continua.

O presidente do DCE afirma que a questão está na Justiça. “Estamos movendo uma ação contra ela. Criamos uma comissão jurídica composta por quatro advogados. São vários os argumentos que comprovam que o bloco foi criado em 2017 pelo DCE. Ela não estuda mais na PUC, perdeu a eleição do DCE, é hora de seguir em frente. Está tentando se apropriar de um bem que é do estudante. Ela levou as senhas das redes sociais de algo da empresa, não pertence a ela”.

Luna ainda reitera que tem documentos para comprovar a veracidade de tudo o que foi feito e dito. Segundo ele, tudo já está nas mãos dos advogados, que conduzem o caso. No início de janeiro, o bloco postou uma nota de esclarecimento, em vídeo, sobre o assunto. Assista:

Ataques aos divergentes

Fernanda, por sua vez, conta que faz pós-graduação na PUC Minas, e afirma que ela e outros integrantes do bloco têm sofrido ataques por causa da situação. “O bloco começou de uma iniciativa de uma pessoa que não estudava mais na PUC. O DCE entrou como um parceiro, para ceder um local e patrocínio”.

Ela ainda relata que, em 2019, que membros do outro que antes participavam em conjunto com fundadores do bloco já havia tentado registrar o bloco “às escuras” na prefeitura.

Em 2020, houve uma nova tentativa e, para resguardar o bloco, membros fundadores decidiram registrar o CNPJ com intuito de formar uma associação. “Juntamos pessoas que eram da fundação do bloco e representantes de bateria, harmonia, comunicação, DCE, fundadores e organizamos toda a papelada e fizemos o cadastro desse bloco, e todos estavam de acordo”.

“Em 2022, chamamos os novos representantes dessas áreas e todos estavam trabalhando em conjunto e novamente propusemos a criação de uma associação onde todos ocupariam a direção de forma igualitária. Contudo, duas semanas depois, ficamos sabendo que Gabriel Luna realizou outro cadastro do bloco, visando excluir os fundadores. Isso deu uma quebrada de vínculo entre os organizadores”.

A pós-graduanda alega também que o outro lado diz que não existe pessoas ainda ligadas à PUC no bloco. “Existe esse vínculo, sim. Falar que não tem ninguém ligado à PUC no bloco é mentira. Fazemos parte, construímos esse bloco, sim. É muito fácil pegar um projeto pronto e fazer uma mobilização de ódio, desqualificando as pessoas que tiveram esse trabalho, num discurso cheio de inverdades, de fake news”.

A presidente do bloco ainda reforça que não existe desejo de privatizar o cortejo. “Desde a primeira edição, sempre esteve nesse mesmo CPF, nesse mesmo registro. Sempre todo mundo trabalhou junto. Nunca houve essa mudança de pessoas”. Ela também reclama de um discurso de precisar sair do bloco após deixar a PUC.

Souza enviou diversos documentos em relação ao bloco, que estão anexados ao processo que corre na Justiça.

Bloco nunca deu lucro

Luciana Lemos, formada em relações públicas e pós-graduanda da PUC Minas, afirma que o bloco Filhos da PUC nunca deu lucro. “Esse discurso parece que a gente quer ganhar algum dinheiro com o bloco. Mas todas nós somos voluntárias, inclusive a Fernanda. A gente tentou se comunicar com o DCE, sabemos da importância. Não temos problema de passar o bastão, o problema foi a falta de comunicação”.

As organizadoras também alegam que tentaram criar a Assembleia Recreativa e Cultural Bloco Filhos da PUC MG. “Será que todas as baterias, todas as atléticas sabem de tudo que aconteceu por trás? Entre a primeira e a segunda semana de janeiro tentamos fazer uma reunião, e apresentar todos os benefícios [da associação], para os dois lados. Só que a gente não teve abertura, ninguém daqui pode participar. A gente tentou de tudo. Sabemos da importância do DCE e dos alunos ao nosso lado”, completa dizendo que acredita que os alunos não saibam disso por causa do ódio jogado no bloco.

Veja nota do bloco, publicada no fim de dezembro de 2022, sobre o caso:

Agora, a questão segue na Justiça, ainda de maneira indefinida. Os dois blocos vão desfilar no Carnaval de Belo Horizonte, e ambos desejam que seja um momento de alegria e de paz.

Divisão do Baianas Ozadas

A treta do Filhos da PUC não é a única do Carnaval de BH: Até 2016, o mega bloco Baianas Ozadas era um só. Após desentendimento interno, os fundadores do bloco, Heleno Augusto e Geo Cardoso, se separaram. Em 2017, surgiu o Havayanas Usadas, que ficou com Heleno. O Baianas Ozadas passou a ser comandado por Geo.

A separação teve como principais motivos a busca por patrocínios e a mudança na formação da bateria. Geo Cardoso defendia a profissionalização dos músicos e a busca por patrocínios para incrementar o bloco. Já Heleno Augusto, defendia que o bloco deveria continuar com sua espontaneidade.

Edição: Pedro Rocha Franco
Vitor Fernandes[email protected]

Sub-editor, no BHAZ desde fevereiro de 2017. Jornalista graduado pela PUC Minas, com experiência em redações de veículos de comunicação. Trabalhou na gestão de redes do interior da Rede Minas e na parte esportiva do Portal UOL. Com reportagens vencedoras nos prêmios CDL (2018, 2019, 2020 e 2022), Sindibel (2019), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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