O samba de Belo Horizonte perdeu nesta terça-feira José Eustáquio da Silva, conhecido nas rodas de samba da capital mineira como Mandruvá. Nascido em Timóteo, no Vale do Rio Doce, o sambista tinha 67 anos de idade. Boêmio, irreverente e generoso, de voz forte e talento de cronista, o bamba representou como poucos os valores do samba e foi um de seus maiores representantes na capital mineira.
Autodidata, Mandruvá era cantor, multi-instrumentista e compositor. Antes do reconhecimento, teve uma infância e uma juventude marcadas pela pobreza e por muita luta. Quando era ainda bebê, sua família deixou Timóteo e foi tentar a sorte na capital. Viveram, inicialmente no bairro Santa Efigênia, mas logo tiveram que se mudar para o Nova Vista após perderem tudo em uma enchente do rio Arrudas.
A partir dos sete anos de idade, começou a trabalhar como camelô, vendendo diversos produtos pra transeuntes no Centro de Belo Horizonte. Seu carinho e respeito pelos vendedores ambulantes permaneceria e foi expressado, mais tarde, em sua composição “Camelô”. A música é um impressionante retrato musicado do Centro de Belo Horizonte, um mosaico sonoro composto das vozes e dos cantos de trabalho dos trabalhadores ambulantes.
Aos 16 anos de idade, Mandruvá era lavador de carros em Belo Horizonte e recebeu, de um cliente, um passeio no Rio de Janeiro. Chegando lá, o jovem Eustáquio foi abandonado à própria sorte pelo cliente e teve que se virar por lá, voltando à rotina de vendedor ambulante. No Rio, passou a frequentar as rodas de samba e foi profundamente tocado pelo estilo, do qual seria um grande baluarte pelo resto de sua vida.
De volta a Belo Horizonte, ele foi paulatinamente se envolvendo com o samba da cidade. Liderou grupos memoráveis, como Os Pretões, com Paizinho do Cavaco, Lulu do Império, Simão de Deus e Raimundo do Pandeiro. que marcou a cena do samba na década de 90 em Belo Horizonte. Participou também de inciativas dedicadas à profissionalização do samba mineiro, como a Cooperativa do Samba e a Associação da Velha Guarda da Faculdade do Samba, de Belo Horizonte.
Mas era no Carnaval que Mandruvá mostrava seu brilho de forma mais evidente. Compositor de vários sambas enredo, chegou a emplacar no desfile do Carnaval de Belô em 2010 cinco sambas enredos defendidos por diferentes escolas. Foi campeão em blocos caricatos e escolas, como os blocos Aflitos do Anchieta e Nossa Raiz e campeão em várias escolas de samba.
Velório e sepultamento de Mandruvá
O velório acontece nesta quarta (11) no Cemitério Terra Santa, em Sabará e o sepultamento ocorrerá às 16h30. Vários sambistas com seus instrumentos devem se dirigir ao local, onde, seguindo o último desejo de Mandruvá e, de acordo com as instruções da família, uma grande roda de samba vai coroar a despedida do músico.