Charlottesville, nos EUA, retira estátua que motivou ato racista

estátua general EUA
A estátua já provocou ataques racistas há quatro anos (Reprodução/@@86stonemountain/Twitter)

A estátua de um general confederado que motivou uma violenta manifestação racista de ultradireita em Charlottesville, no estado americano da Virginia, quase quatro anos atrás, foi removida de seu pedestal neste sábado pela manhã (9).

Segundo a prefeita da cidade, Nikuyah Walker, o içamento da estátua do general Robert E. Lee significa “um pequeno passo em direção ao objetivo de ajudar Charlottesville, a Virgínia e os EUA a lidarem com o pecado de querer destruir os negros para obter ganhos econômicos”.

Também está prevista a derrubada de um monumento ao general Thomas “Stonewall” Jackson, após o município votar esta semana, por unanimidade, para que uma verba de US$ 1 milhão (R$ 5,2 milhões) seja destinada à remoção e cobertura de estátuas ligadas ao movimento escravocrata.

Apenas as estátuas serão removidas, não seus pedestais de pedra. Os monumentos serão armazenados até que a Câmara Municipal decida o que fazer com eles. Os espectadores, que estavam no parque Market Street desde às 6h, aplaudiram quando a estátua de Lee foi colocada em um caminhão e levada embora.

Os monumentos em homenagem a líderes confederados –os estados do sul que se revoltaram contra o governo federal durante a Guerra Civil americana (1861-1865)– geram controvérsia há anos.

Centenas de estátuas em alusão a este período estão espalhadas pelo país. Há quem as veja como símbolos da história americana e defenda sua preservação, mas para outros elas são uma ode à escravidão. Os planos iniciais para remover a estátua de Lee levaram a um protesto nacionalista branco em agosto de 2017, em defesa de sua manutenção.

Houve uma manifestação anti-racismo simultaneamente, e uma das participantes, Heather Heyer, de 32 anos, foi assassinada por um manifestante que dirigiu um carro contra a multidão. Ele foi condenado à prisão perpétua.

O protesto de supremacistas brancos teve a presença de centenas de neonazistas, nacionalistas e membros da Ku Klux Klan. Três morreram e dezenas ficaram feridos nas brigas entre os manifestantes dos dois lados.

A cidade continuou a pressionar pela remoção da estátua de Lee após os protestos, mas foi impedida por uma ação legal. Cidadãos, incluindo a Divisão dos Filhos dos Veteranos Confederados da Virgínia, processaram o município por causa dos planos de derrubada do monumento.

Em abril deste ano, a mais alta corte da Virgínia determinou que a cidade poderia finalmente remover as duas estátuas confederadas, anulando uma decisão de um tribunal estadual que apoiava o processo dos cidadãos. Mike Signer, um escritor e advogado que era vereador e prefeito quando o comício “Unite the Right” foi realizado em 2017, chamou a remoção de “um verdadeiro passo adiante”. Ele disse que as estátuas se tornaram “totens para esses terroristas”.

“De muitas maneiras, Charlottesville foi um microcosmo do que aconteceu no país: o advento do nacionalismo branco flagrante, aberto e violento nas ruas públicas”, afirmou ele. “O protesto’foi claramente um prólogo para a insurreição de 6 de janeiro” deste ano, quando apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio, em Washington.

Charlottesville é uma cidade universitária de 47 mil habitantes, e o protesto em 2017 foi a maior manifestação de supremacistas brancos do passado recente dos EUA.

O general Robert E. Lee (1807-70) comandou as tropas confederadas na Guerra Civil dos EUA, quando Estados do Sul lutaram para se separar do Norte abolicionista e manter seus escravos.

A decisão da remoção da estátua, em 2017, seguia a de outras cidades do Sul de retirarem símbolos confederados de prédios e parques públicos.

Naquele protesto, vários manifestantes carregaram a bandeira confederada, vermelha com uma cruz azul estrelada. Um pequeno grupo que se identificava como milícia, vestido com roupas camufladas, portava escudos e armas.

Já os manifestantes anti-racismo fizeram um contraprotesto diante de uma estátua do presidente Thomas Jefferson (1743-1826), que fundou a universidade local e cuja fazenda fica nos arredores.

Os supremacistas –que já haviam realizado uma marcha na noite anterior com tochas e palavras de ordem contra negros, homossexuais, judeus e imigrantes– planejavam atrair até 6.000 pessoas. Mas após um site de locação de quartos para hóspedes boicotar os interessados em comparecer, conseguiram reunir apenas algumas centenas.

Folhapress

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