“Amor por Direito” aborda preconceito e discriminação em drama emocionante

Double Feature Films – Freeheld

Uma das principais estreias da semana, filme estrelado pela veterana Julianne Moore (Para Sempre Alice) retrata a história verídica de luta por direitos igualitários de casal homoafetivo.

Seria o cinema capaz de mudar o mundo? Em Tempos Modernos (1936), Charlie Chaplin despertou o questionamento acerca da industrialização e das relações de trabalho. Dogmas e paradigmas seriam quebrados em 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968). Na década de 1990, A Lista de Schindler causaria repulsão e comoção coletiva ao reproduzir nos cinemas os horrores da Alemanha nazista.

Portanto, a resposta é assertiva. A arte imita a vida para então transformá-la. É exatamente o que ocorre com o filme Amor por Direito (Freeheld), que estreou na última quinta-feira (21). O longa reproduz a história verídica de um casal de mulheres americanas que lutaram por adquirir os direitos igualitários do casamento, de modo que filme e realidade se misturam para modificar as regras do jogo da vida. Contudo, a filmagem da história emblemática da luta de Laurel Hester e Stacie Andree acentuou a premência de discutir a regulamentação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, nos Estados Unidos, que viria a ser legalizado pouco antes do lançamento do filme.

Ao ser acometida por um câncer pulmonar, a policial Laurel Hester (Julianne Moore) decide nomear sua companheira, Stacie Andree (Ellen Page), como herdeira da casa onde viveram juntas. No entanto, a legislação local não permitia a sucessão entre casais do mesmo sexo. A luta pelo direito de herança, portanto, se iniciaria, tornando um dos casos mais notáveis pela busca de direitos igualitários nos Estados Unidos.

O impacto social causado pelo filme, dirigido por Peter Sollet (Nick e Norah: Uma Noite de Amor e Música), só foi possível dado o poder de convencimento da dupla Julianne Moore e Ellen Page (A Origem). Ambas atuações magistrais. Assim como em Para Sempre Alice (2014), que rendeu o Oscar à Julianne Moore, a atriz encarna um papel ríspido, dramático e visceral. Ela transita com naturalidade do início para o avançar da doença, reproduzindo com convicção plena a voz ruída, as expressões sorumbáticas e os trejeitos de um enfermo terminal. No auge da moléstia, o filme atinge contornos dramáticos, provocando o espectador a questionar uma legislação defasada e conservadora.

Por outro lado, a atriz Ellen Page, no papel da companheira Stacie Andree, imbui-se da face mais humanizada do filme. A personagem reproduz um amor verdadeiro, puro e incondicional, que desvencilha o espectador das amarras do preconceito. A bem da verdade, o relacionamento de Stacie e Laurel, encenado com enorme virtuosismo pela jovem atriz Ellen Page, se mostra mais forte do que a legislação retrógrada, transgride a sociedade conservadora republicana e resiste ao tratamento discriminado da sociedade.

Amor não somente por direito. Mas também por justiça, pela liberdade e pelo dever para com o próximo. O amor de Stacie por Laurel viria por modificar a jurisprudência do Estado de Nova Jersey e de um país inteiro.

Pouco antes do lançamento do filme, em 2015, nos Estados Unidos, a Suprema Corte americana tomaria uma decisão história ao legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Esse é o legado de Laurel Hester, e o cinema e suas histórias continuam a mudar o mundo.

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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