Filme argentino ‘O Décimo Homem’ comprova que cinema pode ser simples e genial

Em exibição nos cinemas de Belo Horizonte, o longa-metragem “O Décimo Homem” é um filme de cara limpa. Dispensa sofisticação e revoga quaisquer artifícios cinematográficos. A nova produção do cineasta argentino Daniel Burman (Abraço Partido, de 2004; e Dois Irmãos, de 2010), que entrou em cartaz na última quinta-feira (5), entrega, com dinamismo e objetividade, uma comédia dramática carregada de simbologia.

Família e religião — temas que lhe são caros em produções anteriores são, novamente, os alicerces sobre os quais o diretor Daniel Burman edifica sua mais recente crônica cinematográfica. Em “O Décimo Homem”, a trama gira entorno da visita do economista judeu Ariel (Alan Sabbagh) ao alvoraçado Once — bairro comercial de Buenos Aires, na Argentina —, onde pretendia apresentar a nova namorada ao seu pai, Usher Barilka (Usher).

Em tempo: além de não levar a namorada, Ariel, a princípio, não encontra o pai.

Tendo caído por terra a sua inicial motivação em Buenos Aires, Ariel — e, por conseguinte, o espectador — são imersos em um devaneio pelo superpopuloso bairro Once. Predominantemente com o uso de câmera na mão, reproduzindo os passos do personagem, a cinematografia de “O Décimo Homem” raramente focaliza planos estáticos. O filme imprime movimento do início ao fim e opta por uma fotografia simples, embora bem construída.

A medida em que Ariel vai se deslocando pelo bairro, reencontra-se com a tradição judaica, que, ao que tudo indica, parece ter sido arrefecida enquanto esteve em Nova York, longe da família. São inúmeras as referências ao judaísmo, explorando o seu simbolismo, ritos e tradição.

Ariel, sempre na esperança de encontrar o pai, acaba envolvendo-se com o centro de caridades administrado pela família. São judeus ortodoxos, que o condiciona a conviver com as várias liturgias da religião.

Com baixo orçamento, o cineasta argentino Daniel Burman tinha às mãos um roteiro e uma câmera. Contudo, o trivial foi suficiente para comprovar que, com enredo bem amarrado, conhecimento técnico e talento, o cinema, ainda que simples, pode ser genial. Uma lição aos brasileiros.

Em cartaz no Pátio Savassi, Cineart Ponteio e no Belas Artes, vale a ida ao cinema.

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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