O futebol é indissociável. O futebol é o povo.

Foto: Renato Stockler (Exposição “Terrão de cima”)

Há um tempo discute-se a problemática “Futebol Moderno”. Falar de Futebol Moderno é falar de regras impostas por uma Federação alheia ao povo. É falar de proibição: Proibição de sinalizadores (mesmo os que só acendem), proibição de assistir o jogo em pé, de brincar com o adversário, de “chapéu pra trás”, e dribles que só quem é menino dá conta!

Futebol moderno é ainda: chuteira colorida, perda de espontaneidade, lógica de mercado, de marketing, elitização do futebol, de expulsão das Gerais, de ingresso caríssimo e de jogo às 22hs. Futebol moderno é aquilo que tratora a dinâmica das cidades, junto com Megaeventos que de legado só deixa: Gentrificação, desmonte de cultura popular, despejos forçados e impactos reais em quem de fato protagoniza o futebol: A torcida, os moradores, as cidades!

Quem propõe o Futebol Moderno faz o discurso “Fair Play” pela boca, e “Unfair Player” na prática. Noutras palavras: Estabelece-se um roteiro de práticas de jogo e práticas econômicas, que teoricamente existem para “organizar positivamente” o futebol, e no entanto coloca-se para gerir o roteiro, entidades demagogas e corruptas.

O futebol moderno é fruto de uma cúpula poderosa que gere, mas que despreza pessoas, culturas e organização popular.

Talvez Blatters, Teixeiras e outros sanguessugas não saibam, mas não existe uma ocupação urbana (espontânea ou organizada) que surja em torno de um campinho e que invada o campo. Já repararam? Campo de futebol é sagrado. É lá no terrão que se darão as dinâmicas diárias. É lá que o moleque cai e levanta. É a Dona Maria que cura depressão fazendo suco pra meninada. É a outra senhora que lava os uniformes e tem permissão pra dar bronca na criança até a fase adulta. Terrão é torcida, é briga, é emoção, choro e riso… Solidariedade.

Foto: Renato Stockler
Foto: Renato Stockler (Exposição “Terrão de cima”)

Terrão pode ser campo, pode ser rua, até viela, só não pode deixar de existir. E o jogo só interrompe se passar um sofá no meio, uma mudança de alguém. Todo mundo para e ajuda. Aqui, no Alemão, no Vale das Pedrinhas, em Guiné Bissau, na Argentina:

Futebol não é ópio. E terrão molda caráter.

Coréia x O Beco - Vale das Pedrinhas, Salvador- BA.
Coréia x O Beco – Vale das Pedrinhas, Salvador- BA.

Trazendo a pauta especificamente para o Brasil, pode-se comparar o Futebol Moderno também ao modus operandi da política institucionalizada. Essa que teve e tem espaço para se ressignificar nas ruas, mas que, também, passa pela mesma crise: O distanciamento do povo.

Ambos não se atentam para o óbvio. O futebol, assim como a política, não é objeto de barganha de uma cúpula, o futebol e a política são do Povo, porque o futebol e a política são o povo. Indissociáveis.

Que cada dia mais se entenda o quão dono dessas dinâmicas nós somos. Que tomemos para nós o protagonismo. Que venham nossos meninos no futebol e na política, para um mundo com mais Pelés e menos Edsons – se é que me entendem!

Luara Colpa é brasileira, tem 28 anos. É mulher em um país patriarcal e oligárquico. Feminista e militante por conseguinte. Estuda Direito do Trabalhador e o que sente, escreve. 

Luara Colpa

Luara Colpa é brasileira, colunista no Bhaz e na Carta Capital via Blog Negro Belchior. É mulher em um país patriarcal e oligárquico. Feminista e militante por conseguinte. Estuda Direito do Trabalhador e o que sente, escreve.

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