Laçam-me. À mim e os meus
Botam-me novamente no tronco
Alugam-me e definem sobre mim todas as regras
Sou escravo alugado
Meu aluguel é simples:
Trabalho temporário estendido a nove meses e depois me descartam
Contratam outro
um tal de “exército de reserva” se estabelece nesse rodízio
Estamos todos à disposição.
Somos mais de 60 milhões precarizados ¹
Recebemos 40% a menos pelo mesmo serviço que empresas matrizes ofereciam
Trabalhamos 3 horas por semana a mais
A cada 10 acidentes com sequela, 8 nos afetam
A cada 5 acidentes com morte, 4 somos nós
Não temos alimentação, nem vale transporte
Empurram-me à informalidade (enquanto as grandes empresas não precisam passar por taxação de grandes impostos e dividendos. E os latifúndios seguem basicamente sem taxação tributária ou limitação de propriedade e exploração).
Alguns Órgãos Internacionais já cobram explicações sobre os trabalhadores escravos do meu país, mas o país nada faz.
Terceirizaram-me. Sou escravo alugado.
Alugam não só a minha força de trabalho, mas o meu futuro. (Por que motivo irei discutir minha Previdência se sequer carteira assinada tenho direito?)
Com todos os recortes que quiserem me colocar: Mulher, homem, negro, trans, cis, vegetariano, “coxinha”, “mortadela”, “petralha”, “pós moderno”, “anarco”… dêem os “sub-nomes” que quiserem: no fim, somos todos escravos.
Precisamos apenas decidir se nos curvaremos à função de Capitão do Mato, ou se nos juntaremos às trincheiras de Resistência.
Sem dispersar. Pois terceirizaram-me. E Terceirizaram-te também, amigo.
¹ (sem nenhum direito garantido, sem décimo terceiro, férias, FGTS e horas extras.)
Luara Colpa é brasileira, colunista no Bhaz e na Carta Capital via Blog Negro Belchior. É mulher em um país patriarcal e oligárquico. Feminista e militante por conseguinte. Estuda Direito do Trabalhador e o que sente, escreve.