Mineiro não perde o trem: o primeiro edifício projetado em BH foi uma estação ferroviária

Mineiro não perde o trem: o primeiro edifício projetado em BH foi uma estação ferroviária

08/05/2025 às 08h54 - Atualizado em 12/05/2025 às 09h40
primeiro Edificio BH
Trem junto à Estação Ferroviária General Carneiro, por volta de 1910. (Crédito: Wikimedia Commons).

Relembrar a antiga Estação Ferroviária General Carneiro, inicialmente conhecida como Estação de Entroncamento, significa resgatar o marco inaugural da história da arquitetura de Belo Horizonte – cidade erguida sobre o antigo arraial do Curral del Rei. Essa estação assinalou dois feitos memoráveis na construção da nova capital, no final do século XIX: foi o primeiro edifício a ser projetado em seu território e contou com a assinatura daquele que é considerado o nosso primeiro arquiteto.

Em 1894, o pernambucano José de Magalhães – chefe da seção de arquitetura da Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC) – foi o responsável pela elaboração do projeto arquitetônico da belíssima Estação General Carneiro, nos arredores da histórica Sabará. O edifício, que utilizava uma primorosa estrutura metálica importada da Europa e apresentava uma inusitada forma triangular, coroada por uma elegante cúpula, tornou-se um exemplar inigualável da chamada arquitetura do ferro no Brasil.

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O caráter extraordinário da edificação foi destacado por outro pioneiro da nova capital, o arquiteto e escritor lisboeta Alfredo Camarate – colaborador do jornal Minas Gerais –, que foi o autor, ao longo de 1894, das primeiras crônicas sobre a cidade em formação e de valiosas reflexões sobre arquitetura. Em agosto daquele ano, Camarate não poupou elogios ao projeto do colega em sua coluna no Minas Gerais, na qual escreveu:

O local escolhido para estação […] tem a forma de um triângulo curvilíneo e, aceitando o terreno tal qual era, o Dr. José de Magalhães estabeleceu também sobre uma planta triangular todo o edifício que, por entre muitas outras qualidades arquitetônicas, tem a de ser de um aspecto absolutamente novo e original.

A elogiada construção – iniciada em 1895 e integrada à Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB), uma das principais malhas ferroviárias do país à época – era o ponto de chegada, em Sabará, dos trens que partiam do Rio de Janeiro. Dali, as composições seguiam para a estação do centro de Belo Horizonte, que viria a ser erguida logo depois na Praça Rui Barbosa. Vale lembrar que o terreno da Estação General Carneiro, situado nas proximidades do encontro do Ribeirão Arrudas com o Rio das Velhas, foi desmembrado de Sabará em 1894 para a construção da nova capital mineira.

Vista panorâmica da Estação Ferroviária General Carneiro, foto de 1896.
(Crédito: Acervo da CCNC/Arquivo Público Mineiro).

Além de romper com a estética e as técnicas construtivas coloniais que predominavam no casario e nas igrejas de Sabará e do antigo Curral del Rei, a estação deu passagem a praticamente tudo que foi necessário à construção da primeira capital planejada do Brasil republicano. Por ela, passaram os materiais importados e equipamentos, assim como muitos dos seus construtores, arquitetos, engenheiros e operários.

General Carneiro, que foi um símbolo de modernidade arquitetônica e construtiva, operou por mais de sessenta anos e, infelizmente, no início dos anos 1960, já em péssimo estado de conservação, foi demolida por ter sido considerada ineficiente pela Central do Brasil. Em seu lugar, nada foi construído que pudesse resgatar o esplendor da antiga estação, cujo terreno, desde 1938, havia retornado aos domínios da majestosa Sabará – cidade “mãe” da nossa querida Belo Horizonte.

Editado por: Ulisses Morato

Ulisses Morato

Ulisses Morato é doutor em arquitetura pela Universidade de Lisboa, especialista em construção civil pela UFMG e arquiteto pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. Atuou na diretoria do Instituto de Arquitetos do Brasil e no Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte. É professor de pós-graduação na PUC Minas, editor da página Arquitetos de Belo Horizonte e gestor da Cultura Arquitetônica, dedicada a serviços e eventos na área do patrimônio edificado.

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Email: [email protected]

Ulisses Morato é doutor em arquitetura pela Universidade de Lisboa, especialista em construção civil pela UFMG e arquiteto pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix. Atuou na diretoria do Instituto de Arquitetos do Brasil e no Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte. É professor de pós-graduação na PUC Minas, editor da página Arquitetos de Belo Horizonte e gestor da Cultura Arquitetônica, dedicada a serviços e eventos na área do patrimônio edificado.

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