À deriva, Bolsonaro perde mais um ministro com o circo pegando fogo à sua volta

bolsonaro teich perde ministro
Como Moro, Teich pede demissão contra interferências de Bolsonaro (Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Em mais uma sexta-feira, a terceira da série, o governo Bolsonaro perde mais um ministro neste 15 de maio. Neste ano, já foram três, dos quais dois na saúde, Luiz Henrique Mandetta e, agora, Nelson Teich, diante da maior crise sanitária do país que já matou 14 mil brasileiros. Em duas sextas consecutivas, 17 e 24 de abril, caíram os dois ministros mais populares do governo. Quando saíram, Mandetta e Sérgio Moro (da Justiça) tinham aprovação de gestão de mais de 70% contra apenas do 30% do chefe.

Os últimos dois, Moro e Teich, não deram a Bolsonaro o prazer e a satisfação de serem fritados. Pediram demissão antes. Moro caiu atirando, expondo os desmandos do presidente, de fazer uso político do Estado, no caso a Polícia Federal, em defesa de seus filhos e amigos, como ele próprio admitiu. Nelson Teich discordou das ordens do presidente e, no mesmo ato, pediu demissão.

Saúde vira maior problema por omissão

Por mais que ignore a gravidade da pandemia do coronavírus, a área da saúde é a mais vulnerável do governo. Além de ignorar as ameaças da Covid-19, Bolsonaro quer interferir politicamente na condução do combate à pandemia. Desde Mandetta, é contra o isolamento social (horizontal) e fechamento do comércio e a favor do uso da cloroquina, medicamento não recomendado pela comunidade científica nem de eficiência comprovada.

+ 47% dizem ter alguém na família que se arrependeu de ter votado em Bolsonaro

Em vez de cobrar do ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente exige do ministro da Saúde solução para os problemas econômicos. Não quer que a saúde atrapalhe a atividade econômica. Fora daí, por orquestração do presidente, o governo vai pegando fogo por conta de outras interferências políticas dele, em especial na Polícia Federal.

O que disse Teich na saída:

“A vida é feita de escolhas. E hoje eu escolhi sair. Digo a vocês que eu dei o melhor de mim nesses dias que eu estive aqui nesse período. Não é uma coisa simples estar à frente de 1 ministério como esse num período tão difícil.

Agradeço ao meu time que sempre esteve ao meu lado. Sempre. Esse é o trabalho de 1 grande time. Conduzir a saúde é o trabalho de muita gente e de 1 grande time. E eu tenho aqui a honra e o prazer de ter estado ao lado dessas pessoas que como eu, repito, sempre estiveram do meu lado, sempre me apoiaram e sempre trabalharam intensamente por este país.

A missão da saúde, ela é tripartite. Então, a gente envolve Ministério da Saúde, o Conass, o Conasems, os secretários estaduais e municipais. E isso é importante deixar claro. O Ministério da Saúde vê isso como algo absolutamente verdadeiro e essencial para conduzir a saúde desse país tanto na parte estratégica quanto na parte de execução. Esse é 1 momento em que 1 país inteiro luta pela saúde do Brasil, mas aqui eu realço a participação do ministério, do Conass e do Conasems.

‘Traçamos plano estratégico’

Traçamos aqui 1 plano estratégico que foi iniciado, as ações foram iniciadas, e que ele deve ser seguido. É importante lembrar que durante esse período a gente tem 1 foco total na covid, mas a gente tem que lembrar que tem todo 1 sistema que envolve várias outras doenças, toda uma população para ser cuidada. Então, em todo o tempo que a gente trabalhou, que trabalha e trabalhou para solucionar e passar por esse momento da covid, todo o sistema é pensado em paralelo.

Nesse período, a gente auxilia estados e municípios a passar por essas dificuldades. Habilitação de leitos foram quase 40 mil, são as EPI´s, são os respiradores, são os recursos humanos. Isso acontece num momento de grande crise mundial, tanto dos insumos quanto dos equipamentos e dos EPI´s. É uma luta diária, é uma luta intensa para que a gente consiga entregar e auxiliar estados e municípios a passar por isso.

E quando a gente fala estados e municípios, a gente está falando dos pacientes e das pessoas. Deixo 1 plano de trabalho, 1 plano pronto, para auxiliar os secretários estaduais, secretários municipais, prefeitos e governadores a tentar entender o que está acontecendo e definir próximos passos. Aqui a gente entrega quais são os pontos que têm que ser avaliados, quais são os itens que são críticos, que se hoje a gente não consegue que precisam ser encontrados, e auxiliando o entendimento do momento e da tomada de decisão.

‘Testagem pronto para ser aplicada’

Foi construído 1 programa de testagem que está pronto para ser implementado. Isso vai ser importante para que a gente entenda a situação da covid no Brasil e a sua evolução. Isso também é fundamental para que a gente defina estratégias e ações.

A gente iniciou as visitas nas cidades mais atingidas e isso foi fundamental. Que é fundamental você estar na ponta, foi fundamental para gente estar com essas pessoas, entender o que acontece no dia a dia, ver o que está sendo feito, entender melhor o que acontece na ponta. Esse entendimento foi fundamental para o desenho de ações que foram implementadas em seguida. E isso é uma preparação para ir em outros lugares, em outras cidades. E cada cidade que a gente vai, a gente está melhor preparado para enfrentar o desafio.

Aqui eu agradeço aos profissionais de saúde mais uma vez. Quando você vai na ponta que você vê como é que é o dia a dia dessas pessoas. Você se impressiona. A dedicação dessas pessoas, correndo risco, o tempo todo ao lado dos pacientes e das pessoas, é uma coisa realmente espetacular.

‘Faltava o SUS na minha vida’

Eu agradeço ao presidente Jair Bolsonaro a oportunidade que meu deu de ter feito parte do Ministério da Saúde. Isso era uma coisa muito importante para mim. Seria muito ruim na minha carreira não ter tido a oportunidade de atuar no ministério pelo SUS. Eu escrevi uma vez que eu sou uma pessoa formada, eu nasci graças ao serviço público, sempre estudei em escola pública, minha faculdade foi pública, minhas residências foram em hospitais federais. Eu fui criado pelo sistema público.

E o mais importante de tudo é o seguinte. Eu quero fechar isso para vocês. Eu não aceitei o convite pelo cargo. Eu aceitei porque eu achava que eu podia ajudar o Brasil e ajudar as pessoas.

Obrigado. Quero dizer que é uma honra estar aqui com essas pessoas todas aqui que estiveram do meu lado o tempo todo. É espetacular”.

Orion Teixeira[email protected]

Jornalista político, Orion Teixeira recorre à sua experiência, que inclui seis eleições presidenciais, seis estaduais e seis eleições municipais, e à cobertura do dia a dia para contar o que pensam e fazem os políticos, como agem, por que e pra quem.

É também autor do blog que leva seu nome (www.blogdoorion.com.br), comentarista político da TV Band Minas e da rádio Band News BH e apresentador do programa Pensamento Jurídico das TVs Justiça e Comunitária.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!