A mudança de rota: Rumo a 2022

coluna colunista

Liberdade econômica, valorização do empreendedorismo e redução de impostos; integridade na administração pública e uma práxis política orientada pelo interesse nacional.

Se abstrairmos a imagem do candidato, não há como negar que as propostas apresentadas pelo atual presidente nas últimas eleições eram sedutoras. O eleitorado realmente já estava cansado dos escândalos de corrupção e dos conchavos políticos em todas as esferas do poder.

Um liberal de ocasião

É claro que qualquer análise mais profunda evidenciaria a inexequibilidade dessas propostas: Bolsonaro era um liberal “de ocasião”, por assim dizer. Nunca, em sua longa trajetória política, revelou-se particularmente interessado na redução do estado; antes pelo contrário. O combate à corrupção não se resolve em uma canetada: Exige uma mudança cultural que levará anos até ser efetivamente implantada. E a política, por definição, é a arte de governar, de convencer, de fazer acordos, de construir pontes, sempre em busca do bem comum. Em nenhum país há governabilidade quando não existe uma base parlamentar que apoie e sustente o presidente.

Mesmo diante de todas essas evidências, a proposta de Bolsonaro vingou. E, vamos convir, a oposição contribuiu  tanto quanto pode para essa vitória.

Os equívocos da oposição

Enfatuada com os avanços que obtivera com a implementação de políticas sociais, a esquerda não percebeu que seu envolvimento nos escândalos de corrupção, aliado à profunda recessão econômica,  tisnara sua imagem junto à classe média.

A rejeição demonstrada ao longo do Governo Dilma não era uma reação irracional da classe média ao avanço das políticas sociais. Não era uma revolta contra a transformação dos aeroportos em rodoviárias, não era uma revanche pelo fato do filho da doméstica estar na universidade.

Essa análise equivocada permitiu que, durante a eleição, o PT desse protagonismo às estrelas do partido, mesmo àquelas conspurcadas pelas denúncias de corrupção, dando nitidamente a impressão de que não haveria qualquer mudança de postura caso vencesse as eleições. Afinal, os quadros seriam os mesmos…

Além disso, insistiu em lançar o nome de Lula como o seu candidato à presidência, mesmo sabendo que ele não poderia concorrer, e de manter o seu protagonismo na esquerda.

De fato, a oposição facilitou o que pode a vitória do candidato que tivera dificuldades até mesmo para encontrar alguém que se arriscasse a compor a sua chapa.

Nesse contexto, a pauta conservadora não foi o elemento decisivo na eleição. A defesa da família, dos valores cristãos, do politicamente incorreto serviu para fortalecer a sua imagem junto ao eleitorado conservador e neopentecostal, mas ele já teria esses votos de qualquer forma…

Um início titubeante

Nos primeiros 20 meses do governo, ficou claro que Bolsonaro não estava muito empenhado na defesa de suas bandeiras.

Esquivou-se o quanto pode da Reforma da Previdência. Não assumiu qualquer protagonismo nos processos de privatização e relutou em apoiar inúmeras medidas propostas por Paulo Guedes, um dos fiadores de sua candidatura junto à elite financeira brasileira.

Viu-se enredado em confusas e ainda não explicadas histórias de corrupção envolvendo um de seus filhos, um senador da República. A alegada tentativa de interferir na gestão da Polícia Federal para a proteção de seu núcleo familiar levou à saída de um superministro, Sérgio Moro, que se destacou – por bem ou por mal – no combate à corrupção no país.

Enfim, a composição com o Centrão e a distribuição de cargos e recursos públicos em troca de apoio político o aproximou da tão criticada “velha política”, deixando claro que Bolsonaro não estava disposto a correr o risco de sofrer um impeachment por considerações éticas…

Um outro rumo…

Com as últimas pesquisas, parece que o Planalto realmente irá mudar de rumo. E será uma mudança significativa. A pauta liberal já foi posta de lado. Houve uma debandada no Ministério da Economia, a qual, em breve, deverá incluir o próprio Guedes.

O presidente viu que a distribuição de recursos públicos à população de baixa renda traz dividendos políticos, muito mais do que uma política de contenção de gastos. Mais do que rapidamente, tratou de rascunhar o Renda Brasil, programa social mais robusto do que o Bolsa Família.

Com esse programa, pretende obter os votos de grande parte do eleitorado do PT, desidratando a esquerda. A sua aposta é de que os eleitores mais pobres votam orientados mais por critérios econômicos do que ideológicos.

A mudança de rota tem um objetivo claro: pavimentar o caminho para as eleições de 2002. Bolsonaro sabe que a esquerda terá um representante no segundo turno, e quer os seus votos. Ele também sabe que não perderá o apoio da elite industrial e financeira do país; afinal, ele continuará sendo o que tem melhores condições de derrotar qualquer outro candidato do centro ou da direita.

Então, não estranhe a mudança de tom de Bolsonaro, o silêncio de seus filhos e o abandono das propostas que lhe garantiram a vitória. Ele já está com os olhos em 2022.  Mas a esquerda continua discutindo o golpe…

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior[email protected]

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito civil, professor universitário, Diretor Científico da ABDC – Academia Brasileira de Direito Civil e associado ao IAMG – Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Foi presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG. Apresentador do podcast “O direito ao Avesso”.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!