A cada dia que se passa, o machismo estrutural é mais visível no país.
Há poucos dias, os ministros do Supremo Tribunal Federal, a mais alta Corte de Justiça, o guardião da Constituição, admitiram a legítima defesa da honra para livrar da cadeia o homem que esfaqueou a sua antiga companheira.
Escancarando sua visão enviesada da justiça, decidiram que se o tribunal do júri havia entendido que o homem pode matar a mulher porque não admite que ela tenha outro relacionamento, quem seriam eles – simples ministros – para irem contra esse veredicto…
Fora Bolsonaro
Também há poucos dias, Carol Solberg, jogadora de vôlei de praia, foi censurada por ter manifestado publicamente a sua posição política.
Ora… Fosse um jogador de futebol, seria mais que admissível uma demonstração pública de apoio ao presidente. Mas uma mulher? Bradar “Fora Bolsonaro” em plena luz do dia? E em cadeia nacional? Vamos convir… Dela não se deve esperar consciência política…
Os atletas, por sua vez, podem se dar ao luxo de expor suas posições políticas e de destilar publicamente todo o seu machismo. Desde que, bem entendido, se trate de atletas do sexo masculino…
A normalização da violência
Caio Ribeiro, ex jogador de futebol e comentarista esportivo, torce pela absolvição do esportista condenado por violência sexual.
Bruno, o goleiro que cumpre pena pelo assassinato da mãe de seu próprio filho, pode participar da propaganda de um canil, como se sobre ele não pesasse a suspeita de ter jogado aos cães o corpo da mulher assassinada.
Mesmo uma das mais tradicionais equipes de futebol brasileiras, o Santos Futebol Clube, contratou um jogador de futebol condenado a nove anos de prisão por estupro.
A Debandada dos Patrocinadores
Enquanto a indignação ficou limitada às redes sociais, a diretoria da equipe fez cara de paisagem. Talvez acreditando que o tempo se encarregaria de tirar o foco de sua nova contratação…
Foi necessário que se tornasse pública a transcrição das falas do jogador, nas quais ele admite ter abusado sexualmente, juntamente com vários amigos, de uma jovem inconsciente e alcoolizada, para que alguma medida fosse tomada.
Como cantou Caetano, a força da grana é que ergue e destrói coisas belas. Foi a força da grana, ou melhor, o receio de perder milhões de reais em patrocínios, que levou à suspensão da contratação do jogador condenado por estupro.
Demitindo a vítima…
Para terminar a semana, uma das maiores empresas da área de tecnologia demonstrou como proteger a trabalhadora que, ao desempenhar suas atividades profissionais, foi vítima de assédio e discriminação: basta demiti-la.
Isadora Basile, apresentadora oficial do XBox Brasil, sofria ameaças desde que foi contratada para representar os consoles de jogos da Microsoft.
Para poupa-la das ameaças de estupro, morte, do assédio e da discriminação de gênero, a empresa simplesmente a mandou embora. Sem dúvidas, a “melhor” maneira de lidar com a situação…
Diante da crescente exposição de episódios que evidenciam a misoginia, o machismo estrutural e a cultura do estupro em nossa sociedade, o que mais desanima são as declarações públicas que tentam deslegitimar as reivindicações em prol das mulheres. E pensar que o que se pretende é apenas igualdade de direitos; imagine se as mulheres também quisessem vingança?