Guedes e o Pibinho

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Bolsonaro e Paulo Guedes (Valter Campanato/Agência Brasil)

Por Rodolpho Barreto Sampaio Júnior*

Não há dúvidas de que Paulo Guedes foi essencial para a eleição de Jair Bolsonaro. O candidato histriônico e fanfarrão conseguiu o apoio do grande capital justamente pela agenda econômica defendida pelo atual Ministro da Fazenda.

A sua proposta de reduzir o tamanho do Estado, de desburocratizar a administração e de diminuir os entraves para a atividade econômica foi música aos ouvidos do empresariado. Realmente era hora de “tirar o Estado do cangote” do empreendedor – afirmação um pouco contraditória, considerando-se as históricas práticas clientelistas do Estado brasileiro, que beneficiam com condições muito generosas exatamente os grandes empresários.

Assim, ignorou-se as posições que o então deputado, por quase trinta anos, havia defendido na Câmara. Tolerou-se o seu discurso tosco e bronco. Desconsiderou-se que os militares brasileiros jamais foram favoráveis à diminuição da presença do Estado na atividade econômica – diferentemente do que ocorrera no Chile. Preferiu-se apostar na utopia neoliberal de Paulo Guedes.

Aqueles que certamente apoiariam Henrique Meireles, que já havia demonstrando entender o funcionamento da economia brasileira, optaram pelo bolsonarismo, talvez movidos pela ideia de que apenas ele poderia vencer o segundo turno contra o PT.

Um ano após a nomeação do Superministro, a realidade mostrou-se distante dos sonhos pré-eleitorais. O PIB, que deveria ser o maior dos últimos anos, acabou ficando em 1,1%. As reservas cambiais foram reduzidas em 37 bilhões de dólares. A fuga do capital estrangeiro não encontra paralelos em nossa história recente e a cotação do dólar bate recordes diariamente. A Selic, que se encontra em seu mínimo histórico, tem sido considerada mais um indicativo da vulnerabilidade econômica do que de sua pujança. O desemprego e a informalidade continuam elevados. Em síntese: a economia não reagiu como se pretendia.

A proximidade das eleições municipais fez com que o presidente se mexesse. Sua preocupação, no momento, é justamente aumentar a sua base eleitoral, fundamental para consolidar seu projeto político para o pleito de 2020. A adesão a seu novo partido foi um retumbante fracasso, com pouco mais de 3 mil assinaturas válidas. Então, se a economia continuar patinando, não há dúvidas de que seu projeto eleitoral ficará ainda mais comprometido – a miséria, o desemprego e a fome não são exatamente bons cabos eleitorais.

Dessa forma, foi dado um ultimato a Guedes. Ele tem 6 meses para conseguir que a economia de sinais de recuperação. Será interessante observar o apego do Superministro a seu cargo. Irá abandonar suas convicções ideológicas e adotar políticas intervencionistas e desenvolvimentistas? Vai virar um adepto do capitalismo humanista? Ou vai preferir simplesmente abandonar o governo? Em igual dilema, o outro Superministro não teve dúvidas: colocou os escrúpulos de lado e mostrou sua verdadeira face; apoiou policiais amotinados e até mesmo bandas de punk de Belém ele resolveu perseguir…

A estratégia do presidente é compreensível em um político populista. Ele prefere sacrificar seu ministro a abrir mão das eleições. Até porque os ideais do ministro não são exatamente os dele. O único problema é que, ao colocar a cabeça de Guedes no cepo, Bolsonaro corre o sério risco de também perder a sua.


* Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito e professor universitário. Foi o primeiro presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG e é membro do Instituto dos Advogados de Minas Gerais.

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior[email protected]

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito civil, professor universitário, Diretor Científico da ABDC – Academia Brasileira de Direito Civil e associado ao IAMG – Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Foi presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG. Apresentador do podcast “O direito ao Avesso”.

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