O Barão do Rio Branco, o Águia de Haia e o Embaixador Intercambista

Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agencia Brasil

Por Rodolpho Barreto Sampaio Júnior*

Esta semana, o presidente confirmou a indicação de seu filho para a embaixada brasileira em Washington, e é de se esperar que as críticas, que surgiram assim que a ideia foi inicialmente ventilada, subam de tom.

Nepotismo, inexperiência e desconhecimento da língua inglesa são apresentados para se criticar a escolha. Falta de credenciais diplomáticas também; afinal, Eduardo não é exatamente um apaziguador… No entanto, é difícil imaginar que essas questões já não tivessem sido antecipadas, ponderadas e postas de lado. Aparentemente, não se trata de um arroubo irrefletido do presidente, externado involuntariamente em um dos seus inúmeros rompantes. Pelo contrário, tudo indica que se trata de um movimento muito bem pensado: o filho já acompanhara o pai em seu encontro com Trump, deu várias entrevistas nos EUA e seu nome foi anunciado no dia seguinte ao que completou 35 anos, idade mínima constitucionalmente exigida para se ocupar a embaixada – que estava vaga desde o mês de abril.

Tal qual em uma partida de xadrez, a indicação de Eduardo para embaixador em Washington foi uma jogada planejada – muito embora pareça pouco crível que algo no atual governo seja bem planejado…

A rigor, o cargo de embaixador não é exclusivamente técnico. Apesar de o Instituto Rio Branco formar diplomatas há mais de 70 anos, selecionando-os criteriosamente por meio de um dos concursos públicos mais concorridos e prestigiados do País, trata-se de uma indicação que pode, sim, ser política. Itamar Franco e José Aparecido de Oliveira, por exemplo, ocuparam a embaixada em Portugal. Nos dois casos, o aspecto político sobrepujou o técnico: acomodou-se aliados políticos em um posto respeitável. Não que se pretenda comparar suas credenciais e currículos com o experiência de Eduardo, que se limitou a “fritar hambúrgueres” durante um intercâmbio no Maine. Mas também não se pode negar que o cargo de embaixador continua a ser acessível para os amigos do rei.

A chancelaria nacional foi profundamente transformada pelo Barão do Rio Branco. Graças a ele, 900 mil quilômetros foram acrescidos ao território brasileiro, sem que fosse necessário o recurso às armas. Derrotou as pretensões de França, Argentina e Bolívia e credita-se a ele o surgimento de um novo padrão diplomático, profissional, que substituiu o modelo luso-brasileiro colonial, de corte clientelista, em que o cargo de embaixador, com o prestígio e as vantagens dele decorrentes, era um favor real. Entretanto, como já vimos, a embaixada não é privativa dos diplomatas de carreira, especialmente aquelas que integram o charmoso e concorrido Circuito Elizabeth Arden.

Então, qual o motivo do alvoroço com a indicação para a embaixada americana? Se o critério não é exclusivamente técnico, e a própria Constituição permite a indicação fora dos quadros diplomáticos, porque o presidente não poderia indicar seu próprio filho?

A resposta grita aos ouvidos: mais do que tudo, o que o presidente pretende é estreitar os laços com Trump, criando uma aliança cristã ultra conservadora, racista, xenófoba, misógina, homotransfóbica e avessa ao conhecimento científico. E, para costurar essa aliança, ninguém melhor que seu próprio filho. No entanto, essa pauta não mobiliza a sociedade brasileira. É um erro pretender que os 57 milhões de votos obtidos nas eleições seriam um endosso a essa “política”. E a recente queda nos índices de popularidade indica que apenas o núcleo duro do bolsonarismo aprova um governo cuja maior proposta é “mudar tudo isso que tá aí”.

A forte reação à desastrada indicação do filho do presidente para embaixador em Washington, mesmo por parte daqueles que apoiam o seu governo, pode ser entendida como uma resposta à pretensão de se criar essa aliança reacionária. Podemos até tolerar Olavo de Carvalho em nossas fronteiras. Mas daí a aceitarmos um embaixador que em plena Washington vocifera contra o “globalismo” e o “marxismo cultural” vai uma longa distância. Quem já teve Rui Barbosa, o Águia de Haia, como embaixador, não vai se conformar com o Intercambista.

* Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito e professor universitário.

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior[email protected]

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito civil, professor universitário, Diretor Científico da ABDC – Academia Brasileira de Direito Civil e associado ao IAMG – Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Foi presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG. Apresentador do podcast “O direito ao Avesso”.

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