Parasitas

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Coluna de Rodolpho Barreto Sampaio Júnior (Twitter/Reprodução + Amanda Dias/BHAZ)

Por Rodolpho Barreto Sampaio Júnior*

Apenas no ano de 2019, dezenas de policiais militares foram mortos. Diariamente, centenas de garis correm pelas ruas das cidades brasileiras, em sua incansável faina. Milhares de professores e servidores da educação lutam contra as mais adversas condições. Integrantes das forças armadas e agentes penitenciários se expõem ao risco a todo momento e a rotina dos bombeiros está longe de se resumir ao resgate de gatinhos em árvores, como bem evidenciaram aqueles que trabalharam em Brumadinho. Fiscais do trabalho, juízes e promotores já perderam sua vida em razão de seu comprometimento profissional e os médicos e profissionais da área da saúde se esforçam para salvar vidas em hospitais mal aparelhados e lotados de pacientes.

É impossível elencar todos os servidores e as incontáveis funções por eles exercidas, responsáveis pela máquina burocrática que permite o funcionamento do País. Mas isso não importa para o ministro da fazenda: são todos parasitas.

Parasitas que, nos devaneios ministeriais, mamam nas gordas tetas do estado, se aposentam cedo e com vencimentos integrais, não trabalham e não são produtivos. Pertenceriam a uma elite que se beneficia dos impostos pagos pelo restante da população brasileira, fazendo mal e porcamente o seu trabalho.

É claro que o mago da economia, que ainda não mostrou a que veio, pediu desculpas. Como sempre, disse que foi mal interpretado, que suas palavras foram tiradas do contexto. O procedimento padrão. Só faltou dizer: se alguém se sentiu ofendido, as minhas desculpas… Afinal, é quase impossível, nesse governo, alguém reconhecer o próprio erro. O ENEM foi sabotado, o secretário da cultura foi ludibriado por seus assessores, a floresta foi incendiado pelo artista de Hollywood e os soldados do exército fuzilaram uma família com 80 tiros porque o motorista cometeu a imprudência de utilizar um veículo que poderia parecer com o que teria sido utilizado por criminosos.

A desculpa furada, no entanto, não enganou ninguém. É claro que a matilha virtual até tentou defender o ministro. Disse que ele se referia à elite dos servidores, mais bem remunerada e que ocupa cargos de maior prestígio. Mas nem essa investida foi bem sucedida. Afinal, desde o início do governo já ficou claro que a atual gestão não tem maior apreço pelos servidores públicos.

Começou expurgando aqueles que se opuseram à candidatura do atual presidente, substituindo os que não podiam ser exonerados por outros menos qualificados, sucateando as estruturas administrativas e desestruturando ministérios. Depois, agravou sua situação com a reforma da previdência e, agora, prepara-se para o golpe final: acabar com a estabilidade, permitir a demissão e a redução salarial – mas sem incluir os servidores do judiciário e do legislativo, óbvio!

Esse último passo exige o apoio da opinião pública; não necessariamente o seu engajamento, mas a sua indiferença já estaria de bom tamanho. E para testar seus limites, o ministro se vale de palavras fortes: os parasitas estariam matando o hospedeiro. Indiferentes à realidade nacional, sugariam os recursos públicos até que não restasse pedra sobre pedra.

A forte reação, mesmo dos servidores públicos que votaram no presidente, levou o ministro a dar um passo atrás, mas certamente não o demoveram. Ele não abandonou seu projeto de pauperização do servidor público; simplesmente recuou, aguardando o momento de voltar à carga.

Considerando a realidade enfrentada pelos servidores, que em vários estados e municípios sequer recebem a sua remuneração em dia, e considerando a divulgação de que os maiores bancos privados tiveram um resultado líquido recorde de quase 60 bilhões de reais em 2019, seria interessante perguntar ao ministro quem são os verdadeiros parasitas.

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior[email protected]

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito civil, professor universitário, Diretor Científico da ABDC – Academia Brasileira de Direito Civil e associado ao IAMG – Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Foi presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG. Apresentador do podcast “O direito ao Avesso”.

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