Quem com porcos anda…

Marcelo Camargo/Agência Brasil + Reprodução/Twitter

Por Rodolpho Barreto Sampaio Júnior*

No transcorrer da entrevista coletiva que possivelmente foi a mais rápida de toda a história, o presidente – novamente – agride uma repórter, tachando de idiota uma pergunta que lhe foi dirigida. Alguns dias antes já extrapolara todos os limites ao utilizar pejorativamente as palavras “paraíba” e “pau de arara” para se referir aos nordestinos. E, no último final de semana, ofendeu verbalmente um deputado federal e o seu marido, chamando-os de malandros. Em menos de dez dias, apresenta novamente sua verdadeira face: intolerante, misógino, preconceituoso, racista e homofóbico.

Do presidente se espera que preserve a dignidade do cargo; afinal, ele é o representante maior da nação. Pode até não ser exatamente um estadista, mas deve manter o decoro e a compostura que se exigem do ocupante do mais alto posto da República.

Não que o presidente esteja especialmente preocupado com a liturgia do cargo. Desde os tempos em que integrava o baixo clero do Congresso, já era conhecido por seu destempero verbal. E, detalhe importante: ele nunca se arrependeu ou se desculpou voluntariamente por qualquer uma de suas várias ofensas. Ao contrário, sempre foram um de seus principais trunfos políticos.

Por isso mesmo, não causa muita surpresa a constatação de que se utiliza da agressão como um instrumento para governar. Também não causa surpresa que a incontinência verbal esteja presente no discurso de vários de seus ministros: Damares se compraz agredindo as feministas e atribuindo às garotas da Ilha do Marajó a responsabilidade por serem estupradas, já que não usariam calcinhas – afinal, a culpa é sempre da mulher; Paulo Guedes chama de vagabundos os oposicionistas e os jornalistas envolvidos na Vaza Jato; Ricardo Salles desce ao nível mais baixo ao se referir aos petistas que fariam propaganda de certa marca de veículos ao serem levados “no chiqueirinho das viaturas da Polícia Federal”; Abraham Weintraub vocifera contra professores e estudantes e Ernesto Araújo prossegue em sua cruzada quixotesca contra o globalismo, o marxismo cultural, o racialismo, o climatismo, dentre outros devaneios que florescem tão facilmente na extrema-direita.

Aparentemente, não se preocupam com os efeitos ou o impacto de suas palavras. Não importa que um jogador seja chamado de paraíba após uma partida de futebol, não importa que se perpetue a cultura do estupro, não importa que se esboroem as relações de ensino. Não importa que se acentue a polarização na sociedade e que as relações sociais estejam a cada dia mais tóxicas. O que importa é manter aceso o espírito que assegurou a vitória nas eleições de outubro. É para esse público que o presidente e seu entourage falam, e esse público está disposto a normalizar quaisquer declarações.

Será que o público que aplaudiu e bradou “mito” quando o presidente se recusou a responder a uma pergunta que considerava idiota tolera de seus filhos esse comportamento? Será que os empresários que aplaudiram o ministro que chamou de vagabundos os oposicionistas ensinam seus filhos a falar nesses termos? Certamente não. Mas, paradoxalmente, endossam esse comportamento quando proveniente justamente daqueles que ocupam os mais altos cargos públicos, desde que direcionado aos que estão no outro polo do espectro político.

Nesse contexto, fica claro que o presidente nunca tomou para si a missão de governar para todos. E se cercou de auxiliares – ministros e congressistas – que seguem precisamente os seus passos e que falam para um público específico. Afinal, quem com porcos anda, farelo come.

* Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é professor na PUC Minas e doutor em direito.

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior[email protected]

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito civil, professor universitário, Diretor Científico da ABDC – Academia Brasileira de Direito Civil e associado ao IAMG – Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Foi presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG. Apresentador do podcast “O direito ao Avesso”.

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