Só a ciência salva – que esse seja o mantra do novo Ministro da Saúde

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Equador entrou colapso e ruas vazias em Nova Iorque (RT Play/Reprodução + @GreatAli5/Twitter/Reprodução)
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Nos Estados Unidos, o Covid-19, em pouco mais de um mês, já matou mais de trinta mil pessoas, o que equivale a quatro vezes o número de soldados americanos mortos nas guerras do Afeganistão, Iraque e Golfo – somadas. Pelas projeções que têm sido feitas, estima-se que em pouco tempo o coronavírus ceifará mais vidas americanas que a Guerra da Coréia, com 36.574 baixas.

No mundo inteiro, já são mais de dois milhões de pessoas contaminadas, milhares de mortos e o distanciamento social foi adotado mesmo naqueles países que inicialmente insistiam em negar a utilidade dessa medida. Boris Johnson, o Primeiro-ministro do Reino Unido, simboliza o destino daqueles que negam a ciência: defensor da tese do isolamento seletivo, foi infectado e teve que ser recolhido à UTI. Nada como um dia após o outro…

Enquanto, mundo afora, governantes rendiam-se às evidências científicas, o presidente brasileiro insistia – e insiste – em trilhar o caminho oposto. Não fossem prefeitos e governadores determinarem, no exercício de suas competências, o fechamento do comércio não essencial, certamente a situação no Brasil hoje estaria pior do que se encontra – afinal, não há motivos para se acreditar que o País seria o único no mundo a ser poupado pelo vírus.

Infelizmente, o relativo sucesso do isolamento social é a causa de seu descrédito. Como o quadro não se agravou como o imaginado, com cenas de corpos abandonados nas ruas e de hospitais sobrecarregados nos principais telejornais, as pessoas deixaram de acreditar na letalidade do vírus e, paulatinamente, vão deixando suas casas. Algumas prefeituras reabriram o comércio e em alguns estados estuda-se a possibilidade de autorizar-se a relativização do isolamento em certos municípios.

Se nos basearmos nas evidências científicas, isso é tudo o que não deveria ser feito. Pelo contrário, essa é justamente a hora em que todos deveriam se recolher. No momento em que o governo federal disponibilizou centenas de bilhões de reais para auxiliar a sociedade no período de recolhimento, não faz nenhum sentido incentivar-se a população a voltar para as ruas. Pode-se presumir que o Tesouro não terá condições de arcar com um novo suporte financeiro caso o recrudescimento da pandemia force a sociedade a um novo período de isolamento, o que deveria reforçar a política que vinha sido adotada pelo Ministério da Saúde. No entanto, a recente exoneração de Mandetta evidencia que a racionalidade não é o ponto forte na composição do ministério.

Assim, se é verdade que só a ciência salva, como disse o Ministro Marcos Pontes ao anunciar um remédio promissor para o combate ao Covid-19, é hora de acabar com a falsa dicotomia saúde-economia. Não há como se recuperar a atividade econômica com as pessoas com medo de saírem às ruas, com os hospitais e necrotérios lotados e milhares de mortos. O caminho, o único até agora reconhecidamente eficaz, é evitar ao máximo a disseminação do novo vírus. Somente depois é que medidas econômicas poderão ser planejadas e implementas.

O que se espera, agora, é que o novo Ministro da Saúde se atenha às regras técnicas, se paute pelas informações disponíveis e siga os protocolos já estabelecidos. Não há saída fora da ciência: não há remédios milagrosos nem tempo para novos experimentos. O momento exige maturidade, seriedade e compromisso. Basta de caprichos, arroubos retóricos e voltinhas nas padarias.

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior[email protected]

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito civil, professor universitário, Diretor Científico da ABDC – Academia Brasileira de Direito Civil e associado ao IAMG – Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Foi presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG. Apresentador do podcast “O direito ao Avesso”.

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