Difícil não lembrar do Bitaca da Leste, um bar que fez história e deixou muita gente órfã após seu fechamento em Belo Horizonte.
O bar, localizado no bairro Santa Tereza, na zona leste da cidade, foi eleito o melhor boteco pela Revista Veja 2017/2018 e encerrou o seu funcionamento na capital em 2022. O prêmio foi reflexo de sua legião de fãs, conquistados por sua autenticidade, pela comida mineira bem feita com ingredientes tratados com cuidado e negociados diretamente com produtores locais e cooperativas, além de um ambiente acolhedor, que transbordava a mineiridade.
Após uma visita a Brasília — atual casa do Bitaca, que se transformou no Bitaca do Norte em referência à sua nova localização na cidade —, tive a oportunidade de conversar com Luiz Mairink , o criador e único proprietário do bar. Ele compartilhou detalhes sobre sua experiência no mercado brasiliense, o processo de adaptação e, claro, a saudade de Belo Horizonte.
De Belo Horizonte para Brasília
A pandemia de 2020 trouxe desafios ao Luiz Mairink, criador e proprietário do Bitaca, a tomar uma decisão difícil. “Tentamos o delivery, mas não encaixou bem. Tínhamos funcionários que moravam muito longe, havia dificuldades com transporte público… Foi prudente parar”, contou Luiz.
Esse período de pausa deu origem a um projeto social no Bitaca. Em parceria com um patrocinador, o Bitaca passou a comprar produtos de pequenos agricultores e cooperativas de BH para produção de marmitas que era distribuidas nas ruas da capital mineira. “Foram mais de 65 mil marmitas e 6 mil cestas básicas distribuídas em dois anos”, relembra Luiz. A iniciativa, além de ajudar pessoas necessitadas naquele momento, manteve a equipe de empregada, pagou contas básicas e sustentou o negócio durante o período crítico.
Enquanto gerenciavam o projeto, Luiz e sua companheira tomaram uma decisão que acabou mudando os rumos do Bitaca: aceitaram uma proposta de trabalho em Brasília e se mudaram com seus dois filhos. “Inicialmente, seriam dois anos, mas nos adaptamos bem à dinâmica da cidade. É mais seguro, mais verde, mais tranquilo”, explica Luiz. Essa adaptação deu origem ao Bitaca do Norte, lançada em setembro de 2022.
De Bitaca da Leste para Bitaca da Norte
Antes de abrir o bar, Luiz estudou o mercado brasiliense e percebeu que a cidade era um espaço aberto para novidades. “Brasília é cosmopolita, cheia de gente do Brasil e do mundo inteiro. A cidade precisava de lugares autênticos, com histórias para contar. Aqui, muitos bares tinham propostas genéricas, e eu sabia que o Bitaca tinha algo a oferecer”, destacou.
Com um espaço maior, capaz de receber até 80 pessoas, o dobro de BH, o Bitaca do Norte conseguiu inovar. “Em Brasília, temos mais espaço ao ar livre, algo que as pessoas gostam. Era uma vontade que eu tinha desde BH, onde o bar era pequeno”, conta Luiz. Mesmo com essas mudanças, o Bitaca manteve sua essência mineira: comida bem feita, valorização dos ingredientes locais e um ambiente acolhedor. Eu fui lá pessoalmente e posso confirmar, me senti acolhida pela mineiridade presente no bar.
A ponte entre dois mercados
Luiz vê o mercado de Brasília como promissor e positivo, mas admite sentir falta das conexões e inspirações que tinha em BH. “A troca com outros donos de bares era muito rica. Levei minha equipe a BH para conhecer o mercado, passamos por 14 bares em três dias, como o Bar do Zezé, Porca Voadora e Cozinha Tupis. Essas experiências são fundamentais.”O Bitaca também manteve sua essência mineira na capital federal. “Trouxemos referências como o Vale do Jequitinhonha e os azulejos típicos. Até a mesa coletiva de BH, onde tantas pessoas se conheceram, está aqui. É algo que carrega história”, contou Luiz .
O Bitaca completou 10 anos, e Luiz chamou alguns chefs e amigos de Belo Horizonte para uma festa em Brasília, que aconteceu em agosto deste ano, ao longo de cinco finais de semana consecutivos. Entre os convidados estavam o Xapuri, Mariana do Roça Grande, Vitor do Bar do Zezé e Bruna Rezende.
O Bitaca de volta a Belo Horizonte
Apesar do sucesso em Brasília, Luiz não esconde sua saudade de BH. “Sinto falta do dia a dia do bar, da cultura do boteco que é tão forte em Belo Horizonte. Também sinto falta dos produtores locais, mas estou aprendendo muito com os ingredientes do cerrado.”
Luiz soltou um spoiler após a pergunta: O Bitaca volta para a capital mineira? ‘Estou com uma pulguinha atrás da orelha. Quero muito trazer o Bitaca de volta para BH. Ainda não tenho uma data, mas estou me movimentando para que isso aconteça no próximo ano.”
Já podemos escolher a roupa?
Enquanto isso, Luiz celebra o carinho que recebe sempre que visita a capital mineira. “Depois de tanto tempo, ser lembrado pelas pessoas me enche de alegria. Isso me dá ainda mais vontade de voltar.”
Depois de conhecer o Bitaca do Norte e conversar com Luiz, um apaixonado por bares que valoriza sua equipe, as pessoas, produtores locais e tem orgulho de sua história, ficou claro que o Bitaca, seja no Leste ou no Norte, é muito mais do que um bar. Ele é uma celebração da cultura, das pessoas e das histórias que seguem sendo escritas, tanto em Belo Horizonte quanto em Brasília. Desejo vida longa ao Bitaca e estou ansiosa pelo retorno na nossa capital.
