Passamos por muitas portinhas de bares, ainda mais em Belo Horizonte. Alguns cruzamos no desespero, outros nem nos atentamos a olhar. A portinha da Rua Desembargador Barcelos, no Calafate, é um desses casos. Durante um ano, passei por ela, sempre com o mesmo pensamento: “Algum dia eu vou ali!”
Como apaixonada por tropeiro e por futebol, a placa “Tropeiro do Mineirão” sempre chamou minha atenção. Essa, definitivamente, não foi uma portinha que eu ignorei, apenas adiava a visita. Mas o desafio de postar um bar por dia me tirou da zona de conforto. E como é bom sair dela!
Ali, naquela portinha, conheci o Sr. Osvaldo!
Ele é uma mistura de simpatia, simplicidade, gargalhadas boas e fácil, muitas histórias e uma paixão pelo que faz. Com resiliência e dedicação, hoje ele consegue viver do que mais ama: vender o tropeiro do Mineirão.
Esse é o único prato do bar, mas não é qualquer tropeiro. É o mesmo que já serviu a grandes jogadores, como o craque do Atlético, Reinaldo, e tantos outras celebridades e apaixonados pelo futebol que fizeram do espaço um ponto de encontro. O Sr. Osvaldo fala disso com orgulho.
Apesar do assédio da mídia, ele afirma categoricamente que seus segredos culinários não serão compartilhados. E não é força de expressão: enquanto eu estava lá, vi com meus próprios olhos ele recusando entrevistas de grandes veículos de televisão. “Pode gravar ele pronto, fazendo não”, disse com um sorriso de quem sabe que o verdadeiro segredo está além dos ingredientes. Ele só me soltou um spoileer: o feijão não pode ser cozido no dia. Confesso que isso eu não sabia.
Atualmente, Sr. Osvaldo tem seu próprio ponto, mas por anos trabalhou com Dona Sônia no famoso tropeiro da Barraca 13 do Mineirão. Ele compartilha que foi com ela e sua mãe que aprendeu a reproduzir o clássico, com todo o cuidado, sabor e tradição que o prato merece.
Ele conta que, nos intervalos de trabalho no Mineirão, poderia assistir aos jogos. Perguntei qual era seu tempo, e ele, com um sorriso esperto, respondeu: “Sou de Minas.” Precavido, achou melhor não se comprometer, né? Afinal, essa neutralidade sábia faz do seu bar um ponto de encontro democrático. Ele até brinca que a parede é verde para celebrar que o espaço é de todos.
Aqui, o que importa não é a camisa que você veste, mas a nostalgia de comer um clássico tropeiro do Mineirão, com toda sua tradição: cerveja de garrafa no copo descartável, marmita com carne picadinha, molho de tomate no arroz, zoiudo (ovo) no ponto certo, couve, feijão tropeiro e uma boa prosa sobre futebol.
Comida com história é bom demais!