Comunidade quilombola pede ajuda para salvar terreiro ameaçado por desabamento na Grande BH

terreiro desabamento
Local pode sofrer com desabamento de casa vizinha (Reprodução/Manzo Kaiango/YouTube)

A Comunidade Quilombola Manzo Ngunzo Kaiango, de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, lançou a campanha “Manzo à Obra” para conseguir fundos para uma obra emergencial em um terreiro de Candomblé, que está ameaçado por risco de desabamento de um terreno ao lado.

Ao BHAZ, a líder do quilombo, Makota Kidoiale, afirma que o local é símbolo de resistência e precisa de ajuda urgente. “Para gente da população negra, o terreiro é uma herança cultural onde a gente dá continuidade às nossas tradições e culturas dos nossos antepassados. A nossa religião, e tantas outras de matriz africana, são verdadeiros museus vivos, onde estão as histórias dos povos africanos”, pontua.

Segundo a líder, o terreiro está situado em uma área de desvio da água da chuva, e é frequentemente atingido por deslizamentos de terra. Por isso a comunidade criou uma campanha para arrecadar fundos e iniciar as obras de emergência antes da chegada das chuvas.

Trecho interditado

A Defesa Civil de Santa Luzia esteve no local recentemente, interditou parte do espaço e alertou para a urgência da construção de um muro de contenção e de uma estrutura para desviar as águas da chuva e do esgoto que vêm do terreno vizinho e impactam o local.

Segundo o órgão, há o risco real de desabamento, devido a um deslizamento de terra que vem de um talude. A Defesa Civil informou também que a prefeitura agendou, para a próxima sexta-feira (13), uma reunião com integrantes da comunidade (leia abaixo).

“Os órgãos públicos exigem uma grande burocracia para a regularização das terras, que é uma das grandes lutas da população negra neste país. Nós já iniciamos os trâmites para atender essas burocracias, para que assim a prefeitura e o estado possam viabilizar recursos para nos atender. Mas é um processo longo, que não podemos esperar neste momento de urgência”, explicou Makota.

Como ajudar?

Inicialmente, a comunidade busca arrecadar 30 mil reais para as primeiras obras de urgência, que vão impedir temporariamente que as próximas chuvas não comprometam ainda mais o terreiro de Santa Luzia. Para isso, foi criada uma campanha de financiamento coletivo  que pode ser acessada neste link.

O Kilombo Manzo é uma referência não somente para o patrimônio afrodescendente da cidade de Belo Horizonte e região e sua luta por cidadania digna, mas também um espaço de importância social que atua na formação complementar de jovens residentes na região, notadamente um aglomerado de vilas e favelas. 

Patrimônio cultural imaterial

Declarada patrimônio cultural imaterial pelo Conselho Estadual de Patrimônio Cultural de Minas Gerais, a Comunidade Quilombola Manzo Ngunzo Kaiango foi fundada na década de 1970 pela matriarca Mametu Muiandê (Efigênia Maria da Conceição) que, embora tenha enfrentado muitas dificuldades, sempre criou todos seus filhos e apoiou os que chegavam até ela precisando de algum apoio físico ou espiritual.

Situada na periferia do Bairro Santa Efigênia, a comunidade é composta por moradores, ligados uns aos outros por laços de parentesco e amizade – tendo em consideração que muitos dos filhos foram acolhidos por Mãe Efigênia ao longo dos anos, tornando-se parte da família.

Além de oficinas, roda de capoeira e outras atividades que trabalham com o pertencimento afro na comunidade, o Manzo está presente nos espaços públicos representando a população negra periférica e quilombola nas lutas pela cidadania plena, por igualdade social, pelo combate ao racismo, machismo e LGBTfobia.

Nota da Defesa Civil de Santa Luzia na íntegra:

A Defesa Civil Municipal informa que há de fato o risco de desabamento no local, devido a um deslizamento de terra advindo de um talude. Em face disso, a Prefeitura de Santa Luzia, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo está acompanhando de perto a situação do local, tendo marcado para o próximo dia 13 uma reunião com integrantes do espaço.

Por se tratar de uma propriedade privada, o Município não pode financiar a obra por questões legais, porém, já existem consultas junto ao Ministério Público para estudar ações que podem ser tomadas para auxiliar diretamente. A definição dos próximos passos contará com a participação do IEPHA e de outras instituições pertinentes.

Edição: Giovanna Fávero
Jordânia Andrade[email protected]

Repórter do BHAZ desde outubro de 2020. Jornalista formada no UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) com passagens pelos veículos Sou BH, Alvorada FM e rádio Itatiaia. Atua em projetos com foco em política, diversidade e jornalismo comunitário.

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