Coordenador do MTST é assassinado por policial em ocupação; PM alega legítima defesa

Um coordenador do MTST-MG (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) morreu em uma ação da Polícia Militar, próximo à ocupação Fidel Castro, mantida pelo movimento, na cidade de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, na madrugada desta quinta-feira (5).

Segundo o MTST, Daniquel Oliveira dos Santos, de 40 anos, foi assassinado friamente com um tiro na nuca por um militar. No entanto, a PM (Polícia Militar) contraria a versão do movimento e alega que os militares atiraram após Daniquel apontar uma arma em direção aos policiais.

“Estão querendo criminalizar nosso movimento apontando que havia arma com Daniquel. O que é uma mentira. Até quando a polícia continuará nos perseguindo, perseguindo nossos militantes, até quando tamanha covardia com nossa luta?”, afirma o MTST em nota (confira na íntegra abaixo).

Ainda de acordo com o movimento, a vítima era responsável pela organização da ocupação que se mantém por mais de 3 anos. O MTST conta que Daniquel foi alvejado depois de subir em um poste perto de uma das casas.

De acordo com a ocorrência da PM, os policiais faziam uma operação na região da ocupação Fidel Castro, durante a madrugada, quando se depararam com três homens próximo a um matagal nos fundos da ocupação, na avenida Rui de Castro Santos.

“Ao aproximarmos dos indivíduos, visualizamos que um dos indivíduos estava portando uma arma de fogo, e ao tentarmos abordá-los, identificando-nos como Policiais Militares, este desobedeceu a ordem e adentrou no matagal, com a arma em punho e apontando-a em direção aos policiais”, diz a PM em nota (veja abaixo).

Ainda na versão dos policiais, neste momento, os militares realizaram cinco disparos em direção aos homens que correram adentro do matagal. Após isso, os policiais acionaram reforço e foram atrás dos homens. Neste momento, Daniquel foi encontrado com um ferimento na cabeça. Ainda segundo a polícia, a vítima estava com uma arma caída ao seu lado. Um outro homem de 36 anos foi localizado e detido no local.

Daniquel chegou a ser socorrido para o Pronto Socorro do Hospital da Universidade Federal de Uberlândia. A PM afirma que apreendeu um revólver calibre 38, com três cartuchos intactos e um cartucho picotado.

Os policiais militares envolvidos na ação que terminou com a morte de Daniquel foram presos em flagrante. A 9ª Região da Polícia Militar disse que “já foram adotadas todas as medidas de Polícia Judiciária Militar, respeitando o devido processo legal, com o encaminhamento oportuno para a análise do Ministério Público e Poder Judiciário”.

Revoltados com a morte do coordenador do movimento, os moradores da ocupação Fidel Castro bloquearam a BR-050, na manhã desta quinta (5). De acordo com o MTST, a polícia interveio no protesto e feriu os manifestantes. “Por sua vez, a sanguinária PMMG reprimiu a manifestação com bombas e balas de borracha, ferindo três pessoas”, afirmou o movimento.

“É inadmissível que um trabalhador que luta pelo direito básico à moradia seja assassinado de maneira tão cruel e fria por um agente de segurança pública. O MTST expressa seu mais profundo repúdio à PM de MG e à política de criminalização da pobreza levada a cabo pelo governador Romeu Zema”, acrescentou.

Pelas redes sociais, o ex-presidenciável Guilherme Boulos (PSOL) repudiou a ação da polícia militar mineira.

A Comissão de Direitos Humanos da ALMG (Assembleia Legislativa de Minas Gerais) disse que o Comando-Geral da Polícia Militar e o governador Romeu Zema serão convocados para dar esclarecimento sobre as ações da polícia.

Nota do MTST-MG

“Daniquel Oliveira do Santos, coordenador da Ocupação Fidel Castro, foi covardemente executado por policiais militares na madrugada desta quinta-feira, 5 de março, em Uberlândia, Minas Gerais. Daniquel, que era o responsável pela infraestrutura da ocupação organizada pelo MTST há três anos na região, foi atingido por um tiro na nuca depois de subir em um poste de uma das casas do terreno ocupado.

A Polícia Militar mineira alega que Daniquel portava uma arma no momento de sua morte, o que, além de mentira, trata-se da tentativa de justificar a sua execução e criminalizar o movimento do qual Daniquel fazia parte.

Em resposta, os moradores da Ocupação Fidel Castro bloquearam a BR-050, rodovia federal, durante a manhã desta quinta. O protesto foi duramente reprimido pela mesma Polícia Militar que executou nosso companheiro, com bombas e balas de borracha, deixando mais três pessoas feridas.

O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto expressa o seu mais profundo repúdio diante deste ato de barbárie cometido por agentes de segurança pública. É inadmissível que um trabalhador brasileiro, militante pelo direito básico à moradia digna, seja assassinado de maneira tão cruel e fria pelo estado — e a pouco mais de uma semana de a execução de Marielle Franco e Anderson Gomes completar dois anos sem esclarecimentos.

Por trás dessa execução — mais uma por parte das polícias que tanto sangue derramam impunemente nas periferias brasileiras — também há a política de criminalização dos movimentos sociais e da pobreza, levada a cabo pelo governador mineiro Romeu Zema, do Partido Novo.

Não é com um tiro na nuca que irão interromper a luta do povo brasileiro. Daniquel era e sempre será exemplo para os lutadores e lutadoras sem-teto, por sua dedicação à luta e à coletividade. Milhares de militantes como ele seguirão em frente, para que essa injustiça jamais seja esquecida”.

Nota da PMMG

“A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), por meio da 9ª Região de Polícia Militar (9ª RPM), esclarece que com relação à ocorrência ocorrida na madrugada desta quintafeira(05.03), em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, trata-se de fato policial, totalmente desvinculada de questões relacionadas a movimentos sociais.

Policiais militares da 9ª Companhia Independente de Policiamento Especializado (9ª CIA IND PE) realizavam uma incursão policial, quando na Avenida Rui de Castro Santos depararam com três indivíduos próximo a um matagal. No momento em que se aproximavam dos indivíduos, perceberam que um deles portava uma arma de fogo, tipo revólver e, ao tentarem abordá-los, eles desobedeceram as ordens dos militares e fugiram pelo matagal, um deles com a arma em punho e apontando-a em direção aos militares.

Para repelir a injusta agressão e salvaguardar a vida dos policiais militares, foram efetuados cinco disparos de arma de fogo. Ao realizarem varredura no matagal, com apoio de outras guarnições, foram localizados dois indivíduos: E.C.S, 36 anos, que estava escondido e deitado em meio ao mato e que foi conduzido preso; e D.O.S, 40 anos, com sangramento na região da cabeça e com uma arma de fogo, tipo revólver, que estava ao seu lado, sendo socorrido de imediato para o Pronto Socorro do Hospital da Universidade Federal de Uberlândia, vindo a óbito.

Durante a ação, os militares apreenderam na posse de D.O.S um revólver cal.38, com três cartuchos intactos e um cartucho picotado.

A 9ª RPM esclarece ainda que sobre a ocorrência policial, que já foram adotadas todas as medidas de Polícia Judiciária Militar, respeitando o devido processo legal, com o encaminhamento oportuno para a análise do Ministério Público e Poder Judiciário”.

Rafael D'Oliveira[email protected]

Repórter do BHAZ desde janeiro de 2017. Formado em Jornalismo e com mais de cinco anos de experiência em coberturas políticas, econômicas e da editoria de Cidades. Pós-graduando em Poder Legislativo e Políticas Públicas na Escola Legislativa.

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