Covid mata sete vezes mais crianças no Brasil do que no Reino Unido, revela estudo

Faculdade de Medicina da UFMG
A investigação foi conduzida por estudiosos do Departamento de Pediatria e do Departamento de Estatística da UFMG (Moisés Santos/BHAZ)

As desigualdades sociais têm tanto peso no tratamento de crianças brasileiras internadas com Covid-19 quanto a presença de comorbidades. É o que aponta uma pesquisa da Faculdade de Medicina da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). O estudo traçou um perfil das crianças hospitalizadas com a doença no Brasil e foi publicado na última quinta-feira (10).

Um dos dados mais alarmantes revelados pela pesquisa é que, enquanto no Reino Unido o índice de mortalidade infantil provocado pela Covid-19 é de 1%, no Brasil o número chega a 7,6%. Para os pesquisadores, os poucos recursos disponíveis para a assistência à saúde, incluindo a pequena disponibilidade de UTIs pediátricas, podem ter impactado esse quadro.

A pesquisa analisou dados de mais de 80 mil crianças internadas em hospitais brasileiros em 2020 com suspeita da doença. Destas, 11.613 tiveram confirmação da infecção pelo Sars-CoV-2 e foram incluídas na análise. A investigação foi conduzida por estudiosos do Departamento de Pediatria e do Departamento de Estatística da UFMG, além de também contar com pesquisadores da Unimontes (Universidade Estadual de Montes Claros) e da Universidade da Califórnia San Diego.

No grupo de pacientes com diagnóstico comprovado para o novo coronavírus, 886 (7,6%) morreram no hospital (em média seis dias após entrarem na unidade), 10.041 (86,5%) receberam alta do hospital, 369 (3,2%) estavam internados no momento da análise, e não havia informações sobre desfecho em 317 casos (2,7%). A probabilidade estimada de morte foi de 4,8% durante os primeiros 10 dias após a internação, 6,7% nos primeiros 20 dias e 8,1% ao fim do estudo. 

Perfil das vítimas

Entre os fatores de risco para maior mortalidade foram identificadas a idade, a etnia, a macrorregião geográfica de origem e a presença de comorbidades. Em relação à idade, a mortalidade foi maior entre menores de dois anos e em adolescentes (12 a 19 anos).

Pacientes das regiões Nordeste e Norte do país também tiveram maior risco de desfecho adverso, na comparação com os da região Sudeste. Os resultados foram mais favoráveis nas regiões Sudeste e Sul, cujas populações têm mais acesso a UTIs. 

Crianças indígenas apresentaram ao menos o dobro de risco de morte em relação às de outras etnias, o que comprova que a população indígena é muito vulnerável à Covid-19, tanto em relação ao tratamento quanto à prevenção. Outro aspecto observado foi o aumento progressivo da incidência de mortes com base no número de comorbidades, ou seja, o risco do desfecho negativo é maior a cada doença pré-existente a mais.  

A pesquisa completa foi publicada na revista científica The Lancet Child and Adolescent Health.

Edição: Giovanna Fávero
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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