E agora, Jair?

Bolsonaro 7 de setembro
Mesmo não alcançando o público pretendido, as manifestações do feriado da Independência não foram insignificantes (Reprodução/@jairbolsonaro/Twitter)

Há muito tempo, o presidente estava nas cordas. A persistência da pandemia, a inflação cada vez mais alta, o desemprego crescente, o retorno ao mapa da fome; todos esses fatores, que se somavam a incontáveis outros, jogaram a popularidade de Bolsonaro aos seus níveis mais baixos.

Finalmente, neste Sete de Setembro, ele pôde respirar.

As manifestações ocorridas Brasil afora podem não ter tido o público que se pretendia. Mas também não foram insignificantes. Longe disso…

Ficou claro que dois políticos conseguem botar seu bloco na rua: Lula e Bolsonaro. E, vamos convir, conseguir o apoio de milhares de manifestantes em um quadro social e econômico que se deteriora mês a mês não é fácil…

É difícil conceber o porquê de milhares de pessoas terem saído de suas casas em pleno feriado e se deslocado para outras cidades para defender um governo que não apresenta um só projeto para melhorar a situação do País. Mas o fato é que o presidente conseguiu mobilizar sua base.

Pode-se argumentar que deram as caras apenas os seguidores mais radicais; que compareceram porque houve um investimento maciço na organização dos eventos; que a concentração dos manifestantes em duas cidades aumentou a sua visibilidade… Essas críticas até podem ser verdadeiras, mas não anulam o dado objetivo: milhares de pessoas se reuniram para defenderem uma ditadura capitaneada por Bolsonaro.

A pergunta que começa a ser feita é: e agora, Jair?

As opções de Bolsonaro

É possível apontar-se duas alternativas para o presidente.

A primeira delas seria a óbvia: depois de conseguir demonstrar sua força, Bolsonaro se dispõe a negociar. Menos acuado, pode moderar seu tom e reconstruir as pontes que, insistentemente, fez questão de queimar.

Não faltarão, em Brasília, aqueles dispostos a apoiá-lo. Especialmente porque o uso da máquina, em ano eleitoral, torna Bolsonaro um forte concorrente à reeleição – nunca se deve perder de vista que todos os presidentes eleitos pelo voto direto após a redemocratização foram reeleitos.

Um recuo tático ainda daria a Bolsonaro a oportunidade de conseguir aprovar um ou outro projeto estratégico, revertendo a desvantagem que as pesquisas eleitorais têm apontado.

A segunda alternativa parece mais afeita ao jeito Bolsonaro de ser: acreditando que de fato goza de significativo apoio popular, ele não aceita menos do que a “rendição incondicional” de seus opositores.

Ele insistirá para que Fux “enquadre” os ministros Alexandre de Moraes e Barroso – como sugeriu em seu discurso no Dia da Independência – e pretenderá pautar os trabalhos do Congresso Nacional.

Não há a menor possibilidade dessa alternativa ter êxito, especialmente porque o apoio militar que serviria para dissuadir qualquer tentativa de insurgência contra as pretensões presidenciais não virá.

Neste momento, já ficou claro que os militares não pretendem entrar em uma briga que não é deles. O custo político da ditadura de 64 até hoje cobra seu preço – e recaiu desproporcionalmente sobre o exército. Essa é uma experiência que os generais não querem reeditar.

As forças armadas, a propósito, estão mais preocupadas com o aparecimento da polícia militar como um ator político relevante do que com qualquer outra coisa. Bem armados, bem adestrados, com conhecimento do local em que atuam e politicamente organizados, os policiais militares despontam como polo alternativo às forças armadas, especialmente porque com elas dividem o monopólio do uso da força.

Assim, afastada a possibilidade de um golpe de estado – hipótese com a qual Jair Bolsonaro sempre flertou – resta ao presidente reinventar-se e recompor-se, em busca de seu segundo mandato, ou manter- se em sua corrida insana em busca do poder autocrático – com prejuízos para a governabilidade que já são sentidos.

Em qualquer caso, é a vez do presidente mostrar suas cartas. A nós, resta apenas perguntar: e agora, Jair?

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior[email protected]

Rodolpho Barreto Sampaio Júnior é doutor em direito civil, professor universitário, Diretor Científico da ABDC – Academia Brasileira de Direito Civil e associado ao IAMG – Instituto dos Advogados de Minas Gerais. Foi presidente da Comissão de Direito Civil da OAB/MG. Apresentador do podcast “O direito ao Avesso”.

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