[Bhaz nas Eleições 2016] João Leite quer investir em gestão tecnológica e planeja VLT a Inhotim

Reprodução/Bhaz

Caso seja eleito prefeito, João Leite (PSDB) promete inaugurar um novo modelo de governança em Belo Horizonte. O candidato quer integrar inovações tecnológicas à rede municipal de educação, ao sistema de saúde e ao próprio funcionamento da prefeitura, por meio de um modelo de gestão chamado por ele de “governança criativa”.

O deputado estadual ainda assume o compromisso de destravar a liberação de recursos federais para a expansão das linhas de metrô e para a recuperação da capacidade de atendimentos na área da saúde, além de revelar planos pretensiosos: recuperar a linha de bonde que cortava o bairro Santa Tereza, no início do século 20, e implantar um sistema de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), ligando o bairro Belvedere, na Zona Sul de BH, até o Museu Inhotim, em Brumadinho, na região metropolitana de BH. Os empreendimentos, segundo o candidato, seriam executados por meio de parcerias público-privadas (PPPs).

Ao analisar a segurança pública do município, entretanto, o candidato se contradiz. Ele defende o afastamento de atribuições militares da Guarda Municipal, embora não descarta a necessidade de armar a corporação. Ainda sobre o tema, ele atribui a maior parte da criminalidade de Belo Horizonte ao tráfico de drogas, mas rejeita a necessidade de revisão na lei antidrogas (leia a transcrição na íntegra).

Por fim, João Leite rechaça o estereótipo de ter defendido bandido – adquirido enquanto presidiu a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), entre 1996 e 2000 -, e se emociona ao lembrar do episódio em que foi perseguido por criminosos indiciados por ele em Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs). Além disso, o tucano comenta a prisão do ex-presidente do PSDB mineiro, Narcio Rodrigues.

João Leite é o quinto candidato a participar da série de entrevistas realizada pelo Bhaz com os postulantes à Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PBH).

“Eu tenho uma visão, por exemplo, de tornar a prefeitura de BH em uma grande start-up. Eu quero os jovens dentro da prefeitura, buscando soluções para os problemas da prefeitura. Eu quero usar os nossos cérebros, que estão indo embora. BH está perdendo cérebros, está perdendo os jovens. Eu quero manter esses cérebros aqui para eles buscarem soluções. Eu tenho chamado de governança criativa, uma nova governança na prefeitura”.

Ao implantar esse novo modelo de gestão, João Leite afirma que irá investir na capacitação tecnológica de professores da rede municipal, por meio de um Centro de Referência dos Professores, objetivando a inserção dos educadores no universo digital. “Nós queremos capacitar os professores. O Centro de Referência dos Professores dará essa oportunidade, para que esses professores possam trabalhar esse novo mundo, que é o mundo tecnológico”. Ele defende, contudo, uma alteração na grade curricular dos alunos, visando à preparação de jovens, desde a formação básica, para o domínio de aparatos tecnológicos, o que, segundo ele, será exigido no mercado de trabalho.

Dessa mesma forma, João Leite aposta que a utilização da tecnologia pode contribuir para melhorar o atendimento na área da saúde, como, por exemplo, o agendamento de consultas por meio de aplicativos de smartphones. “Eu tenho falado em marcar exame por telefone [smartphones]. Tem pessoas que querem me apedrejar: ‘Isso é impossível’. Eu falo: ‘claro que é possível, todo mundo pode resolver alguma coisa pelo celular hoje'”.

Para o candidato, no entanto, a modernização tem que começar, antes de tudo, dentro da própria prefeitura. Ele critica a atual gestão, ao dizer que, ainda hoje, há áreas administrativas que utilizam meios retrógrados de comunicação para troca informações. “Não dá para eu chegar na prefeitura de BH e ficar anotando recadinho em papel. Não dá para eu ter uma comunicação na prefeitura de BH que não entenda que nós estamos em outros tempo. Gente, hoje tem repartição da prefeitura que anota coisa no papel ainda”, critica.

“Eu serei um prefeito que irá entender esse momento [tecnológico] e nós vamos apoiar a partir da prefeitura o desenvolvimento de BH”, afirma.

‘Desafios imensos’

O candidato tucano avalia como um “desafio grande” a execução das obras de expansão do metrô em Belo Horizonte e como “desafios imensos” a retomada do pleno funcionamento do Hospital do Barreiro e a abertura da maternidade Leonina Leonor, em Venda Nova. São empreendimentos nas áreas de mobilidade urbana e saúde pública essenciais para a melhoria da qualidade de vida da população, mas que encontram-se embargados por falta de aportes estadual e federal.

“Minas Gerais hoje é o 15° lugar em repasse de dinheiro da saúde e nós temos aqui dois desafios imensos, que é o Hospital do Barreiro, que precisa de recurso para abrir, porque está com 10% de funcionamento. Precisamos para a maternidade Leonina Leonor, lá em Venda Nova. Está pronta e está fechada, e as mães estão sofrendo para ter os bebês no Risoleta Neves, que está superlotado”.

Nesse sentido, João Leite evitou prometer a execução das obras do metrô e da retomada imediata dos atendimentos nas instituições de saúde, portanto se comprometeu em destravar os repasses do Governo Federal. “O desafio é grande, mas eu assumo o compromisso com a população: vamos buscar os recursos que pertencem à BH”, declarou.

Cacique tucano preso

Questionado se a prisão do ex-presidente do PSDB mineiro, Narcio Rodrigues, poderia impactar negativamente a sua campanha, o tucano João Leite defendeu a fiscalização permanente dos atos públicos e disse que o ex-dirigente do partido deve explicar as acusações que pairam contra ele. Narcio Rodrigues, que também foi secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior durante a gestão do então governador Antonio Anastasia (PSDB), foi preso preventivamente em julho deste ano, sob acusação de ter operado um esquema de desvios de verbas públicas que seriam destinadas à Cidade das Águas, em Frutal, no Triângulo Mineiro.

“A gente coloca o nome da gente, as pessoas confiam, votam em nós, e qualquer deslize que cometermos, qualquer entendimento da população ou desconfiança, nós temos que explicar”, diz. “Todo momento você tem que ficar dando explicações. E é assim mesmo. Então o presidente Narcio tem que dar as explicações dele, eu permanentemente. O tempo todo eu dou explicações da minha vida para as pessoas. É assim mesmo. É como um controle. É como uma auditagem no processo. Nós vamos sempre ser auditados”, avalia.

Planos audaciosos

“Eu tenho muitos sonhos para BH”. E boa parte desses sonhos, segundo o candidato João Leite, podem ser executados por meio de parcerias com a iniciativa privada. É o caso da recuperação da linha de bonde, inaugurada no início do século 20, que atravessava o viaduto Santa Tereza, passando pela rua Sapucaí e descendo pelo viaduto do Floresta.

“Nós vamos ter um bonde. Olha eu tenho várias ideias. Alguns não sabem se é possível implantar. Mas eu sou corajoso para essas coisas (…) Eu quero uma parceria, uma PPP, vamos buscar”, diz. “Eu não imagino que seja um bonde moderno que nós vamos fazer ali, mas quero, por exemplo, que a rua Sapucaí seja um lugar de cultura, de história”.

Outro sonho revelado por João Leite, este, ainda mais pretensioso, seria a implantação de um sistema de veículo leve sobre trilhos que ligasse Belo Horizonte ao Instituto Inhotim, localizado em Brumadinho, a 60km da capital.

“Hoje Inhotim é um espetáculo, mas é difícil chegar lá… Muitas pessoas que querem ir ao Inhotim, mas se cansam em estradas estreitas e difíceis de chegar. Por que não de trem, por que não sobre VLT?”, afirma João Leite.

Criminalidade

Para o candidato, armar a Guarda Municipal não é a solução para conter os índices de violência em Belo Horizonte. Por outro lado, ele afirma que os homens da guarda não podem ficar “sem nenhuma possibilidade de defesa”, enquanto há criminosos armados nas ruas da capital. A solução, contudo, seria qualificar o contingente, além de repesar as funções militares da corporação, conforme defende o candidato.

“Quero dar segurança para as pessoas com a presença dessa Guarda Municipal que é uma Guarda Civil, ela não é uma Guarda Militar. Ela é uma Guarda Civil, que vai dialogar, que vai fazer prevenção permanentemente”, defende. “Ao mesmo tempo eu não posso deixar um Guarda Municipal nas ruas enquanto eu temos crime organizado, gente armada. Eu não vou colocá-los nas ruas sem nenhuma possibilidade de defesa. Não é uma defesa contra o cidadão que é morador de rua, ou usuário, um dependente. Não. Contra um criminoso”, diz.

Segundo o tucano, cerca de 80% dos crimes cometidos em Belo Horizonte têm relação, direta ou indiretamente, ao tráfico de drogas. Entretanto, questionado sobre uma eventual alteração nas políticas de repressão às drogas vigentes no país — conforme defende um dos maiores ícones do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso —, João Leite se posiciona contrário a modificações.

“Eu discordo completamente do presidente Fernando Henrique Cardoso, por quem tenho grande admiração. A experiência de outros países mostra que é equivocada com essa liberação. Eu não quero ver a perda dos jovens para as drogas. Por que temos tráfico de drogas? Porque temos grande demanda”, avalia.

No entanto, o candidato afirma que a repressão seria a solução para a redução do tráfico de drogas, defendendo a adoção da política de contenção de danos.

“O que nós vamos fazer mais? Continuar prendendo? Jovens, usuários, que carregam a sua droga, ou vamos tratá-los, fazer redução de danos? Vamos fazer redução de danos”.

Segurança Pública x Direitos Humanos

João Leite se emocionou ao lembrar que foi perseguido por criminosos ao indiciar dezenas de pessoas ligadas ao caso da fuga do traficante Fernando Beira-Mar de uma delegacia em Belo Horizonte, em 1997. Ainda assim, segundo o candidato, foi tachado de defensor de bandidos devido à sua ligação à Comissão de Direitos Humanos na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). “Eu defendia bandido? Eu defendi a sociedade, contra pessoas que se uniram a criminosos para se corromper. Eu os enfrentei, eu tive coragem”, afirma. “Eu não defendi bandido. Quem defendia Fernando Beira-Mar eram aquelas pessoas que eu indiciei”.

Conforme conta João Leite, ao presidir a CPI que investigou a fuga de Beira-Mar, ele determinou um diagnóstico do sistema penitenciário de Minas Gerais. “Mas aí, aconteceu um grande problema na minha vida. Porque eu descobri, em uma visita surpresa que nós fizemos no lugar que Fernando Beira-Mar fugiu, que ele tinha companhia íntima, uísque, celular e sauna na cadeia. E que saiu pela porta da frente e que pagou 500 mil. E eu indiciei 19 pessoas, eu sofri”, conta.

“Eu ando de cabeça erguida, eu fiz o que deveria ter sido feito, eu faria novamente. Meus filhos sofreram muito, meus filhos ficaram traumatizados. Sabe o que é de madrugada, gente de metralhadora?”, questiona João Leite.

Confira o vídeo da entrevista na íntegra:

Ex-atleta profissional e bacharel em História, João Leite exerce o 6° mandato de deputado estadual. Foi vereador em Belo Horizonte, em 1993, e, no mesmo ano, foi nomeado secretário municipal de Esportes. É a terceira vez que disputa a prefeitura de Belo Horizonte, sendo que concorreu ao pleito nas eleições de 2000 e 2004.

Guilherme Scarpellini

Guilherme Scarpellini é redator de política e cidades no Portal BHAZ.

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