Estratégico e cobiçado: o cargo de vice-presidente nas mãos das mulheres

Reprodução Facebook Sonia Bone Guajajara
Por Marcela Káritas

A possibilidade de uma mulher ocupar um dentre os dois principais cargos executivos do Brasil novamente no próximo ano é de 53%. Das 13 candidaturas que disputam em outubro a Presidência, duas têm mulheres como cabeça de chapa – Marina Silva (Rede) e Vera Lúcia (PSTU) – e cinco destinaram a vaga de vice a postulantes femininas – considerando a eventual candidatura de Manuela D’Ávila (PCdoB), que, com Lula (PT) preso, está fazendo campanha pelo país com Fernando Haddad (PT). No pleito passado, em 2014, eram três candidatas mulheres para o cargo de presidente e três para o de vice, entre 11 postulantes. Se voltarmos mais uma corrida eleitoral, em 2010, eram duas disputando a Presidência e apenas uma o cargo de vice-presidente.

Ainda que em 2018 elas apareçam mais no posto de retaguarda, elas estão mais presentes do que nunca. A esperança é que não sejam apenas “vices decorativas” – parafraseando uma expressão do atual presidente Michel Temer (MDB) –, mas que exerçam suas funções e propostas especialmente no que se refere às pautas das mulheres. E, mesmo que haja razões questionáveis para terem sido escolhidas – seja para conquistar voto feminino, seja para destinar a maior parte da verba obrigatória por gênero dentro do partidos –, elas estão lá. Pouco a pouco, o Brasil começa a mudar e a representar melhor seus eleitores. No propósito de dar mais visibilidade a elas, a Campanha Libertaspreparou um mini-perfil das postulantes a vice-presidente. Confira quem são as mulheres que encararam essa missão:

Ana Amélia (chapa de Geraldo Alckmin, do PSDB)

É senadora pelo Rio Grande do Sul e integra o partido conservador PP. Disputou as eleições pela primeira vez em 2010. Jornalista de formação, construiu carreira no Grupo RBS, que possui emissora de TV afiliada à Rede Globo. Nas eleições de 2014, foi candidata ao governo do seu Estado natal, ficando em terceiro lugar.

Ana Amélia foi uma das senadoras mais atuantes em seus oito anos de mandato, conseguindo aprovar cinco leis e uma emenda constitucional. Teve atuação intensa em favor do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). No Senado, votou a favor da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos Gastos Públicos, promulgada em dezembro de 2016. Entre suas marcas estão as opiniões fortes, o discurso antipetista e contrário à corrupção – apesar de seu partido, o PP, ter tido o maior número de políticos investigados pela operação Lava Jato. Recentemente, o candidato Geraldo Alckmin cometeu uma gafe em público ao trocar o nome da sua vice pelo de Kátia Abreu (PDT), vice de Ciro Gomes, do mesmo partido.

Foto: Reprodução Facebook Ana Amélia

 “A maior participação de mulheres na política depende mais da vontade delas de fazer parte do processo do que estabelecer cotas.” Ana Amélia (em fala durante o painel Mulheres na Política em Porto Alegre)

ANA AMÉLIA DE LEMOS

Cidade: Lagoa Vermelha – Rio Grande do Sul

Idade: 73 anos

Cor/raça: Branca

Ocupação: jornalista, senadora

Família: viúva e sem filhos

Bens declarados: Tem R$ 5,1 milhões em aplicações financeiras e imóveis

Site: https://www.anaamelialemos.com.br

Kátia Abreu (chapa de Ciro Gomes, do PDT)

É senadora por Tocantins e integra o PDT. Foi a primeira mulher a chefiar o Ministério da Agricultura, durante o governo Dilma Rousseff. Também já ocupou o cargo de deputada federal e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). É psicóloga de formação e foi professora até os 25 anos, quando teve de assumir o comando da propriedade rural da família após a morte repentina do marido. Na época, era mãe de duas crianças e estava grávida do terceiro filho.

A partir dessa mudança de rumo, Kátia Abreu se tornou dona de uma fazenda de soja e gado. Aprendeu sobre agropecuária e passou a ser militante na área. Como senadora, ocupou a bancada ruralista e defendeu pautas do agronegócio. Foi contrária à primeira versão do novo Código Florestal e atuou fortemente em alterações no seu texto. Sua atuação contribuiu para a aprovação, em 2012, de uma legislação mais flexível e favorável aos ruralistas.

Foi contrária ao processo de impeachment de Dilma e criticou amplamente o governo Temer, posturas que acarretaram em sua expulsão do MDB. É contrária à legalização do aborto e defende a facilitação do porte de armas.

Foto: Reprodução Facebook Kátia Abreu

“A mulher é mais impactada pela pobreza, porque ela sente primeiro em casa. A hora que ela abre a dispensa, a hora que corta a luz, a hora que o gás acaba, só sobra para ela…”  Kátia Abreu (em vídeo de campanha)

KÁTIA REGINA DE ABREU

Cidade: Goiânia – Goiás

Idade: 56 anos

Cor/raça: Branca

Ocupação: psicóloga, professora, empresária pecuarista, senadora

Família: viúva e mãe de três filhos

Bens declarados: Tem R$ 3,9 milhões em aplicações financeiras, imóveis, terrenos e sociedades

Site: http://senadorakatiaabreu.com.br

Manuela D’Ávila (chapa de Lula e Fernando Haddad, do PT)

É deputada estadual no Rio Grande do Sul, pelo PCdoB. Sua militância começou ainda na juventude, quando integrou a União da Juventude Socialista e a União Nacional dos Estudantes. Em 2004, quando tinha 23 anos, foi a vereadora mais jovem a ser eleita no município de Porto Alegre. Foi eleita por duas vezes deputada federal com votações recordes. Também foi, por duas vezes, candidata à Prefeitura de Porto Alegre.

Como deputada federal, foi líder do seu partido na Câmara, defendeu diversas pautas relacionadas à educação e presidiu a Comissão de Direitos Humanos – quando, em 2011, pediu a saída do deputado Jair Bolsonaro (PSL) do grupo. Foi relatora do Estatuto da Juventude e co-relatora de projeto de lei voltado à regulamentação do estágio, aprovado em 2008.

É feminista, apoia o desenvolvimento de políticas públicas voltadas para as mulheres, para a população negra e para a juventude. Sua postura é marcada pela falta de cerimônia e proximidade. Manuela já amamentou a filha durante reunião na Assembleia Legislativa de Porto Alegre, em 2016, e divide sua experiência como mãe em redes sociais. A atitude gera resultados positivos: entre as candidatas à Presidência e vice-Presidência, é a que possui o maior número de seguidores no Instagram: são mais de 400 mil, quatro vezes mais que Marina Silva, candidata à Presidência pela Rede.

Foto: Luiz Maximiliano

“O sistema eleitoral nunca favoreceu a participação das mulheres e eu acredito que ele precisa ser reformado. Defendo a cota das mulheres não nas listas dos partidos, mas nos cargos.” Manuela D’Ávila (em evento do PCdoB)

MANUELA PINTO VIEIRA D’ÁVILA

Cidade: Porto Alegre – Rio Grande do Sul

Idade: 37 anos

Cor/raça: Branca

Ocupação: Jornalista, deputada estadual

Família: casada, mãe de uma filha

Bens declarados*: R$ 184 mil em aplicação financeira e terreno

Site: https://www.facebook.com/manueladavila

*Bens declarados nas eleições de 2014

Sônia Guajajara (chapa de Guilherme Boulos, do PSOL)

É a primeira indígena a integrar uma chapa que pleiteia a Presidência do país. Nasceu no Maranhão, no povo Guajajara, mas deixou sua casa aos 15 anos, para estudar em Minas Gerais através de apoio da Funai (Fundação Nacional do Índio). É formada em Enfermagem e Letras, além de ser pós-graduada em Educação Especial.

Sua trajetória é marcada pela militância em favor dos direitos dos índios e proteção ao meio ambiente. Foi presidente da Associação dos Povos Indígenas do Brasil e, antes disso, integrou as coordenações de grupos semelhantes no Maranhão e na Amazônia. Já levou denúncias a Conferências Mundiais do Clima (COP) da Organização das Nações Unidas. Foi crítica às alterações do novo Código Florestal e ao projeto de Construção da Hidrelétrica de Belo Monte. Nunca ocupou cargo político.

Foto: Thalita Oshiro

“A iniciativa de todas as lutas está sendo das mulheres. Nós, mulheres indígenas, não ficamos fora disso. A gente precisa romper a barreira do machismo e acho que, aos poucos, estamos rompendo.” Sonia Guajajara (em entrevista à Agência Pública)

SONIA BONE DE SOUSA SILVA SANTOS

Cidade: Amarante do Maranhão – Maranhão

Idade: 44 anos

Cor/raça: Indígena

Ocupação: ativista, professora e enfermeira

Família: divorciada, mãe de três filhos

Bens declarados: Tem R$ 11 mil em aplicação financeira

Site: https://www.facebook.com/GuajajaraSonia

Professora Suelene Balduino (chapa de Cabo Daciolo, do Patriota)

É pedagoga, com 23 anos de trabalho na rede pública de ensino do Distrito Federal. É filiada ao Patriota e nunca ocupou cargo político. É contrária à legalização do aborto e possui retórica altamente ligada à religião cristã.

Foto: Arquivo pessoal

Estou posicionada: contra o aborto, a favor da vida, do acolhimento e proteção para as mulheres com gravidez indesejada, de políticas públicas para solucionar e não para matar o feto.” Suelene Balduinio (em postagem no Facebook)

SUELENE BALDUINO NASCIMENTO

Cidade: Anápolis – Goiás

Idade: 56 anos

Cor/raça: Branca

Ocupação: professora

Família: divorciada, mãe de três filhos

Bens declarados: Tem R$ 200 mil em aplicações financeiras, apartamento e automóveis

Site: https://www.facebook.com/suelene.balduino

Leia também os textos sobre as duas mulheres negras que disputam a vaga de presidente do Brasil: https://bhaz.com.br/2018/08/31/duas-mulheres-disputam-a-presidencia-contra-11-homens-brancos/

Campanha Libertas[email protected]

Somos um coletivo de mulheres jornalistas de Minas que já trabalharam em redações de grandes jornais de BH e em assessorias de imprensa. A Campanha Libertas – Por mais mulheres na política surgiu para fazer uma cobertura jornalística independente sobre as eleições de 2018 com foco nas mulheres.

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