Wadson promete ‘Bolsa Família municipal’ e empréstimo a comerciante

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Wadson Ribeiro foi o quarto sabatinado na rodada de entrevistas do BHAZ (Moisés Teodoro/BHAZ)

O candidato do PCdoB (Partido Comunista do Brasil) à PBH (Prefeitura de Belo Horizonte), Wadson Ribeiro, pretende criar um auxílio no valor de R$ 250 para mais de 40 mil famílias da capital; reduzir o valor da passagem de ônibus para R$ 3,50; retomar as aulas presenciais somente com a vacina contra o novo coronavírus; e taxar empresas de aplicativo. Essas e outras informações foram reveladas em entrevista exclusiva ao BHAZ.

O ex-deputado federal é o quarto postulante ao cargo de chefe do Executivo municipal a participar da sabatina que o BHAZ vai realizar com todos os 15 candidatos. Acompanhe a cobertura das eleições municipais em todas as nossas redes e clique no nome do candidato para conferir as entrevistas realizadas:

Wadson sugeriu ainda que o atual prefeito da capital mineira, Alexandre Kalil (PSD), renuncie ao cargo se o próprio avalia que não há solução para os ônibus lotados; se comprometeu a “desconcretar” 200 km de rios e córregos na cidade; além de isentar comerciantes de impostos, em razão da pandemia do novo coronavírus. O postulante também se indignou com os cancelamentos de debates nas emissoras de TV e com a proposta de candidatos para criar escolas cívico-militares.

Volta às aulas

O candidato do PCdoB afirmou que, caso eleito, as aulas em BH só voltarão quando for desenvolvida uma vacina contra a Covid-19. “Com pandemia, colocar criança dentro de sala de aula é um absurdo, porque a transmissão vai se propagar mais rápido. Nós não sabemos se esse vírus, mesmo com vacina, vai ter variações, novas ondas”. Mesmo rigoroso em relação ao retorno das aulas presenciais, Wadson Ribeiro acredita que a PBH falhou ao deixar os alunos sem aulas remotas.

A queda no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), recuo que não ocorria desde 2007, foi outro ponto lembrado pelo ex-deputado federal. “Foi nesta gestão que caiu. Caiu por quê? Porque a qualidade de ensino está pior nas escolas, os professores estão desestimulados, a questão pedagógica na secretaria e nas escolas foi modificada. Isto tem tido um reflexo objetivo”, ponderou.

Visando melhorar o desempenho no Ideb e o aprendizado das crianças, o candidato enumerou promessas: “Equipar as escolas com bibliotecas físicas e virtuais; qualificar os professores dando oportunidade a eles de cursos de pós-graduação, mestrado, doutorado; equiparar o salário da educação infantil ao salário do fundamental; melhorar as estruturas físicas das escolas. Ou seja, nós precisamos investir de verdade em educação”.

Além disso, Wadson Ribeiro pretende construir mais escolas e contratar mais profissionais. As obras serão feitas com recursos do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação). “Se o gestor souber aproveitar esses recursos novos para investir na qualidade do ensino, Belo Horizonte pode novamente retomar a qualidade de ensino”, destacou.

‘Escola para libertar’

A proposta de criação de escola cívico-militar na rede municipal de ensino foi bastante criticada por Wadson, visto que, para ele, o espaço deve ser “para libertar”. “Vejo candidato falando que vai construir escola cívico-militar. Militar bom é dentro do quartel, é dentro do Exército, defendendo a segurança do cidadão, defendendo as fronteiras. A escola tem que ser laica, não tem que ter partido, religião. Escola tem que ter ciência; tem que ser os princípios de Paulo Freire, tem que ser para libertar as pessoas”.

“Não quero uma escola que seja formadora de apertadores de parafuso. Eu quero uma escola que forme uma geração de forma consciente sobre seu papel na sociedade e é essa escola que está faltando em Belo Horizonte. Nós queremos investir nesta escola para que dentro de um período muito curto a gente possa ter uma educação de qualidade”, complementou.

‘Bolsa Família municipal’

O candidato do PCdoB prevê a criação de uma espécie de Bolsa Família municipal, o que ele chama de programa de transferência de renda municipal. Mais de 40 mil famílias pobres de BH serão contempladas com uma bolsa mensal de R$ 250 – e o recurso, segundo Wadson Ribeiro, sairia do caixa da PBH e retornaria para toda a cidade.

“Cada real, a pessoa não vai gastar em Miami, não vai gastar em Paris. Vai gastar esses R$ 250 no sacolão e na mercearia do bairro. Esse dinheiro volta para a economia, aquece a economia. [O benefício] tem dois sentidos: um humanitário, porque é um recurso que faz as pessoas enfrentarem este momento de dificuldade da pandemia e outro argumento é econômico, isso para a economia do município é bom”.

O programa vai custar R$ 100 milhões por ano aos cofres da PBH e vai “induzir desenvolvimento, emprego e qualidade de vida” em Belo Horizonte, segundo o ex-deputado federal.

Comércio

Wadson Ribeiro promete promover a isenção de taxas e impostos municipais, como o IPTU, para amenizar as perdas dos comerciantes, além de criar um empréstimo, que ocorreria através de um programa batizado BH Juro Zero. “É um empréstimo aos microempreendedores individuais e microempresas no valor de até R$ 3 mil. É uma experiência muito importante que já acontece na cidade de Florianópolis e nós queremos trazer para Belo Horizonte”.

O postulante do PCdoB também pretende ajudar os comerciantes locais por meio de compras governamentais. “Queremos mudar alguns mecanismos internos de licitações da prefeitura porque muitas compras quem ganha a licitação é uma empresa do Paraná, de Santa Catarina, de São Paulo. Eu quero fazer com que as micro e pequenas empresas de Belo Horizonte se organizem para acessarem essas compras governamentais e esse dinheiro da prefeitura ficar dentro do município e não haver uma evasão do dinheiro”, explicou.

‘Deveria renunciar’

A pandemia do novo coronavírus escancarou o problema da superlotação dos ônibus do transporte coletivo. Kalil, em entrevistas ao BHAZ, afirmou que “não tem solução” e está disposto a ouvir soluções. “Se ele [Kalil] acha que não tem solução, deveria renunciar. O prefeito tem que achar a solução para o transporte”, afirmou Wadson Ribeiro.

Para o candidato do PCdoB, o transporte coletivo não melhora porque “todos os prefeitos são dirigidos pelas empresas de transporte”. “Nós precisamos mudar esta lógica”, afirmou. Visando ações para o discurso, ele pretende constituir um fundo municipal. “Vai ter dinheiro da prefeitura, dos rotativos e quero que tenha dinheiro das empresas de aplicativo, como faz São Paulo e Curitiba, para que este fundo possa fazer com que a passagem de R$ 4,50 desça para R$ 3,50”, contou.

Caixa-preta e gratuidades

Abrir a caixa-preta da BHTrans é outra proposta de Wadson Ribeiro. “Nós temos que saber do contrato quanto que as empresas estão sendo remuneradas, se ele é ou não abusivo”, afirmou. O postulante quer ainda conceder gratuidades aos domingos e passe livre aos estudantes.

“Queremos atacar esse problema do valor das passagens constituindo um fundo para que ele possa ser reduzido e investir em transportes alternativos. O Kalil nos quatro anos não construiu 1 km de ciclovia, nós não temos bicicletários nos terminais de ônibus e nos metrôs você não tem uma política que estimule um novo modo de transporte que não seja o carro particular”.

Volta dos cobradores

Wadson pretende retomar com os cobradores nos ônibus de Belo Horizonte. A medida visa gerar emprego e renda, principalmente após a pandemia. “Se estou defendendo geração de emprego, eu preciso gerar emprego de todas as formas. Quero cobradores, quero regulamentar os informais para que eles se tornem formais, quero criar a Frente de Trabalho. Sou totalmente contra tirar cobrador. Os motoristas estão passando um sufoco”. 

Taxar aplicativos

O uso de aplicativos de transporte, como Uber e 99, se tornou comum aos belo-horizontinos e uma alternativa de fonte de renda para muitos, diante do crescente desemprego. Wadson pretende criar uma taxa de R$ 0,15 para cada quilômetro percorrido pelos motoristas em BH. Ele acredita que isso não vai provocar a fuga das empresas e consequentemente aumentar o desemprego na capital mineira.

“Você precisa enxergar essa proposta como um todo. A Uber consegue ser a maior empresa de transporte do mundo sem ter um carro. Não estou inventando uma coisa nova. Quero fazer o que São Paulo e Curitiba fazem que é taxar um pedaço deste lucro exorbitante, para que isso subsidie um transporte que é o transporte coletivo”, detalhou.

O postulante ressalta que a taxação, “em hipótese alguma”, é sobre o motorista, mas “sobre as empresas para financiar o sistema de transporte [coletivo]”. “Regulamentando você garante os direitos a esses trabalhadores, que aliás já trabalham praticamente sem nenhum direito junto à Uber. Tanto é que daí surgiu a expressão ‘uberização do trabalho‘”.

‘A Guarda me dá medo’

Caso eleito, Wadson Ribeiro promete mudar a função atual da Guarda Municipal de BH. “Eu não quero fazer da Guarda Civil uma PM em miniatura. Quero que tenha um papel comunitário, preventivo. Eu fico vendo a Guarda Civil de Belo Horizonte e ela me dá medo. Parece uma PM: anda armada, em carros com sirene”.

“Não é papel dela. Ela tem que intermediar confrontos na periferia, ela tem que zelar pelo patrimônio público”, complementou ao destacar que a Guarda “não pode ter uma ação repressiva como tem a Polícia Militar”. “Quero uma Guarda Civil cidadã que vai intermediar relações com a sociedade para pacificá-las, serem lideranças comunitárias e não agir com armas e repressão”.

Questionado, Wadson Ribeiro não respondeu se vai desarmar a guarda, mas prometeu que vai “torná-la menos violenta”.

UBS 24 horas

Visando “desafogar a demanda pela urgência” no SUS (Sistema Único de Saúde), o ex-deputado federal pretende implantar a UBS (Unidade Básica de Saúde) Sentinela que funcionaria durante todo o dia. “Muitas vezes nessas UBSs você pode ter ali o seu primeiro contato e atendimento. Claro que ela não substitui o papel da urgência, da emergência, mas é uma forma de aliviar, um pouco, os hospitais”.

Outra proposta é fortalecer as equipes de saúde da família. O objetivo é, segundo o postulante, “fazer com que as doenças sejam prevenidas a partir dos bairros”. “A pandemia mostrou que as políticas públicas precisam ser mais fortalecidas e o SUS está aí para mostrar que isso é verdade. Eu sou um defensor do SUS e sou um defensor da atenção primária como uma questão primordial para a saúde no município”, disse Wadson.

Telemedicina

Ainda visando desafogar o sistema de saúde, Wadson Ribeiro pretende implementar o serviço de telemedicina em Belo Horizonte sem que o paciente saia de casa. “É mais um mecanismo para que a gente possa desafogar as determinadas modalidades, especialidades médicas que você com uma equipe multidisciplinar pode fazer com que pacientes recebam consultas, orientações”.

A proposta, conforme ressaltou o candidato, não substitui o contato pessoal entre médico e paciente. “A telemedicina pode complementar um sistema muito sobrecarregado. Seria uma ferramenta a mais, como nós também queremos por em prática, o que o Kalil não colocou, que é tornar digitalizado, integrado o sistema de consultas em Belo Horizonte. Se você vai numa UBS você tem o seu prontuário, se você for numa UPA em outra região o seu prontuário é o mesmo”, detalhou.

Leonina Leonor e UPA Norte

Se eleito prefeito de Belo Horizonte, Wadson Ribeiro pretende inaugurar a maternidade Leonina Leonor Ribeiro, na região de Venda Nova. “Isso faz parte de uma política de prioridade à primeira infância e significa ter cuidado com a gestante, com o parto e depois com a primeira infância. Acho fundamental termos a maternidade em funcionamento”.

Quanto aos problemas enfrentados pelos servidores da UPA Norte, como agressões e falta de equipamentos, Wadson Ribeiro acredita que isso se dá por falta de gestão. “Não bastam no Brasil as construções, mas é preciso pensar na gestão desses equipamentos. O SUS é subfinanciado e não adianta eu ter uma UPA inaugurada, se eu não tenho um custeio para manter médicos, enfermeiros e atendimentos”.

Para o espaço funcionar de maneira adequada, Wadson pretende “alocar recursos”. “Não cabe ao prefeito negar a realidade da existência da UPA Norte e nem achar natural acontecer estes incidentes”, disse.

Abertura de rios

No que diz respeito ao meio ambiente, o candidato do PCdoB propõe “desconcretar 200 km de rios e córregos na cidade de Belo Horizonte”. A ação visa diminuir os impactos provocados pelas fortes chuvas na cidade. “Nós somos uma caixa d’água, ou seja, aqui cai muita água, do lado de uma montanha e os rios concretados. Queremos destampar determinados rios e córregos”.

Ainda nessa área, o postulante pretende “cuidar de nascentes, construir matas ciliares, área de drenagem, absorção desta água, telhados verdes e investir bastante na coleta de lixo, além de buscar recursos para encarar o problema de saneamento básico”.

Volta do PCdoB

O PCdoB lançou candidatura para a PBH pela última vez em 2008, com Jô Moraes. De lá pra cá, a sigla apoiou outras candidaturas e, após mais de uma década, lança sua própria chapa. Wadson afirmou que a volta da candidatura própria foi motivada pela cobrança vinda das ruas. “Voltamos porque temos sido cobrados. Tem 12 anos que sempre fizemos alianças, apoiamos outros candidatos e achamos por bem agora falar por nós mesmos, mostrar a nossa cara e propostas”.

As últimas alianças formadas com o PT, tanto no município quanto no Estado, não obtiveram vitórias nos pleitos. Mesmo assim, para Wadson Ribeiro, o partido não fez escolhas ruins. “Nós tínhamos um programa de muitas afinidades à época com o PT, mas vivemos uma nova conjuntura. O PT é um partido, o PCdoB é outro e nós não estamos aqui para fazer uma campanha contra o PT ou contra qualquer partido”, afirmou.

Indignação

A pandemia do novo coronavírus fez com que emissoras de TV cancelassem o debate com os candidatos à PBH. A Record, por exemplo, chegou a anunciar a data, mas recuou e cancelou. Wadson mostrou indignação com o cancelamento dos debates, segundo o próprio, um “ataque à democracia”.

“Quero deixar aqui a minha indignação. Nunca Belo Horizonte passou por eleição em que os principais veículos de comunicação cancelaram seus debates. Nós vamos colher os frutos disso no futuro. Isso é um ataque não a mim, Wadson Ribeiro, mas à democracia e vamos colher caro isso. É um absurdo o que os meios de comunicação estão querendo fazer”, desabafou.

O postulante relembrou episódios das eleições de 2018 para complementar a fala. “Quando não se tem debate se elege Witzel [governador do Rio de Janeiro], homem temente a Deus que ia metralhar traficante do helicóptero e um ano depois descobriu que ele roubava dinheiro da saúde. Quando não se tem debate elege presidente como Bolsonaro. Quando não tem debate vai eleger o quê em Belo Horizonte? Queremos o direito de apresentar propostas e de fazer o bom debate para população votar no melhor”.

Escândalos

No Governo Lula, Wadson Ribeiro foi secretário de Esporte Educacional do Ministério do Esporte. No período, foram publicados escândalos envolvendo o então ministro Orlando Silva, o secretário Waldemar Souza e o programa Segundo Tempo. O candidato do PCdoB não teme ser prejudicado nestas eleições por conta disso. “De forma alguma [serei prejudicado]. As denúncias foram feitas, apuradas e eu nunca fui condenado a nada, ou seja, o que mostra que a democracia sempre vence no final”.

Edição: Thiago Ricci
Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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