O tradicional – e derradeiro – debate entre candidatos ao Governo de Minas promovido pela TV Globo, que acabou na madrugada desta quarta-feira (3), teve um desfecho surpreendente. Enquanto a expectativa era toda voltada para um embate entre os líderes das pesquisas, Antonio Anastasia (PSDB) e Fernando Pimentel (PT), quem roubou a cena foi Romeu Zema (Novo). O concorrente novato chegou a ser comparado com o ex-presidente Fernando Collor e foi repreendido pelo próprio partido após sugerir apoio ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) – mesmo com o correligionário João Amoêdo na disputa pelo Palácio do Planalto.
A saia justa começou quando, na fala de encerramento, Zema disse para os eleitores votarem em Amoêdo ou Bolsonaro. Logo em seguida, em entrevista coletiva, o concorrente do Novo tentou se explicar. “Não [apoio Bolsonaro]. Quis dizer que quem quer renovação aqui em Minas tem a opção de votar no Amoêdo e no Bolsonaro e que votem em mim. Os eleitores do Bolsonaro têm uma proximidade muito grande com as nossas propostas”, afirmou.
Poucos minutos depois, no entanto, o partido fez comunicado oficial no qual diz que Zema cometeu infidelidade partidária ao pedir voto para o presidenciável do PSL. “Consideramos pedido de voto a outro candidato, como fez Romeu Zema, infidelidade partidária, conforme previsto em nosso Estatuto. Trabalhamos dia e noite para que João Amoêdo chegue ao 2º turno e continue nos dando orgulho ao representar o que realmente significa ser Novo”, publicou.
Consideramos pedido de voto a outro candidato, como fez @RomeuZema30, infidelidade partidária, conforme previsto em nosso Estatuto. Trabalhamos dia e noite para que @joaoamoedonovo chegue ao 2º turno e continue nos dando orgulho ao representar o que realmente significa ser NOVO.
— NOVO 30 (@partidonovo30) 3 de outubro de 2018
Debate
Além de Zema, Anastasia e Pimentel, também estiveram presentes no debate os candidatos Adalclever Lopes (MDB), Claudiney Dulim (Avante) e Dirlene Marques (PSOL). Diferentemente das demais ocasiões, os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas, Anastasia e Pimentel, evitaram confrontos diretos e preferiram trocar ataques por meio de indiretas.
Logo nos momentos iniciais do debate, o petista questionou uma propaganda eleitoral do tucano em pergunta direcionada ao candidato do MDB. Na campanha em questão, um diálogo entre dois atores desencoraja que os eleitores votem nos demais candidatos para evitar um segundo turno; Pimentel a avaliou como “arrogante e desrespeitosa”, e Adalclever assinou embaixo – dobradinha que foi comum em outros momentos do debate.
A crise financeira do Estado foi o assunto mais recorrente do debate. De um lado, Pimentel bateu na tecla que a situação atual é um “reflexo do governo anterior”; do outro, Anastasia afirma que a gestão petista foi um “desgoverno” para os cofres públicos. O tucano ainda foi enfático ao apontar a alta do desemprego em Minas e culpou a complexidade tributária do mandato petista, que ocasionou a saída de diversas empresas de Minas Gerais.
Pimentel aproveitou o tempo de debate para exaltar o presidenciável petista Fernando Haddad, afirmando que, caso os dois sejam eleitos, a situação financeira de Minas Gerais ganharia fôlego. Por outro lado, Anastasia não citou o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, nenhuma vez; justificou que “se tratava de um debate para o governo do Estado e não para a Presidência da República”. Apesar disso, o tucano foi enfático nas críticas contra Dilma Rousseff (PT), a apelidando de “senadora paraquedista”.
Embates com Zema
O candidato do Novo ainda foi protagonista de diversos embates diretos com os candidatos, que o acusaram de desconhecer a máquina pública e de ser inexperiente. O principal deles foi contra Claudiney Dulim, que chegou a comparar Romeu Zema com o ex-presidente Fernando Collor.
O candidato do Avante afirmou que, apesar de compreender a indignação de Zema com relação ao tamanho da máquina do Estado e aos privilégios, “não há nada de novo em suas propostas”, que “foi uma pessoa que viveu em uma realidade principesca” ao longo da vida e que “nunca fez nada pela política, mas que agora, aos 53 anos, quer posar com o bastião da moralidade”.
Quando questionado por Dirlene a respeito de políticas públicas voltadas para as mulheres, os negros e os LGBTs, Zema preferiu ocupar seu tempo de resposta afirmando seu compromisso de campanha de “desinchar o Estado”. A psolista criticou o fato de o candidato do Novo não ter respondido à pergunta e ainda alegou que a máquina pública hoje não consegue oferecer atendimento digno a toda a população e que reduzi-la poderia ser um equívoco.
Zema ainda questionou o fato de Anastasia prometer em campanha que “reduzirá o Estado”, mas que, em sua gestão, “criou secretarias e fez obras monumentais” – se referindo especialmente à Cidade das Águas. O tucano retrucou, esclarecendo que, com o início da crise, em 2013, realizou uma reforma administrativa e afirmou que a obra citada pelo candidato do Novo foi custeada pelas Nações Unidas. Em outros momentos, o senador ainda fez questão de apontar a inconstitucionalidade em propostas de Zema, quando este diz que pretende “repartir as estatais para criar concorrência nos serviços” e que “quer transformar a Codemig em braço da Secretaria da Fazenda”.
Segundo turno
Todos os candidatos se mostraram confiantes para o segundo turno. Dirlene Marques afirmou que “caso não esteja na disputa, a decisão virá a partir de reuniões e plenárias com o partido”. Já Romeu Zema afirmou que “o Novo não apoiará nenhum partido de esquerda”.
Protesto
A primeira a chegar nos estúdios da Rede Globo foi a candidata Dirlene Marques, às 20h40, seguida de Adalclever Lopes, Claudiney Dulim, Romeu Zema, Antônio Anastasia e, por fim, o atual governador Fernando Pimentel, às 21h30, acompanhado da candidata a vice Jô Moraes (PC do B). João Batista Mares Guia, da Rede, não foi convidado para participar do debate uma vez que ele não atingiu o índice mínimo de 6% nas intenções de voto da última pesquisa encomendada pela TV e o partido também não tem a representatividade mínima de 5 deputados no Congresso Nacional.
Como já havia acontecido em outros debates, concursados da Polícia Civil manifestaram contra o governador Fernando Pimentel (PT) do lado de fora dos estúdios, exigindo a nomeação dos 627 investigadores aprovados em concurso. Na última semana, o governo convocou 65 dos classificados. Em menor número, alguns manifestantes favoráveis ao PT hasteavam bandeiras vermelhas com os nomes de Pimentel e do presidenciável petista Fernando Haddad.