Empresária mineira é vítima de ataques racistas da cunhada: ‘Preto fede a carniça’

jessica ipatinga
Jovem postou vídeo mostrando os ataques (Reprodução/@jhessyecristina/Instagram)

Atualização às 16:04 do dia 03/08/2021 : Esta reportagem foi atualizada para incluir a resposta da Polícia Civil de Minas Gerais, enviada após a publicação.

Uma empresária de Ipatinga, na região do Vale do Aço, sofreu ataques racistas vindos da própria cunhada. Em mensagens de áudios, a mulher que mora em Lisboa, capital de Portugal, disse que “preto fede a carniça”, dentre outras ofensas. Jéssica Henrique, 25, publicou um vídeo nas redes sociais pedindo ajuda diante da situação.

O BHAZ entrevistou a jovem na manhã desta terça-feira (3) e ela contou como tudo começou. “A família do meu marido tem um grupo no WhatsApp somente entre mãe e filhos. Por lá ele mandou um meme de um macaquinho brincando com a irmã dele. No entanto, ela não gostou e passou a me ofender”, disse.

A cunhada, segundo Jéssica, passou a compará-la com o meme enviado pelo marido. “Ela disse que o cabelo do macaco era igual o meu, que ela era bonita e tinha o cabelo loiro e eu era feia e o macaco a minha cara”. Os comentários deixaram a jovem e o marido dela chateados, tanto que o companheiro dela não parabenizou a irmã no dia do aniversário.

Mais ofensas contra Jéssica foram ditas pela cunhada por conta disso. “Ela reclamou por não ter recebido mensagens dizendo: ‘Teve um aí que não me deu parabéns. Tudo por causa daquela macaca’. Ainda disse que meu marido é um ‘gayzão’ e frouxo”.

‘Nojo de preto’

Os ataques racistas não pararam e mais ofensas foram ditas pela mineira que mora em Portugal. “Eu não gosto de preto não. Tenho nojo de preto. Preto fede a carniça. Preto fede a sovaco. Seu cabelo vai estar todo seco e estrago. Se você não passar um químico, ele não vai ficar bom. O meu cabelo não precisa. Ele é lindo e maravilhoso”, disse.

Jéssica recebeu apoio do marido e dos familiares dele que repreenderam a mulher por tudo que foi dito. “Meu esposo ficou super revoltado e ficou 100% do meu lado. Disse para ela que racismo é crime e cabe até processo o que foi feito por ela”.

A jovem empresária relembra ter ficado muito entristecida diante de tudo que aconteceu. “Eu ia levar na brincadeira tudo aquilo, mas depois de mostrar para amigos e familiares fiquei revoltada e triste. Ela falou da minha cor, da minha condição financeira. Fez comparativos de nós duas”.

A cunhada bloqueou Jéssica e o marido das redes sociais após o vídeo com os áudios viralizarem. Mesmo assim, mandou uma mensagem pedindo desculpas, o que não convenceu a jovem. “Não acredito que ela esteja arrependida”.

Apoio

Desde que postou o vídeo nas redes sociais, Jéssica tem recebido muitas mensagens de apoio. “É bom saber que nossa cor não definem quem somos. Muita gente tem mandado mensagem. Só tenho que agradecer”

Jéssica ainda vai realizar um boletim de ocorrências sobre o ataque racista. “Como eu disse, pensei em não mexer com isso, mas não podemos deixar passar”. A jovem chegou a ir em uma delegacia, mas foi informada que a representação criminal contra a cunhada seria difícil de acontecer, pois ela mora fora do Brasil.

Jéssica deixa uma mensagem para todos sobre a importância de denunciar casos como o dela. “A luta contra o racismo é coletiva e não individual. Se todos nós que sofrermos fizermos a denúncia, a gente ajuda a sanar este problema. Eles vão ver que não fica de graça falar qualquer coisa contra nós”, finaliza.

O que diz a polícia?

Procurada pelo BHAZ, a Polícia Civil informou que entrou em contato com a vítima. “Ela irá comparecer nesta quarta-feira na Delegacia Regional de Políica Civil de Ipatinga para o devido registro do boletim de ocorrência”, diz trecho da nota (leia na íntegra abaixo).

A corporação disse ainda que vai apurar os fatos e que outras informações “serão repassadas em momento oportuno”.

Racismo é crime

De acordo com o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), é classificada como crime de racismo – previsto na Lei n. 7.716/1989 – toda conduta discriminatória contra “um grupo ou coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça”.

A lei enquadra uma série de situações como crime de racismo. Por exemplo: recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais, negar ou obstar emprego em empresa privada, além de induzir e incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. O crime de racismo é inafiançável e imprescritível, conforme determina o artigo 5º da Constituição Federal.

Nota da PCMG na íntegra

A Polícia Civil de Minas Gerais realizou contato com a vítima do eventual crime de injúria racial, em Ipatinga. Ela irá comparecer nesta quarta-feira (4/8) na Delegacia Regional de Polícia Civil de Ipatinga para o devido registro do Boletim de Ocorrência/REDS. A PCMG apura os fatos. Outras informações serão repassadas em momento oportuno.

Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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