Um golpe de estelionato envolvendo um esquema de pirâmide financeira com abrangência em todo o país foi desmantelado após seis meses de investigações pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG). O suspeito de liderar a organização criminosa foi preso em uma pousada luxuosa no distrito de Arraial d’Ajuda, Porto Seguro (BA), onde levava uma vida de luxo. A PCMG calcula que cerca de 6 mil pessoas possam ter caído no golpe.
De acordo com a PCMG, o mineiro Marcel Mafra Bicalho, de 34 anos, mentor e líder da organização criminosa, e um dos integrantes do grupo, Leonardo Oliveira Silva, apontado como laranja nas operações, foram presos durante a ação policial. A prisão ocorreu no dia 1º de agosto, na Bahia, mas só foi divulgada nesta segunda-feira (19).
Além dos dois homens, dois carros, um deles no valor de R$ 450 mil, notebooks e TVs foram apreendidos na pousada de luxo.
As informações da PCMG são de que uma das vítima chegou a ter prejuízo superior a R$ 1 milhão com os golpes.
Em entrevista ao BHAZ, o delegado Gustavo Barletta, titular da 2ª Delegacia Especializada em Furtos e Roubos do Depatri/PCMG (Departamento Estadual de Crimes contra o Patrimônio de Minas Gerais), explica que a movimentação bancária de Marcel e de outras pessoas do grupo, que trabalhavam como laranjas e funcionários da empresa financeira, indica uma movimentação em torno de R$ 800 milhões.
“Não podemos afirmar que todo o dinheiro veio das pessoas que participaram da pirâmide financeira, e não sabemos para onde ele teria desviado ou aplicado os recursos”, diz o delegado.
De acordo com Barletta, Marcel Mafra se apresentava como professor e investidor. “Ele nega ser criminoso e estelionatário. De fato ele não é um criminoso violento, mas aplicava golpes de ‘colarinho branco'”, explica o delegado.
Segundo a PCMG, Marcel Mafra se apresentava às vítimas com o nome de Marcelo Matos, como investidor financeiro e professor – tinha inclusive um canal no YouTube e em outras redes sociais, no qual dava aulas sobre investimentos.
“Ao ser preso, ele alegou problemas econômicos, assim como o Brasil. Disse que quebrou e que vai pagar as pessoas, mas acreditamos que ele não tenha condições para isso”, acrescenta o delegado.
O golpe
Segundo os levantamentos dos policiais civis do Depatri, Marcel Mafra, que iniciou as atividades criminosas em Montes Claros, no Norte de Minas, fundou a empresa Mattos Investing com o objetivo de captar investidores no setor de criptomoedas e mercado forex, um mercado financeiro descentralizado destinado a transações de câmbio que envolvem a compra de uma moeda simultaneamente com a venda de outra.
Mafra Bicalho teria organizado uma rede de captadores que prometia retorno dos investimentos com taxas de 30% a 100% ao mês, com aporte mínimo de R$ 1,5 mil.
“A gente não tem certeza se ele de fato atua no mercado forex. A pirâmide funciona como uma bolha: ele chegava a pagar esses rendimentos aos novos clientes, usando os recursos dos mais antigos. Esse golpe, chamado de pirâmide financeira, é uma bolha que cresce e depois fica insustentável. Imagine você pagar 30% ao mês de um investimento?”, acrescenta o delegado Gustavo Barletta.
Há cerca de um ano, a empresa desapareceu do mercado e Marcel se escondia dos credores de diversas regiões do país. Na pousada de luxo em que morava, pelo aluguel de R$ 30 mil ao mês, ele contava com seguranças armados e chegou até mesmo a se isolar em uma ilha do litoral baiano em uma das fugas.
De acordo com o delegado, a operação teve início depois de algumas vítimas mineiras terem denunciado o falso investidor à PCMG, no início do ano. “Temos conhecimento de cerca de 6 mil pessoas que podem ter sido vítimas do grupo criminoso, grande parte em Minas Gerais, mas de norte a sul, leste e oeste do Brasil”.
Prisão e novas diligências
Marcel Mafra Botelho e Leonardo Oliveira Silva estão presos no Ceresp em Belo Horizonte e à disposição do sistema penitenciário mineiro, que deverá fazer a remoção deles para outro local. Botelho responderá pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e estelionato, além de evasão de divisas. Leonardo, por sua vez, responderá por organização criminosa, lavagem de dinheiro e estelionato.
A prisão de ambos não encerra as investigações da Polícia Civil neste caso. “Faremos diligências para tentarmos localizar as pessoas que eram captadoras de Marcel Mafra Bicalho. A partir do momento que o negócio dele cresceu, ele não aparecia mais. Colocava outras pessoas para trabalhar para ele. Ele nos contou que tinha cerca de 10 mil clientes”, completa o delegado.
Com informações da PCMG