Feriado prolongado pode aumentar velocidade de transmissão da Covid

pessoas nas ruas
Quanto mais pessoas circulam, maior a tendência do vírus se propagar (Moisés Teodoro/BHAZ)

A proximidade do feriado de Corpus Christi e as viagens realizadas pela população para aproveitar a folga prolongada preocupa médicos infectologistas. O motivo é o possível aumento no ritmo de contágio da Covid-19 e, por consequência, as ocupações nos leitos hospitalares. Especialista ouvido pelo BHAZ diz que “as pessoas ainda não entenderam a gravidade da situação”.

Dados do Boletim Epidemiológico e Assistencial da PBH (Prefeitura de Belo Horizonte) indicam que a capital mineira tem 203.713 casos confirmados do novo coronavírus e 5.013 mortes. O número médio de transmissão por infectado (RT) está em 1,08 – nível amarelo. O recomendado é que ele fique na cor verde. Os números são de ontem (26).

O aumento do contágio pode ser explicado pelas aglomerações realizadas, por exemplo nos Dias das Mães. “O aumento na transmissão já era previsto. Estávamos preocupados com esta data comemorativa. A conta chega duas semanas depois. As reuniões de família acabam gerando aceleração da pandemia”, diz o infectologista Carlos Starling.

Indicadores BH
Índices da pandemia em BH (Reprodução/PBH)

O especialista que integra o Comitê de Enfrentamento à Covid-19 da PBH destaca que as datas comemorativas e os feriados prolongados são seguidos de “aumento da incidência do vírus”. “Isso vai continuar acontecendo enquanto as pessoas não manterem as recomendações e ajustarem suas condutas”.

‘Consciência’

A dificuldade das pessoas respeitarem o isolamento se dá, segundo Starling, pois nossa sociedade não estava acostumada a viver reclusa. “O nosso jeito de viver era outro. Culturalmente você não muda uma sociedade num período tão curto. Não conseguimos fazer as pessoas terem consciência da noite para o dia”.

“A consciência [sobre a Covid-19] chega na medida que as pessoas passam pelo drama da doença. Consciência é algo que demora e não se adquire com um ano”, afirma.

Alerta redobrado

A descoberta da cepa indiana é motivo de atenção redobrada, ainda mais pelo fato dela ser mais transmissível. “Ela já está circulando no país e pode se disseminar rapidamente com as viagens que as pessoas fazem de um lugar para o outro. Ainda não sabemos se ela é mais letal”.

As cepas alteram a estrutura viral e conferem ao vírus o aumento da incidência da doença e da gravidade, conforme explica Starling. “As cepas mudam até o perfil etário dos contaminados. Agora, a doença ficou mais jovem e muitos estão para o hospital e ficando grave. A doença rejuvenesceu”.

Para exemplificar o que disse, o médico contou que está acompanhando um paciente de 26 anos. “Antes era uma doença de idoso e agora estamos com jovens de 20 anos hospitalizados. Estou com um jovem intubado, em estado grave na terapia intensiva”.

Mesmo com a pandemia entre nós há mais de um ano, o médico diz que nem todos compreenderam o momento que vivemos. “As pessoas não entenderam a gravidade da situação ou simplesmente adotam a mesma postura do presidente da República que vem cometendo um crime sanitário”, conclui.

Edição: Vitor Fernandes
Vitor Fórneas[email protected]

Repórter do BHAZ de maio de 2017 a dezembro de 2021. Jornalista graduado pelo UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e com atuação focada nas editorias de Cidades e Política. Teve reportagens agraciadas nos prêmios CDL (2018, 2019 e 2020), Sebrae (2021) e Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados (2021).

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