Goleiro Bruno culpa a mídia por ‘aposentadoria forçada’ no futebol: ‘Prisão perpétua’

Goleiro Bruno entrevista Flamengo
Fala foi dita em entrevista para canal flamenguista (Reprodução/Youtube)

O goleiro Bruno Fernandes – condenado por homicídio triplamente qualificado de Eliza Samúdio, mãe de seu filho, e de cárcere privado do próprio filho, Bruninho – culpou a mídia pela parada na carreira no futebol, aos 36 anos. Bruno ainda contou, em entrevista ao canal “Nação Urubu 81”, nesse sábado (10), que não voltará mais aos gramados e está investindo no mercado financeira para sustentar os filhos. Na fala, no entanto, o ex-goleiro não inclui o filho Bruninho, que ainda vive sem a pensão do pai.

“Na verdade, eu tenho lenha para queimar ainda, teria condições para continuar jogando, meu preparo físico é bom. Eu tinha a intenção, depois de ter enfrentado a situação que todo mundo já conhece, de dar a volta por cima, de mostrar que todo ser humano é capaz de recomeçar, o ser humano é maior que seu próprio erro. Eu tinha, sim, a vontade de continuar no futebol, até porque é um sonho de criança, que foi realizado”, disse em entrevista.

Bruno culpa a “pressão midiática” pela interrupção de seu sonho no futebol. “Infelizmente não consegui. Deixei isso em terceiro ou quarto plano por causa da pressão midiática. Onde eu saio, aonde eu vou, eu arrasto multidões. Sou abraçado, acolhido, principalmente no Rio de Janeiro. Então, o que mais pegam no meu pé é a questão midiática”, argumenta.

O mineiro lamenta que o jogador “bad boy” não tem a suposta visão positiva de antigamente. “O futebol mudou muito. Hoje eles olham para essa questão de imagem, o jogador bad boy não é enxergado como era antigamente, o futebol mudou muita coisa nesse sentido. Então a mídia meio que colocou sobre o Bruno uma prisão perpétua, como se ele não pudesse recomeçar”.

Ressocialização X Glamorização

Bruno argumenta que a volta ao futebol seria um meio de ressocialização do ex-detento. “A nossa legislação fala que a gente tem que ser ressocializado, com trabalho, para ser o provedor da casa. No meu caso não. Infelizmente enterraram meu sonho, meus objetivos, minha profissão”, reclama.

Bruno cumpre pena em regime semi-aberto há dois anos. Depois que saiu da prisão, o ex-jogador recebeu várias propostas de contração, sendo uma delas do time mineiro Poços de Caldas FC. Na época, Sônia, a mãe de Eliza Samúdio, concedeu entrevista exclusiva ao BHAZ. “Eu sou a favor do condenado trabalhar, não sou contra a ressocialização, mas ele matou uma pessoa brutalmente, e me assusta pensar que ele pode ser ídolo de uma criança”, afirmou (releia a entrevista completa aqui).

O ex-goleiro tentou retornar ao futebol em diversas oportunidades, mas todas marcadas por polêmicas. No ano passado, o mineiro entrou oficialmente no time acreano Rio Branco, onde marcou o primeiro gol, depois de mais de 10 anos, período no qual ficou preso. Quando confirmada a contratação pelo Rio Branco, a técnica do time feminino, Rose Costa, pediu demissão da agremiação

Na mesma época da entrevista com a mãe de Elisa Samúdio, a coordenadora do Movimento de Mulheres Olga Benário e da Casa de Referência da Mulher Tina Martins, Indira Xavier, afirmou ao BHAZ que o assunto em tese é bastante complexo e exige um diálogo aprofundado. “Eu não concordo com um Estado punitivista, que encarcera e acha que isso resolve o problema. O condenado precisa trabalhar, sim, mas é necessário analisar caso a caso”, ponderou.

“No caso em questão, ele retornar para uma posição de tamanho destaque, é um dano para a sociedade. As pessoas são reflexo do meio social e violência contra a mulher é uma construção social. Alguém que cometeu um crime tão grave quanto o dele, inclusive com ocultação de cadáver, ter essa visibilidade agora, naturaliza a violência”, afirmou.

‘Essa é a única opção?’

“Ele voltar a uma posição similar a que estava antes, ter a possibilidade influenciar socialmente, de ser um ídolo para crianças e uma referência masculina, dá a impressão de que se pode cometer esse tipo de violência, cumprir a determinação judicial e que está tudo bem”, destacou Indira.

Ela ressaltou a necessidade de ressocialização, mas com ressalvas. “É uma situação muito complexa. Ele deve trabalhar sim, mas essa é a única opção? Esse lugar de destaque? Será que é a única coisa que ele sabe fazer? Ele é jovem, pode ser qualificado, reinserido, mesmo que no mundo do futebol – algo que ele tem conhecimento, mas não com esta visibilidade, talvez nos bastidores. Achamos que ele não deve voltar pra esse lugar de destaque, de prestígio”.

O especialista em segurança pública e ex-secretário de Defesa Social do Estado de Minas Gerais, Luis Flávio Sapori, também conversou com a reportagem e discordou do raciocínio ao afirmar que “delimitar a atuação seria um absurdo em vários sentidos”. “Se ele pode retomar o trabalho que ele sabe fazer, ele não pode ser impedido. Eu acredito, inclusive, que ele não vá alcançar a posição de ídolo. Ele vai voltar com um estigma, vai ser pra sempre ‘o mandante do assassinato da Eliza’. É uma mancha indelével, um estigma merecido inclusive”, disse.

O estudioso ainda reforça que Bruno está “cumprindo devidamente o que a lei prescreve”. “É compreensível a dor dos familiares e a critica que parte da sociedade faz, mas não há nada de excepcional nesse contexto. Não há como pensar algo diferente, inclusive porque a lei de execução penal no Brasil trabalha com a ideia de menos punição e muito mais com a ideia de reinserção do preso”, argumentou Sapori.

Já Indira alegou que usar como base apenas o argumento jurídico não é a melhor saída. “No Estado, certas condutas sociais não são permitidas, exatamente para garantir o bem estar coletivo. O limite jurídico foi alcançado por esse indivíduo. Ele cumpriu o que a lei previa. Mas o limite social que ele rompeu com o crime que cometeu, suscita algo maior a respeito das sanções legais estabelecidas, uma interpretação no sentido de talvez delimitar o campo de atuação profissional dele”.

Mercado financeiro e filhos

Com os impeditivos no futebol, Bruno já anunciou que deixou de vez o esporte e está focado em trabalhar com investimento financeiro. “Tenho três filhos pra cuidar, hoje a prioridade da minha vida é o mercado financeiro. Tem que estudar bastante, porque não é nada fácil como vendem por aí. Tenho como suporte a minha mentora. Se não tiver uma pessoa que dê esse suporte a gente meio que empolga e faz muita besteira”, disse.

O goleiro, na realidade, tem quatro filhos, mas não cita Bruninho, fruto da relação com Eliza Samudio. O garoto vive sem pensão e a mãe de Eliza Samudio está lutando na Justiça há 10 anos para que Bruno cumpra os deveres de pai e arque com os direitos de Bruninho, entretanto, sem sucesso. “O processo de pensão alimentícia foi aberto quando minha filha ainda estava viva. Até hoje, Bruno não depositou um centavo para o filho”, revelou Sônia.

Edição: Vitor Fernandes

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!