Gravações indicam envolvimento direto de Bolsonaro em rachadinhas

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O nome de Jair aparece diversas vezes nas gravações (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Gravações obtidas com exclusividade pela colunista Juliana Dal Piva, do UOL, indicam o envolvimento direto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com o esquema de rachadinhas, durante o período em que foi deputado federal. O termo “rachadinha”, popularizado nos últimos anos após denúncias de envolvimento de Flávio Bolsonaro (Patriotas) e Fabrício Queiroz, diz respeito a um esquema ilegal de entrega de salários.

Os áudios são da fisiculturista Andrea Siqueira Valle, ex-cunhada do presidente, ainda em 2018 e 2019, revelando detalhes do esquema. Uma das pessoas que ouviu a mulher entregou os áudios à colunista na condição de anonimato. A coluna confirmou a autenticidade das gravações. Em uma das falas, Andrea conta que o irmão, André Siqueira Valle, foi demitido do gabinete de Jair Bolsonaro por se recusar a devolver a maior parte do salário como assessor. Os dois são irmãos de Ana Cristina Siqueira Valle, ex-mulher e segunda esposa do presidente.

“O André deu muito problema porque ele nunca devolveu o dinheiro certo que tinha que ser devolvido, entendeu? Tinha que devolver R$ 6.000, ele devolvia R$ 2.000, R$ 3.000. Foi um tempão assim até que o Jair pegou e falou: ‘Chega. Pode tirar ele porque ele nunca me devolve o dinheiro certo’. Não sei o que deu pra ele”, disse Andrea.

A mulher também participava do esquema, durante vinte anos, conforme apurado pelo UOL. As apurações indicam que Andrea e André trocaram de lugar nos gabinetes de Carlos e de Jair Bolsonaro. A ex-cunhada consta como assessora de Jair Bolsonaro, de 30 de setembro de 1998 a 7 de novembro de 2006. Na época, o atual presidente era deputado federal, mas assessora nunca morou em Brasília. Do contrário, a reportagem apurou que a fisiculturista frequentava academias três vezes por dia e era conhecida por fazer bicos com faxina.

Depois desse período, a mulher foi nomeada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, onde permaneceu até setembro de 2008, no gabinete de Carlos Bolsonaro (Republicanos). Logo após, foi para o gabinete de Flávio Bolsonaro, onde ficou até agosto de 2018, perto das eleições presidenciais. No último ano em que esteve nomeada, o salário bruto era de R$ 7.326,44, fora os benefícios recebidos.

Andrea foi procurada pelo Uol para falar das gravações, mas, de acordo com a coluna, leu as mensagens e depois bloqueou os contatos no telefone e nas redes sociais.

Mais um Queiroz

As gravações ainda mostram que Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro e investigado pelo envolvimento em rachadinha no gabinete, não era o único que recolhia os salários para a família Bolsonaro. Em um dos áudios, a ex-cunhada do presidente menciona o coronel da reserva do Exército Guilherme dos Santos Hudson, ex-colega de Bolsonaro e tio de Andrea.

“O tio Hudson também já tirou o corpo fora, porque quem pegava a bolada era ele. Quem me levava e buscava no banco era ele”, afirmou Andrea, em referência à época em que ela constava como assessora do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro).

Queiroz, contudo, não deixou de ser mencionado. Em outra conversa obtida pela reportagem, entre Márcia Oliveira de Aguiar e Nathália Queiroz, esposa e filha de Fabrício, em outubro de 2019, já na época das investigações, as duas falam sobre a impossibilidade de Queiroz continuar nos esquemas de corrupção.

“É chato também, concordo. É que ainda não caiu a ficha dele que agora voltar para a política, voltar para o que ele fazia, esquece. Bota anos para ele voltar. Até porque o 01, o Jair, não vai deixar. Tá entendendo? Não pelo Flávio, mas enfim não caiu essa ficha não. Fazer o quê? Eu tenho que estar do lado dele”, respondeu Márcia, em um dos áudios. As duas se referem a Jair como “01”.

Ao ser informado sobre as gravações da ex-cunhada de Bolsonaro, o advogado Frederick Wassef, que representa o presidente, e que escondia Queiroz enquanto o ex-assessor estava foragido da polícia, negou ilegalidades e disse que existe uma antecipação da campanha eleitoral de 2022.

Já o advogado Magnum Cardoso, que atua na defesa que atua na defesa de Ana Cristina Valle e sua família, disse por nota que os clientes decidiram que não iriam se pronunciar. Escute as gravações abaixo:

Edição: Vitor Fernandes

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