O ambientalista Ailton Krenak já nos alertava, em 2019, sobre “Ideias para adiar o fim do mundo”. Agora, a Companhia Circunstância se inspira no livro do líder indígena e apresenta novo espetáculo, que também celebra as duas décadas de atividades artísticas. “El Grande Circo Firinfinfim” estreia neste final de semana, em BH, com entrada gratuita e aberta ao público.
Nesse mundo às avessas, como diz o xamã yanomami Davi Kopenawa, o espetáculo versa, entre outras questões, a ideia dos paraquedas coloridos de Krenak. “Fomentado pelos estudos de Manu Pessoa, percebemos como essas ideias dialogam tão intensa e profundamente com a lógica da palhaçaria: mesmo com tudo perdido, ainda há esperança”, pontua Dagmar Bedê, artista mineira da Companhia, sobre o fim do mundo.
A estética da peça é inspirada no filme “Bye Bye Brasil”, de Carlos Diegues. O longa acompanha uma trupe mambembe que roda o interior do país, enquanto os artistas se envolvem em situações que destacam contradições entre o moderno e o tradicional. Em “El Grande Circo”, a nova trupe viaja por rincões brasileiros, tendo em vista o aquecimento global, a devastação ambiental e o extermínio de povos originários.
Segundo Dagmar, a esperança na palhaçaria não se apresenta daquela tola, como se num passe de mágica tudo fosse se recompor. “Mas que podemos deixar a vida mais leve e promover pequenas mudanças cotidianas para que, a cada dia, a realidade seja menos dura e mais colorida. E esse caminho se faz, também, através da arte e, em especial, do circo”, diz.
Dramaturgia
A dramaturga Idylla Silmarovi conta que, ao se deparar com o livro de Krenak, se viu diante de uma grande responsabilidade, que é pensar sua obra numa perspectiva cênica. “A primeira questão que eu abordo, e que para mim é basilar no livro, é quando Krenak fala que adiar o fim do mundo é contar mais uma história. E temos várias como a colonização e a escravidão. Só no planeta Terra aconteceram cinco processos de extinção em massa. E o nosso fim do mundo é mais um fim de um organismo que é o planeta”.
Idylla explica que lidamos com esse fim do mundo como se fosse o fim de tudo, como se fosse o fim da Terra, o fim da nossa espécie. A proposta da peça também é brincar um pouco sobre isso, sobre esses vários fins. “Alguns fins de mundo que o espetáculo abarca são reais, já aconteceram, e outros fins de mundo são sonhos”, diz.
“Espero com esse texto a gente consiga honrar, em alguma medida, a trajetória do Ailton Krenak e demonstrar o nosso respeito pelo pensamento dele. E também honrar a tradição circense das famílias do circo, das pessoas que seguem fazendo a rua viva, adiando o fim do mundo. A arte não vai resolver o problema, mas eu espero que a gente plante esse pensamento pelo menos na rua, contar mais uma história na praça pública e ganhar, sei lá, mais três minutos de vida”, brinca.
Então se liga!
A estreia do espetáculo “El Grande Circo Firinfinfim” acontece em duas datas: sábado (13), às 15h30, na praça Presidiário Michel Temer, na Ocupação Dandara, e no domingo (14), no mesmo horário, no Quilombo dos Luízes. A apresentação de sábado terá interpretação em Libras. Ambas são gratuitas.