Conheça a Black Pantera, banda mineira de metal antirracista: ‘Nosso discurso é bem escuro’

banda black pantera
(Divulgação/Ênio Cesar)

O “fogo nos racistas” não tem sido cantado somente por Djonga. A banda de metal e punk “Black Pantera” está gritando a frase a plenos pulmões não só no álbum “Ascensão”, mas também nos discursos que regem o papel político de ser um grupo formado somente por integrantes pretos.

O rock and roll tem cultivado um público reaça nos últimos anos. Não dá para resumir em poucas palavras a causa desse fenômeno, mas certo é que o conservadorismo achou uma brecha no público de um gênero que nasceu nas comunidades negras norte-americanas e se firmou na sociedade como um movimento contracultural.

Como, então, ser uma banda de metal que canta “Padrão é o C*ralho” em uma bolha que é tão branca?

Início de tudo

A história começa ainda na infância dos irmãos Chaene da Gama (baixo e backing vocal) e Charles Gama (vocal e guitarra), nascidos em Uberaba, no Triângulo Mineiro.

A dupla cresceu acompanhando o pai, que trabalhava montando palcos e sons de bandas baile e sertanejos da cidade. Aliado a isso, o gosto pela música foi fundamental para que os dois, ainda adolescentes, tivessem a ideia tão comum à idade de formar uma banda.

“Aí você começa a ver os shows em VHS, não tinha internet nem nada, mas a gente não tinha esse recorte racial. Tanto que ouvíamos muito, ‘ah mas vocês são pretos e gostam de rock?’´. Tinha esse esteóretipo”, conta Chaene ao Guia BHAZ.

Aventura na banda cover

Mesmo com o estranhamento de pessoas ao redor, Chaene e Charles criaram uma banda cover, chamada “Metal Machine”. Com ela, a dupla reproduzia músicas de bandas como Sepultura, Twisted Sister, Slipknot e Metallica.

Cansado de fazer covers, Charles decidiu que queria começar a trabalhar de forma autoral. “O Charles não se sentia representado na cena do movimento do rock como um todo, nenhum de nós, porque é tudo muito branco. Você contava no dedo as pessoas pretas num rolê de rock”, diz Chaene.

“Ele não sentia essa representatividade, quase não tinha e falava, ‘na falta disso eu vou ser essa representatividade”, completa. Em 2014, Charles passou um ano compondo onze das doze músicas do primeiro álbum da banda, o “Project Black Pantera”.

Chaene não botava muita fé, e muito menos Rodrigo Pancho, que hoje é o baterista do trio. Nisso, a dupla seguiu com projetos paralelos, enquanto Charles aprendeu a tocar guitarra e fez as composições.

Ponto de virada

“E aí eu fui conhecendo o estúdio e entendi o que era, e aquilo foi um estalo. A partir daquele ponto, eu entendi que aquilo era o que eu queria fazer. A banda começou de forma despretensiosa, o nome já era Project Black Pantera em homenagem aos panteras negras”, relembra Chaene.

Chaene e Rodrigo contam que a banda tinha um certo recorte racial no primeiro álbum, mas que eles ainda não tinham muito letramento racial. “A gente percebeu que o nome Black Pantera é um peso muito grande, então nós precisávamos nos aprofundar cada vez mais”, lembra Rodrigo.

“Então você ouve o primeiro disco, o segundo e o terceiro (Ascenção), mais esse último EP, e você vê que realmente tem mais profundidade. E isso foi construído, a gente foi se entendendo e se aprofundando, mas tudo graças ao público da banda indicando filmes, livros”, completa.

Chaene, Charles e Rodrigo, da banda Black Pantera (Divulgação/Ênio Cesar)

Black Pantera se torna antirracista

Dessa forma, ao longo dos anos, a Black Pantera se apoderou sobre os estudos a respeito do movimento negro. Nessa medida, o discurso da banda ficou cada vez mais contundente em relação à questão racial negra, e hoje é o principal motor das composições e acordes agressivos do trio.

No ano passado, a Black Pantera abriu o Rock in Rio, no dia 2 de setembro, no Dia do Metal. A apresentação foi um divisor de águas na carreira dos três artistas. “Foi a experiência da vida, a gente nunca tinha ido para o Rock in Rio sequer para assistir, então chegamos com os dois pés na porta”, declara Rodrigo.

“Para mim foi emocionante em todos os sentidos porque meus pais foram, e ver os dois ali na grade esperando com minha esposa e minhas filhas foi algo muito simbólico. A primeira banda no primeiro dia que o Rock in Rio voltou e é uma banda preta significou muito”, afirma Chaene.

Na última sexta-feira (17), a Black Pantera lançou o EP “Griô”, que faz referência aos oradores da África do Sul que repassavam ensinamentos sobre a cultura do país. O trabalho é todo em inglês, com a intenção de fazer a mensagem da banda chegar em mais lugares.

Para quem quiser conferir o trabalho do grupo ao vivo em Belo Horizonte, eles estão com um show marcado para o dia 15 de dezembro. O endereço e horário vão ser divulgados em breve, então, fique de olho no Instagram da Black Pantera.

Edição: Lucas Negrisoli
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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