O Dia Nacional do Teatro é celebrado nesta quinta-feira (19). A data busca homenagear os profissionais das artes cênicas, além de difundir o direito do público à técnica que, firmada na origem da sua palavra, cria um espaço de contemplação e observação.
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Só na capital mineira, conforme a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), existem 556 estabelecimentos identificados na categoria Produção Teatral, onde as companhias teatrais estão inseridas. Além disso, BH conta com três teatros municipais, sendo eles: Teatro Marília, Teatro Francisco Nunes e Teatro Raul Belém Machado.
O BHAZ aproveitou “a deixa” da celebração para trazer alguns grupos teatrais que nasceram em Minas Gerais e são responsáveis, não apenas por levar a prática artística a um público diversificado, mas também por usar o teatro como uma importante ferramenta de transformação social.
Teatro para todos e de qualidade
O teatro é uma das manifestações artísticas mais antigas do mundo, tendo se consolidado entre os séculos XIV e IX a.C., na Grécia Antiga. No Brasil, o formato artístico só chegou em 1808, acompanhado pelo navio que trouxe a Família Real Portuguesa às terras brasileiras, já que, naquela época, o rei Dom João XVI convidava companhias teatrais estrangeiras para entreter a corte. Até então, desde o século XVI, o teatro fazia parte das atividades da Igreja Católica, com objetivo de disseminar a religião.
Historicamente, o teatro era associado às classes mais altas, já que era visto como uma atividade de prestígio e entretenimento. Porém, a partir do século XIX, a arte passou a ser democratizada, sobretudo com o surgimento de teatros populares, que tinham o propósito de alcançar as diferentes camadas sociais. O gênero era feito, principalmente, em circos, praças e espaços públicos, por artistas mambembes.
“Teatro para todos e de qualidade”, inclusive, foi uma das premissas do ator, diretor e produtor francês Jean Vilar, responsável por criar o Teatro Nacional Popular da França, em 1951. O local foi responsável pela descentralização da atividade teatral no país europeu, ação já trabalhada, em 1947, no Festival de Arte Dramática de Avignon, também criado pelo ator. O lema, inclusive, norteou a criação do que se tornaria uma das principais companhias de teatro do Brasil: o Grupo Galpão.
Segundo o ator, diretor e fundador da companhia teatral mineira, Eduardo Moreira, foi a partir do teatro popular que surgiu o teatro de rua, dois gêneros que fazem parte das raízes do Galpão. “O teatro de rua é sempre popular, porque está sempre voltado para os diferentes tipos de público, das mais variadas classes sociais e níveis intelectuais de formação de educação. Então, é mesmo um teatro para todos”, disse.
Ele também explicou, durante entrevista ao BHAZ, que diferentemente do teatro tradicional, encenado nos palcos, o teatro de rua – e, consequentemente, popular – exige do artista certas preparações. Isso porque a arquitetura do teatro convencional é pensada para oferecer uma estrutura hierárquica, criando uma noção espacial e de visão que colocam o ator em uma posição privilegiada.
“Na rua isso desaparece, porque os espetáculos são feitos em lugares, muitas vezes, inóspitos. O ator precisa lutar contra a dispersão, há muito barulho e coisas acontecendo. Por isso, ele precisa de uma expressividade mais ampliada, como o uso de figurinos chamativos e trabalhar bastante a voz. A atenção tem que estar no artista, entende?”, completou.
Apesar dos esforços corriqueiros, para Eduardo, se apresentar na rua é gratificante, pois cria um momento de comunhão com o público. “Acredito que seja a sensação de qualquer ator que leva a expressão teatral para rua, afinal, é uma ação democrática. O público fica agradecido, o que é bonito, afinal, é um momento de entrega para todos”, afirma.
Galpão
Fundado em 1982, o Grupo Galpão surgiu após os atores fundadores Teuda Bara, Eduardo Moreira, Wanda Fernandes, Antonio Edson e Fernando Linares, participarem de uma oficina ministrada por dois diretores da companhia alemã Teatro Livre de Munique, que trabalha técnicas de teatro de rua. “Isso nos instrumentalizou para trabalhar, pois aprendemos vários processos, como as próprias pernas de pau e a teatralização de objetos. E, quando começamos a fazer espetáculos na rua, tivemos uma simpatia enorme e ficamos muito entusiasmados”, relembrou o diretor.
Eduardo também afirma que o teatro de rua foi fundamental para a sobrevivência do Galpão, já que, na época, por não serem tão conhecidos, não conseguiriam concorrer com o teatro público. “Fomos para a rua. Se não tínhamos o palco para fazer teatro, nós dávamos um jeito e fazíamos onde podia. Vivemos essa filosofia e foi bastante útil para nós”, contou.
Ainda que tenha nascido entre as montanhas do belo horizonte, o Galpão é um dos grupos que mais viaja, não somente para o exterior, participando de festivais em países da América Latina, América do Norte e Europa, mas também pelo território brasileiro. Neste ano, a companhia teatral celebrou a conquista de ter se apresentado nos 26 estados brasileiros e no Distrito Federal, alcançando mais de dois milhões de pessoas.
“Estivemos recentemente em Rondônia, Acre, Amapá e Roraima e completamos o mapa inteiro do Brasil. Isso é muito significativo, pois temos a missão de levar o teatro para comunidades e locais fora do grande circuito. E o fato de fazermos teatro de rua é fundamental. Se não fosse a rua, não teríamos conseguido”, pondera.
Ao longo dos 42 anos da trupe composta por 12 atores, foram mais de quatro mil apresentações e 26 espetáculos. Para o fundador, um dos momentos mais marcantes da trajetória foi durante a realização de uma peça no período natalino. “Nesta época temos o costume de ‘passar o chapéu’ no final da apresentação. Neste dia, outras crianças, que estavam com caixinhas de natal, colocaram uma pequena contribuição no chapéu. Ainda que elas estivessem em uma situação vulnerável, elas reconheceram o nosso trabalho diante delas”.
Além da difusão cultural, o grupo é comprometido com a formação de professores, estudantes, técnicos, classe artística e pesquisadores no campo do teatro e da arte. Para isso, foi fundado, em 1998, o Galpão Cine Horto, espaço aberto a comunidade e que conta com sala de cinema, teatro e salas de aula. O centro cultural está localizado no bairro Horto, região Leste de BH.
Até o fim deste mês, o Galpão faz a Turnê Jequitinhonha, com apresentações da peça “Till – A saga de um herói torto em Araçuaí”. Os espetáculos acontecem em diferentes cidades mineiras, como Capelinha, Turmalina e Itamarandiba, todas localizadas na região do Vale do Jequitinhonha. Mais informações sobre a programação é só clicar neste link.
Maria Cutia
Outro grupo dedicado ao teatro de rua é o Maria Cutia, também fundado em BH. Assim como o Galpão, a iniciativa da companhia é espalhar o teatro por praças e palcos, capitais e sertões, sendo movidos pela comunhão com o público e por uma poética lúdica e musical. Além disso, concentra a investigação cênica na linguagem do palhaço, das máscaras expressivas e das tradições brincantes do país.
Formada pelos atores-cantores-palhaços-músicos-brincantes Leonardo Rocha, Mariana Arruda e Hugo Silva, e pela produtora Luisa Monteiro, o Grupo Maria Cutia, desde 2006, já se apresentou em mais de 180 cidades espalhadas pelos 22 estados do Brasil. Os dez espetáculos da companhia também romperam as barreiras do território brasileiro, apresentados em cinco países da África de língua portuguesa, como Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique.
Neste mês, o grupo apresenta as peças “Mundos” e “Aquarela”, em Rondônia, região Norte do Brasil. Mais informações neste link.
Pierrot Lunar
A companhia Pierrot Lunar foi fundada em 1993, em Belo Horizonte, por alunos e alunas do curso de formação de atores da Fundação Clóvis Salgado. Desde a sua criação, o grupo, em suas diversas formações, já trabalhou com autores clássicos, como Beckett, e também contemporâneos, como Edmundo de Novaes Gomes, somando 12 espetáculos ao longo dos 30 anos de trajetória.
O grupo já percorreu mais de 40 municípios do interior de Minas, alguns deles, onde o teatro nunca havia passado. A Cia. Pierrot Lunar também conta no seu repertório com cenas curtas, leituras dramáticas, o “Palco BH – primeiro guia de artes cênicas de Belo Horizonte”, produzido entre 2005 e 2006, além de diferentes eventos culturais.
Em 2008, a companhia fundou a sua sede, o Espaço Aberto Pierrot Lunar. Localizado no bairro Floresta, região Leste de BH, o espaço multidisciplinar oferece espetáculos de teatro, dança, performance, leituras, música, além de exibições cinematográficas. Também abriga residências de criação, experimentação, ensaios abertos, encontros e reflexões sobre teatro, arte e sociedade contemporânea e oficinas.
Neste ano, a Pierrot Lunar preparou uma programação especial em comemoração as três décadas de formação. Entre os destaques esteve, após oito anos da última apresentação, o retorno do espetáculo musical “Acontecimento Feliz”, em formato de rua. Para saber mais detalhes do circuito é só acessar este link.
Armatrux
O grupo de teatro Armatrux também dedica a criação teatral à rua. Nascido em 1991, a companhia se destaca pela estética que une o trabalho físico, a manipulação de objetos e parcerias artísticas. Ao todo, foram desenvolvidos 19 espetáculos, circulando em todos os estados brasileiros e em mais de 50 cidades do interior de Minas.
Formado pelos atores Tina Dias, Cristiano Araújo, Eduardo Machado, Paula Manata, Raquel Pedras e Rogério Araújo, o Armatrux se caracteriza pela pesquisa da linguagem circense, formas animadas, música, dança, teatro físico e de rua. Durante suas passagens pelo território brasileiro e pelo exterior, a companhia alcançou, por meio de apresentações e oficinas, um público de mais de meio milhão de pessoas.
Em 2009, o grupo inaugurou a sua sede, o Centro de Arte Suspensa e Armatrux, localizado no bairro Vale do Sol, em Nova Lima, Região Metropolitana de BH. No local, são desenvolvidos trabalhos de promoção, pesquisa e produção de arte. O prédio conta com duas salas de multiuso, uma sala de dança e um teatro com capacidade para 100 pessoas, onde podem ser apresentados espetáculos, exibições, cursos, oficinas, seminários e grupos de estudo, além de abrigar artistas e grupos em seus processos de criação. Para saber mais informações sobre o Armatrux e a programação é só acessar este link.
Grupo Trama de Teatro
O Trama de Teatro foi criado em 1998, por atores que saíram da Cia. Sonho e Drama, e se dedica na criação de apresentações de espetáculos de palco e de rua. Além disso, o grupo, que tem cerca de 12 participantes, mantém projetos com atividades formativas, como oficinas e intercâmbio. Com sede em Contagem, Região Metropolitana de BH, desde 2011, o local oferece ações culturais abertas e projetos com foco na valorização da arte local.
O primeiro espetáculo da companhia do grupo, “O Homem da Cabeça de Papelão”, recebeu vários prêmios, além de ter feito parceria com o diretor de teatro Eid Ribeiro nos espetáculos “Jhon e Joe”, “Os 3 Patético”, “O Pastelão e Ovos”, “Suor e Lágrimas”.
Para acompanhar a agenda do Trama de Teatro é só conferir este link.
Trupe Estrela
A Trupe Estrela é um coletivo que busca fazer criações cênicas por meio do teatro, do circo, da dança, das artes visuais e da performance. Desde a estruturação do Espaço Comum Luiz Estrela, localizado no bairro São Lucas, na região Leste de BH, a companhia faz encontros periódicos de discussão e exerce a criação de um trabalho político de rua comprometido e alinhado com os ideais do centro cultural.
A companhia almeja, futuramente, viabilizar uma circulação nacional com um ônibus da Trupe e criar uma Escola Livre de Teatro, para receber mais pessoas ao núcleo teatral do Luiz Estrela. O Grupo se encontra nas terças-feiras, às 19h, para ensaiar e criar.
Para saber mais informações sobre a programação é só acessar o link.