Entrevista: Iza Sabino anuncia álbum e critica espera por atenção na nova música ‘As Preta Primeiro’

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Iza Sabino fala sobre nova música ‘As Preta Primeiro’ em entrevista ao BHAZ (Divulgação/@coniiin)

Talvez você já tenha visto o nome “Iza Sabino” escalado para diversos eventos de Belo Horizonte, ou até mesmo em músicas de FBC e Djonga, dois importantes rappers da capital. A artista tem conquistado cada vez mais espaço na cena de BH, da qual faz parte desde 2014.

Para retratar seu ponto de vista enquanto mulher negra nessa conquista, a cantora lançou a música “As Preta Primeiro”, em uma data um tanto quanto irônica: no Dia Internacional das Mulheres. Em um papo com o BHAZ, Iza Sabino falou sobre seu novo álbum que está chegando e refletiu sobre sua carreira.

Iza Sabino ganhou maior projeção na cena artística em Belo Horizonte por causa do grupo Fenda, mob feminino do qual fez parte e que encerrou os trabalhos em 2022. Assim como a trajetória de muitos rappers da cidade, a de Iza começou nas batalhas do Viaduto Santa Tereza.

“Eu não rimava no Duelo [Nacional] mas eu participava das batalhas paralelas ali. Eu sempre gostei de poesia, sempre fui muito sensível com isso tudo e aí eu decidi rimar, fazer música. Até que, em 2015, eu conheci o Zulu, que foi o cara que fez a minha primeira música”, narra.

Infelizmente, a canção não está mais na internet para contar história, mas foi o ponto de partida para que a artista não parasse mais. Em 2019, a rapper lançou seu primeiro EP, o “Augusta”, e já com participações de peso: Djonga, Sidoka, Tamara Franklin e Chirs MC.

Grupo Fenda, mais EPs e álbum com FBC

“Depois eu fiz o álbum ‘Glória”, que foi quando eu tava na MacacoLab [selo], em paralelo tinha o grupo Fenda e logo após eu fiz o ‘Amar Dói’, que foi um EP que eu fiz de love song lá no estúdio Sonastério com uma banda de mulheres negras e de um jeito bem bonito, acústico”, conta.

Além desses trabalhos, Iza Sabino relembra seu EP “Trono de Vidro” (2021) e do álbum “Best Duo” (2020) com FBC, ambos lançados durante a pandemia. Agora, a artista se prepara para lançar mais um álbum, o “Grande”, previsto para sair em abril deste ano.

“É um álbum muito comprometedor, está uma coisa grande, realmente. Eu acho que está de forma mais madura também, as ideias, as mensagens que eu passo, a versatilidade das minhas vozes. Eu acho que está uma coisa diferente de tudo o que eu já fiz”, revelou.

‘As Preta Primeiro’

Iza não pôde contar quais serão as participações especiais de seu novo álbum, mas, pelo suspense, já dá para imaginar que serão artistas incríveis. Segundo ela, o single “As Preta Primeiro”, lançado no dia 8 de março, foi a porte de entrada para o álbum.

“Eu falo muito de empoderamento, do meu lugar, do meu espaço. Acho que são temas que eu costumo abordar e eu conto algumas histórias das minhas vivências, algumas coisas que eu tava guardando aqui dentro. Falo de amor próprio, de responsabilidade afetiva, do amor homoafetivo, de tudo um pouco”, comenta.

A música As Preta Primeiro tem tudo a ver com o tema do álbum, sendo, de fato, um convite ao público para entrar no novo projeto de Iza Sabino. Segundo a rapper, a canção mostra sua indignação em esperar a boa vontade, atenção e valorização de seu trabalho. Uma espécie de recado para os homens que permeiam o mundo da artista.

“Se eu fosse esperar um cavalheiro para abrir essa porta eu dormia o ano inteiro” – Iza Sabino, As Preta Primeiro

“Eu falo muito de pegar e fazer, mas e aí, mano? Que dia você vai pegar uma mina e dar para ela o espaço que ela merece dentro da música? Não só na música mas acho que na sociedade isso precisa ser mudado também. Essa música fala muito que eu não vou esperar, da minha independência”, diz.

Feat MC Luanna

MC Luanna foi o grande convite para fazer parte dessa música. A artista é de São Paulo e em suas canções fala sobre a vida da mulher preta favelada. “Acho ela uma artista foda e admiro, queria ela no meu álbum e essa música super teve a ver com o que nós duas acreditamos”, fala.

A decisão de lançar As Preta Primeiro no Dia Internacional das Mulheres foi mais uma das formas que Iza Sabino poderia utilizar para criticar a data. “Eu sempre vou contra no Dia das Mulheres, sempre posto alguma coisa relacionada.

“Desta vez, eu lancei um single sobre a independência da mulher, sendo sarcástica com tudo isso, tá ligado? Você que não faz nada o ano todo e quando chega o Dia das Mulheres vem parabenizar uma mulher e falar o tanto que ela é foda, não tem sentido”, completa.

‘Espera para ver o que vai acontecer’, declara Iza Sabino (Divulgação/@coniiin)

O recorte da desigualdade feminina

No meio artístico, a rapper nota a desigualdade ainda maior quando é feito o recorte de mulheres pretas e LGBTQIAP+. “Principalmente eu, que não aparento uma feminilidade na minha estética. Eu abordo muito isso no meu novo álbum, de eu não ter essa aparência”, define.

“Isso é muito difícil, e é difícil até de construir para eu falar para você… Eu acredito que seja difícil também para as pessoas que são trans ou não binárias que estão dentro do underground fazendo a sua arte”, aponta.

Para as mulheres em geral, a artista define o cenário do rap em Belo Horizonte como “em construção”. “Tem artistas muito fodas aqui. Eu acho que falta muito o que fazer, falta espaço, comparando com o que eu vejo nos outros estados, e o querer das pessoas para fazer acontecer”, aponta.

“Eu acho que a gente ainda tem muito o que conversar aqui, mas eu acredito que está no caminho certo. Eu mesma quero fazer os meus movimentos, estou com um projeto em que vou fazer uma imersão para que tudo isso aconteça da melhor forma. Vai do querer, eu quero, e eu sou de BH, então acho que começa por mim”, acrescenta.

Atualmente, Iza Sabino está rodando o Brasil junto com Djonga, sendo o ato de abertura da turnê do rapper. Depois de lançar seu novo álbum, a artista pretende voltar a viajar por solo brasileiro e, é claro, não vai deixar Belo Horizonte de fora.

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Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

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