Conheça a goiana Kaemy, 1ª mulher a vencer o Duelo de MCs Nacional

kaemy
Kaemy começou trajetória de MC aos 15 anos e, aos 28, conquistou prêmio nacional (Reprodução/@kaemynem/Instagram)

No último dia 3 de dezembro, o Brasil viu a goiana Kaemy vencer o Duelo de MCs Nacional e se tornar a primeira mulher a ganhar a competição. A única mulher participante derrotou competidores favoritos e surpreendeu o público com suas rimas afiadas.

Kamila Melo tem 28 anos e nasceu em Uruaçu, no Goiás. Mesmo vivendo em um estado onde o sertanejo, sobretudo a moda de viola, predominam há décadas, a MC despertou o interesse por hip–hop por meio das batalhas de rima que assistia pelo YouTube, quando tinha 14 anos.

“Comecei a escutar muito Racionais MCs, Emicida…”, conta Kaemy ao Guia BHAZ. E, assim como acontece com muitos adolescentes, a MC construiu sua identidade por meio da internet, tanto consumindo artistas que rimam quanto começando a fazer as próprias.

Aos 15 anos, a jovem decidiu iniciar a trajetória na rima pelos caminhos da internet. “Comecei rimando pelo Skype, depois eu fui para um programa que chama ‘Radical’, que tinha uma concentração de MCs que não tinham batalha em suas cidades, e aí a gente rimava on-line”.

Kaemy ficou rimando pelas telas durante cinco anos, até que decidiu participar de uma batalha de rua pela primeira vez, em 2015, no Distrito Federal. “E daí para frente eu não parei mais de batalhar”, declara.

“Representei o DF na Liga Feminina de MCs de 2016, que aconteceu em SP, depois comecei a rimar em Goiânia, consegui o primeiro prêmio estadual rimando por Goiás, no meu primeiro duelo, que foi na pandemia”, lembra.

“Aí, em 2022, eu consegui o bicampeonato, em 2023 consegui meu terceiro estadual, fui pela terceira vez seguida para o Duelo e consegui sair campeã”, conclui a jovem. Ufa! Por causa da longa trajetória, Kaemy acabou ganhando o apelido de ‘Vovó’.

Representatividade feminina de Kaemy como MC

Além de destoar da bolha do sertanejo, Kaemy fura a bolha das batalhas de rima em Goiás sendo uma mulher. Segundo a MC, não é muito comum ter mulheres rimando no estado goiano. “Além de mim deve ter umas quatro meninas da cena goiana que estão em atividade”, diz.

“A gente sempre tenta incentivar, mas ainda é pequeno o número de ‘minas’ na cena de Goiás”, conta. A baixa adesão de mulheres à cena é um combustível para a jovem na hora de rimar. Além da vontade de colecionar títulos para Goiás, Kaemy quer mostrar para as mulheres que elas podem fazer parte dessa indústria.

Paralelamente, a MC sente a grande responsabilidade de representar as mulheres no freestyle, e mais ainda, na final do Duelo de Mcs Nacional que aconteceu em BH. Kaemy era a única mulher participante, dentre 32 MCs, com um sonho e a vontade de mostrar que as meninas estão no jogo.

“É um peso a mais ser a única mina de 32. Além de eu estar representando o meu estado inteiro, ainda tem o peso de todas as mulheres. E por um lado é muito honroso de estar ali representando as minas, mas, por outro lado, é muita ‘responsa'”, confessa.

“Mas no dia mesmo foi bem leve, eu estava bem tranquila, bem confiante. O importante é isso, pode ser uma, podem ser 10, o importante é que a gente esteja no meio”, declara Kaemy.

Descredibilização da vitória de Kaemy

Diversas pessoas descredibilizaram ou criticaram a vitória de Kaemy no Duelo de MCs Nacional, e isso escancarou um certo machismo. A MC percebe a problemática e acredita que, se a final tivesse sido entre dois homens, provavelmente, o público não estaria mais falando sobre.

“Mas como foi uma mina rimando contra um favorito, uma pessoa do eixo [SP e Rio] contra uma pessoa totalmente de fora do eixo, eu acho que tem um agravante a mais por eu ser mina na frente dos outros caras. Até na questão de aceitar, para eles é mais difícil que uma mina tenha feito tudo isso e tenha sido campeã, se fosse um cara ia ser mais normal entende?”, descreve.

Mesmo com uma parcela do público descredibilizando a vitória da MC, ela não perde a vontade de seguir em frente e fazer o melhor que puder pela sua carreira. Agora, com R$ 30 mil a mais na conta, Kaemy não vê a hora de investir o dinheiro na música.

“Vou procurar me profissionalizar mais e curtir um pouco também da vida”, conta. “Agora, eu vou focar em terminar o meu EP para me introduzir no mercado musical, fazer os meus lançamentos e ficar nessa conciliando entre batalha. Vou batalhar só nas especiais e focar”, acrescenta.

O EP ainda não tem data de lançamento, porém, a MC pretende que ele esteja na pista em 2024. Enquanto isso, dá para curtir os trabalhos de Kaemy lançados em parceria com a Família de Rua. Ouça:

“O que me inspira é que eu quero virar na música. Sei que a batalha vai trazer essa visibilidade maior para o meu trabalho, então eu tenho que estar em atividade, sempre representando para chamar a atenção, para todo mundo estar com os olhos virados em mim”, conclui. Alguma dúvida de que Kaemy já virou?

Acomapanhe Kaemy no Instagram por este link.

Edição: Lucas Negrisoli
Andreza Miranda[email protected]

Graduada em Jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2020. Participou de duas reportagens premiadas pela CDL/BH (2021 e 2022); de reportagem do projeto MonitorA, vencedor do Prêmio Cláudio Weber Abramo (2021); e de duas reportagens premiadas pelo Sebrae Minas (2021 e 2023).

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!