Otto revisita ‘manhãs intranquilas’ em BH: ‘Há males que vêm para o bem’

Autêntica recebe show de revisita do artista, 15 anos após lançamento (Divulgação/Rui Mendes)

Certa manhã, Otto acordou de sonhos intranquilos. Gravadoras, carreira, término recente… tudo ressoava estranho, e o homem-barata de Franz Kafka nunca tinha feito tanto sentido. “Era a hora da pérola no colar”, diz, hoje, ao BHAZ, remetendo ao ditado que afirma que ostra incomodada é a que produz pérola. Fato é que já fazem 15 anos da manhã conturbada de Otto. Também 15 anos do fruto desse desconforto: o quarto álbum de estúdio da sua carreira solo, prestes a ser revisitado no show que chega à BH neste sábado (29).

“Tem coisas que fazem com que você amadureça, males que vêm para o bem. Nunca são fáceis os rompimentos, mas são essenciais para o aprendizado”, levanta o cantor pernambucano. Ex-Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, o artista relembra o período complicado entre a composição e o lançamento do disco quinzenário. A referência à Metamorfose de Kafka no primeiro parágrafo não vem por acaso: foi da frase de abertura do romance que Otto retirou o nome do seu trabalho, “Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos”, lançado em 2009.

Ex-companheiro da atriz Alessandra Negrini, o pernambucano viu no término um dos pilares para a concepção do álbum. Junto disso, vieram os momentos de negociação com gravadoras, fato que acabou por determinar a produção independente do compilado. Apesar do passado incontornável, a tensão de outrora não parece ser um problema para Otto. “Hoje, meus sonhos estão bem tranquilos, serenos. A humanidade anda sem critérios, muitas frustrações e pouca harmonia. Eu sigo acreditando nas minhas escolhas. E na minha música”, diz.

Nem mesmo encarar o pretérito parece ter efeito incômodo no artista. “Eu acho que eu não tratei de problemas pessoais, eu resolvi essas questões. O álbum era a solução. Posso dizer que eu fui muito mais um jogador que tinha na mão as melhores cartas, então eu as distribuí”, destaca. “As pessoas, sim, se identificaram muito com meu romantismo, com minhas composições, por isso é um trabalho tão particular pra muita gente. Eu fui o compositor da obra, mas a poesia quem falou”.

Tarde

Pouco depois de soltar o trabalho, Otto teve a feliz surpresa de ver seu perfil publicado no The New York Times, um dos mais renomados periódicos estadunidenses. “A vida é assim. Perde aqui, ganha ali”, aponta o cantor. “Eu sou um cara livre e muito ciente da minha arte, o resto não importa. Faz tempo demais pra nem lembrar mais. O disco refletiu muito mais o que as pessoas viviam do que eu vivi. Pouca gente tem o privilégio de ter um perfil publicado lá (no NYT), eu sou um dos que teve. Isso é o mais importante pra mim”.

Depois do estouro, os dias intranquilos de Otto ganharam novas roupagens, sugerindo que a metamorfose de Kafka é mesmo constante. O que não mudou, segundo ele, foi sua forma de fazer música. “Sinto que hoje tudo é seguimento, tudo ficou igual. Não é mais mistura de leite condensado, sem fórmula, gororoba. Com respeito a algumas exceções”, traça. “A música tá sem poesia, isso dá pra ver. Padronizaram tudo. Mas ok, eu misturo, pois minha mistura é real, sadia, sem culpa”.

(Divulgação/Rui Mendes)

Noites brancas

Para o show deste sábado (29), na Autêntica, o pernambucano promete um pouco de tudo isso: passado e presente, juntos. Além da gororoba sonora, Otto faz questão de reforçar outro ponto imutável na sua caminhada: “Minha consciência política, minha consciência ecológica, minha poesia. Essa sim, não desapareceu nem se perdeu na futilidade destes tempos”. Filiado ao Partido dos Trabalhadores desde 2021, o artista não afasta símbolos partidários e vê no autoritarismo uma “ignorância política bem latente”.

Tanto quanto o passado, a passagem de Otto por BH se entrelaça com o futuro. Antes de subir ao palco com o disco que o consagrou, o pernambucano dá espaço para a atual companheira, Lavínia, apresentar seu álbum de estreia, “No Meu Umbigo”. “Um show lindo, Lavínia é maravilhosa”, suspira. Só depois, então, a coisa passará a ser sobre o findo destino. “Podem esperar minha entrega total”, antecipa Otto. “Amo BH e, sempre que venho, tenho muita honra de cantar para os mineiros”.

Então se liga!

Otto e Lavínia em BH
Local: Autêntica
Data: 29 de junho
Horário: a partir das 21h
Ingressos: a partir de R$ 90, no Sympla

Thiago Cândido[email protected]

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Minas Gerais. Colunista no programa Agenda da Rede Minas de Televisão. Estagiário do BHAZ desde setembro de 2023.

SIGA O BHAZ NO INSTAGRAM!

O BHAZ está com uma conta nova no Instagram.

Vem seguir a gente e saber tudo o que rola em BH!