‘Seu cabelo assusta’: Homem dispara ofensas racistas contra modelo em rua de BH e jovem reage

modelo denuncia racismo
Pelo Instagram, a jovem publicou parte das ofensas e disse que não vai se calar (Reprodução/@ludmilacassemiro/Instagram)

O relato cheio de indignação de uma jovem de BH ganhou as redes sociais neste fim de semana. Em um vídeo publicado no Instagram, Ludmila Cassemiro, de 21 anos, narra um revoltante episódio de racismo sofrido por ela enquanto ia para a academia na tarde desse sábado (9).

No o vídeo, a modelo, ativista e comunicadora conta que foi surpreendida por um homem que começou a ofendê-la, falando que seu cabelo “o assustava”. O caso aconteceu no bairro Cachoeirinha, na região Noroeste de BH, e a jovem gravou uma parte das ofensas. Ao BHAZ, ela contou que vai denunciá-lo às autoridades (veja abaixo).

“Eu sempre quis falar isso pra você, que seu cabelo assusta as pessoas”, diz o homem em um trecho do vídeo. Em outro momento, ele chega a insinuar que tem “autoridade” para dar a opinião não requisitada por “ser fotógrafo”.

“Você é racista!”, dispara Ludmila, enquanto ele diz que vai listar “todas as pessoas que ela já assustou”. Veja o vídeo:

‘Fiquei muito nervosa’

Em conversa com BHAZ na tarde de hoje (10), a modelo disse que não conhecia o homem e que pretende levar o vídeo ao Ministério Público para denunciá-lo por injúria racial. Ela conta que as ofensas começaram de forma repentina e que ela ficou muito assustada ao se ver naquela situação.

“Eu estava caminhando e esse cara veio na minha direção. Eu ia desejar boa tarde pra ele, mas, na hora que eu abri a boca, ele já veio me agredindo, já veio gritando comigo, falando que o meu cabelo o incomodava”, conta a jovem.

Segundo ela, o homem chegou a dizer que ela devia “evitar passar lá porque meu cabelo era desproporcional e que ninguém tinha a obrigação de olhar pra ele”, relata. “No momento eu fiquei muito nervosa, não consegui gravar o rosto dele direito, não consegui pegar mais informações, mas ele já chegou me agredindo, sabe?”, relembra.

‘Acontece todos os dias’

Infelizmente, essa está longe de ser a primeira vez que a modelo escuta falas ofensivas sobre a sua aparência. Cansada de se calar, ela tem a esperança de que seu relato faça barulho e que de alguma forma traga justiça.

“Todos os dias isso acontece e sempre que eu falo as pessoas invalidam a minha voz, elas não acreditam que isso acontece. Então naquele momento eu vi uma oportunidade de gravar e mostrar pras pessoas que eu falo a verdade quando digo que as pessoas realmente me param na rua pra comentar negativamente sobre os meus traços, sobre o meu cabelo”, conta ao BHAZ.

Ela explica ainda que, em grande parte das vezes, o preconceito acontece de forma “velada”, mas que nem por isso deve ser normalizado. Para ela, a mensagem que fica é a de que ela não deve se calar.

“A gente acaba se acostumando com esse tipo de situação. Não deveríamos, mas a gente acostuma. Não só onde eu moro, mas em outros lugares onde eu tento ter acesso, como locais de trabalho, ou quando eu tento me inscrever em um curso novo, em uma vaga nova de emprego, eu sempre sou retirada dali sob a justificativa de não me enquadrar naquele padrão”, relata Ludmila.

Mensagens de apoio

O vídeo foi publicado por Ludmila na noite de sábado (9) e já foi visto quase duas mil vezes. Entre as dezenas de comentários, diversas pessoas aplaudiram a coragem da jovem em expor uma situação tão difícil, ainda que corriqueira.

“Que bom que você conseguiu falar, nem sempre é fácil falar, em muitas situações eu confesso que não tive forças pra tanto. Acolhi na sua resposta as vezes que eu não consegui revidar. Obrigada por isso. Acho que nunca é fácil passar por isso. Qualquer coisa ‘liga nois’, rainha!”, escreveu a rapper Tamara Franklin.

Mas em meio ao apoio, a jovem conta que também tem recebido ofensas. Apesar disso, ela não pretende deixar o episódio passar impune.

“Algumas pessoas me criticaram, mas eu tô preferindo me agarrar nas mensagens de apoio, porque elas são um conforto emocional muito grande pra mim. A gente não consegue ter voz sozinho, a gente não tem a nossa voz validada se a gente não faz esse mutirão”, conclui.

Edição: Giovanna Fávero
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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