Homem negro denuncia ter sido obrigado a tirar a roupa em supermercado para provar que não furtou

Senhor Luís Carlos
Decisão veio após homem negro ser forçado a tirar a roupa para provar que não estava furtando a rede (Reprodução/Notícias de Limeira/Youtube)

Um homem negro de 56 anos denuncia ter sido constrangido e humilhado em uma unidade do Assaí Atacadista, em Limeira, São Paulo, para provar que não furtou produtos do supermercado. Ele afirma que foi obrigado pelos seguranças do local a tirar o casaco, a camiseta e a calça, na frente de outros clientes, nessa sexta-feira (6). Após a repercussão do caso, o Assaí Atacadista confirmou o desligamento do funcionário responsável pela abordagem (veja abaixo).

Luiz Carlos da Silva, segundo seu advogado, estava fazendo uma pesquisa de preços de diferentes itens para, no dia seguinte, retornar com a mulher e efetivar a compra. Ao portal Notícia de Limeira, o homem contou que estava deixando o supermercado quando foi acusada pelos seguranças de ter furtado algum produto, já que saiu sem comprar nada. Ele conta que precisou tirar a roupa de cima e, depois, as calças, já que os dois seguranças ainda o acusavam de ter escondido algo nas partes de baixo.

“Começou a dar um desespero em mim, e comecei a chorar, mesmo, porque eu não tinha roubado nada de ninguém. Eu não preciso roubar nada, eu trabalho. Não consigo nem falar direito, porque isso aconteceu pela primeira vez na minha vida. Eu não preciso roubar nada de ninguém”, relatou Luiz Carlos, emocionado, ao portal.

Diego Souza, advogado de Luiz Carlos, também estava no supermercado, mas do lado de fora, no momento em que a confusão se instaurou. Souza contou à Folha de S.Paulo que os seguranças barraram a entrada de novos clientes quando Silva entrou em desespero.

“Ele ficou tão abalado que não conseguiu me explicar naquele momento o que havia acontecido. Uma pessoa que presenciou tudo o levou para casa após ele provar que não carregava nenhum item escondido do supermercado”, disse Souza. “O que mais chamou a atenção foi a presença do gerente, que poderia ter agido de uma outra forma”, completou.

O advogado da vítima estima que ao menos três seguranças participaram da abordagem, mas só as imagens gravadas pelo próprio supermercado e que vão integrar o inquérito da Polícia Civil confirmarão a suspeita. Luiz Carlos da Silva só conseguiu registrar o boletim de ocorrência no sábado (7), um dia depois do fato, no 1º DP de Limeira.

Vítima denuncia racismo

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que o homem questiona os seguranças: “Eu roubei alguma coisa nessa loja, caramba? Eu vim aqui para comprar alguma coisa e me chamam de ladrão”. Nas imagens, a vítima ainda aparece chorando na unidade do Assaí Atacadista.

Para Luiz Carlos, ele foi acusado de furtar o supermercado por ser negro. “Eu via na televisão acontecendo umas coisas dessas, pra mim não acontecia nada, a gente pensa que é brincadeira, só filmagem. Mas acontece com a gente mesmo, e a gente vê que isso acontece de verdade. As pessoas têm racismo. Não era só eu saindo do mercado, tinha muita gente também. Eu creio que foi racismo”, contou.

De acordo com o G1, o caso foi registrado como constrangimento, por não haver provas de injúria racial. O advogado da vítima afirmou que, no decorrer das investigações, vai solicitar à polícia apuração para saber se a abordagem contra Silva foi motivada pelo fato de ele ser uma pessoa negra.

Segurança demitido

Em comunicado enviado ao BHAZ, o Assaí Atacadista afirmou que, ainda no final de semana, foi aberto um processo interno de apuração do caso e a empresa afastou o segurança responsável pela abordagem. Já hoje, o desligamento do funcionário foi concluído.

“A empresa se desculpa pela abordagem indevida que causou o constrangimento ao sr. Luiz Carlos na última sexta-feira na unidade de Limeira. A companhia recebeu com indignação as imagens dos vídeos e se solidariza totalmente com o cliente. […] A companhia também entrou em contato com a família do cliente, tão logo soube do ocorrido, se desculpando e se colocando à disposição para qualquer necessidade que ele tenha”, diz a nota (leia na íntegra abaixo).

Ainda segundo o comunicado, outras providências serão tomadas assim que as investigações forem concluídas. “A empresa repudia qualquer ato que infrinja a legislação vigente e os direitos humanos. Considera o respeito como uma premissa fundamental para a boa convivência entre todos(as)”, completa o Assaí.

Nota do Assaí Atacadista

“A empresa se desculpa pela abordagem indevida que causou o constrangimento ao sr. Luiz Carlos na última sexta-feira na unidade de Limeira. A companhia recebeu com indignação as imagens dos vídeos e se solidariza totalmente com o cliente.

Como decisão imediata, ainda no final de semana, foi aberto um processo interno de apuração, realizado o afastamento do empregado responsável pela abordagem e, hoje, concluído o seu desligamento. A companhia também entrou em contato com a família do cliente, tão logo soube do ocorrido, se desculpando e se colocando à disposição para qualquer necessidade que ele tenha.

Outras providências necessárias serão tomadas tão logo a investigação estiver encerrada. O caso deixa a companhia certa de que precisa reforçar ainda mais os processos com a loja em questão e todas as demais.

A empresa repudia qualquer ato que infrinja a legislação vigente e os direitos humanos. Considera o respeito como uma premissa fundamental para a boa convivência entre todos(as). O Assaí combate a violência, a intolerância e a discriminação, sejam elas de qualquer natureza, por meio de ações de conscientização, treinamento, compromissos públicos e manuais internos com orientação para os colaboradores e rede de relacionamentos, todos baseados no código de ética e na política de direitos humanos e de diversidade. No último semestre foram realizadas mais de 24 mil horas de treinamento sobre estes temas aos funcionários.

A cia reitera que não tolera abordagens que fazem qualquer juízo de valor em relação à classe social, orientação sexual, raça, gênero ou qualquer outra característica. O Assaí está ciente do seu papel e sua responsabilidade perante a sociedade, os mais de 50 mil colaboradores e milhões de clientes que passam diariamente em nossas lojas – por isso, valoriza e respeita a diversidade em todas as suas formas de expressão”.

Com Folhapress

Edição: Giovanna Fávero
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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