Instituições processam rede Assaí Atacadista por racismo e pedem R$ 100 milhões de indenização

Senhor Luís Carlos
Decisão veio após homem negro ser forçado a tirar a roupa para provar que não estava furtando a rede (Reprodução/Notícias de Limeira/Youtube)

Duas instituições entraram com ação civil pública contra a rede atacadista Assaí depois que um homem negro foi obrigado a tirar a roupa para provar que não estava roubando produtos de uma das lojas da franquia. As instituições pedem indenização de R$ 100 milhões.

As entidades que processaram a rede atacadista são Educafro e Centro Santo Dias de Direitos Humanos – as mesmas que processaram o Carrefour por conta da morte de João Alberto Freitas, espancado por seguranças da rede em novembro do ano passado, na véspera do Dia da Consciência Negra.

Ao BHAZ, o advogado que representa as instituições, Márlon Reis, sócio-fundador de Márlon Reis, Estorlio & Leda Advogados Associados, afirmou que, até o momento, foi feito apenas o pedido de indenização. Mais tarde, as partes vão decidir em quê o valor será investido.

“No momento foi feito apenas o pedido inicial. A destinação dos valores será definida depois, ou pelo Poder Judiciário na sentença, ou pelas partes no processo caso seja alcançado um acordo”, afirma Márlon. O advogado pontua que a rede “não está empenhada em atuar contra o racismo estrutural”.

Por nota, a rede Assaí afirmou que recebeu “com indignação” as imagens dos vídeos publicados nas redes e “se solidariza totalmente com o cliente”. “Como decisão imediata, ainda no final de semana, foi aberto um processo interno de apuração”, diz trecho do comunicado (leia na íntegra abaixo).

Defesa exige ações contra racismo estrutural

Márlon explica ainda que esse tipo de racismo não precisa, necessariamente, ser verbalizado. Ele está presente, no entanto, nos comportamentos que privilegiam pessoas brancas.

“Isso lamentavelmente tem sido a tônica em muitos supermercados. Vamos demonstrar que houve ali um dano coletivo, não apenas individual. Foi uma ofensa à igualdade racial. Por isso estamos cobrando uma série de mudanças em toda a rede Assaí”, diz.

“Queremos a definição de um novo protocolo de segurança, que envolva o treinamento de todos os trabalhadores e novas regras na segurança patrimonial, por exemplo. Além disso cobramos uma indenização de R$ 100 milhões, que não será revertida para as entidades autoras da ação, mas para a comunidade negra sob a forma de programa de educação, emprego e empreendedorismo”, afirma.

Confira a nota da rede Assaí na íntegra

O Assaí tem como valor e compromisso o respeito, a inclusão e o combate contra todas as formas de intolerância e discriminação, sejam elas de qualquer natureza, por meio de ações de conscientização, treinamento, compromissos públicos e manuais internos com orientação para os colaboradores e rede de relacionamentos, todos baseados no código de ética e na política de direitos humanos e de diversidade.
Por conta disso, a companhia recebeu com indignação as imagens dos vídeos e se solidariza totalmente com o cliente. Como decisão imediata, ainda no final de semana, foi aberto um processo interno de apuração, realizado o afastamento do empregado responsável pela abordagem e concluído o seu desligamento na 2ª feira, 9/8.
A empresa também entrou em contato com a família do sr. Luiz Carlos, tão logo soube do ocorrido, se desculpando, se prontificando para a assistência necessária e se colocando à disposição. A família informou que não estava em condições naquele momento e que entraria em contato. Com relação a ação civil pública, a empresa não recebeu a citação e a analisará quando for do seu conhecimento.

Esta reportagem é uma produção do Programa de Diversidade nas Redações, realizado pela Énois – Laboratório de Jornalismo, com o apoio do Google News Initiative

Edição: Giovanna Fávero
Jordânia Andrade[email protected]

Repórter do BHAZ desde outubro de 2020. Jornalista formada no UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte) com passagens pelos veículos Sou BH, Alvorada FM e rádio Itatiaia. Atua em projetos com foco em política, diversidade e jornalismo comunitário.

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