Sons de passarinhos: Arte em BH leva carinho a impactados pela Covid

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Obra conta com um painel de pássaros nativos da região (SesiculturaMG/Divulgação)

As estações de metrô da capital mineira estão ganhando um novo visual. Quem utiliza a Central, já deve ter visto os corações na escadaria da rua Sapucaí, inaugurado em abril. Mas se você ainda não passou pela estação Lagoinha nos últimos dias, não viu a mais nova intervenção artística do “Corações para a Cidade”. Com pinturas de pássaros com QR Codes espalhados por lá, o cidadão pode ouvi-los apenas apontando o celular (vídeo no fim da matéria). O projeto ainda promete um novo painel na Vilarinho, que deve ser inaugurado em menos de duas semanas na região Norte da cidade.

“O projeto se chama ‘Corações para a Cidade’ e nasceu de uma inspiração de um memorial construído em Londres para pessoas impactadas pela Covid-19. Já em paralelo também com o desejo do SESI (Serviço Social da Indústria) Cultura de criar intervenções artísticas, de arte urbana, em BH, tentando resinificar esse momento difícil, triste, com amor, solidariedade, com um pouquinho de esperança para as pessoas”, explica Karla Bitar, gerente de Cultura do SESIMINAS.

Na Inglaterra, um muro gigantesco de corações foi construído com o nome das pessoas que se foram pela doença. “Só que aqui, resolvemos fazer corações para a cidade, sem nomes, que é uma forma da gente mandar carinho e afeto para a cidade, para essas pessoas que foram impactadas pela Covid em BH”, esclarece Esther Mourão, supervisora da Galeria de Arte do Centro Cultural SESIMINAS.

Após a ideia, o SESI procurou um local público que pudesse exibir a arte e interagir com a população da cidade. “O SESI tem uma parceria com a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) em função do Museu de Arte e Ofício, que está dentro do espaço da CBTU, das estações, e aí a gente teve essa ideia e entramos em contato com a CBTU. Pedimos para usar a escada e eles autorizaram. Foi aí que começou”, conta Esther.

Primeira intervenção aconteceu na escadaria da Estação Central (SesiculturaMG/Divulgação)

“Ao levar a intervenção para as áreas do metrô, a gente aproveitaria todo aquele público, pessoas de várias faixas etárias, de várias localidades. A primeira intervenção artística veio pra Estação Central do metrô, a gente acabou fazendo na escadaria, porque queríamos realmente projetar os corações para uma visibilidade maior, e a escadaria tem esse ‘poder’, explica Karla.

A Companhia, no entanto, gostou tanto do projeto, que pediu para que o SESI ampliasse as intervenções artísticas para outras estações de metrô da capital. “Como lá na Sapucaí ficou muito legal, a CBTU ficou empolgada e falou: ‘ah gente, vamos entregar para vocês a Lagoinha, a Vilarinho’. A própria CBTU enxergou isso uma forma bacana de revitalizar os espaços dela também”, relata.

Na inauguração nas Escadarias da Sapucaí, o BHAZ conversou com o artista responsável pela obra, Alexandre Rato, que explicou o processo de construção da arte (veja aqui).

Lagoinha

Os painéis são distintos em cada estação, assim como os artistas. “Cada ação a gente convida um artista local”, explica Esther. “Nossa ideia foi sempre trazer um artista de rua para agregar e para fazer sentido nessa mensagem para a cidade. Então lá na Estação Central do metrô nós chamamos o Alexandre e ele fez uma intervenção com spray, que é bem a arte dele, a forma de trabalho dele, e aí ampliamos para outras estações. Acabamos de terminar a Lagoinha, nesse mesmo sentido”, complementa Karla.

Na estação da Lagoinha, o painel foi inaugurado na quarta-feira da semana passada (30), e os responsáveis pelo projeto chamaram Pierre Fonseca para realizar a intervenção. “Ele faz um trabalho com uma narrativa linda entre cidade, tecnologia e meio ambiente. Ele fez grandes painéis de pássaros, cada um dos pássaros, a partir de um QR Code, tem ali o som do seu canto”, explica Karla.

Painel contou com a ajuda de várias pessoas (SesiculturaMG/Divulgação)

Para escutar o som do pássaro, a pessoa deve aproximar a câmera do celular de um QR Code que se encontra ao lado da ave. Com o código, o aparelho consegue emitir o canto característico daquela espécie. “São aves, pássaros que eram encontrados aqui no estado e por várias situações alguns deixaram de aparecer com frequência, então se você for lá e tiver um grupo de pessoas, cada com seu celular ativando o QR Code, a gente tem uma sinfonia dos pássaros nativos da nossa região”.

Além da beleza, para os olhos e para os ouvidos, o painel ainda educa aqueles que reservam um tempinho da sua rotina para ler as informações que aparecem na tela do celular, a partir do código. “Ficou bem bonito, ficou lindo. E é um espaço muito interessante, que a partir da arte a gente consegue tratar um pouco da educação ambiental, da necessidade da preservação. No QR Code, além do canto, tem as informações do pássaro, origem, onde que é mais frequentemente encontrado, então é também uma ação de educação”, destaca a gerente.

Homenagem aos que se foram

Na Lagoinha, ainda tem mais um acréscimo: uma homenagem a quatro funcionários da CBTU que perderam a sua vida para o novo coronavírus. “Fizemos um memorial porque eles perderam quatro funcionários. Então lá tem nomes, colocamos o nome dos quatro que faleceram, bem na entrada da escada rolante, em um lugar bem especial, e a empresa vai chamar os familiares”, diz Esther.

Homenagem aos funcionários (SesiculturaMG/Divulgação)

A gerente de Cultura ainda lembra que os funcionários representam aqueles que não puderam parar de trabalhar na pandemia. “É um espaço que é reservado para as pessoas que não puderem parar de trabalhar nesse momento, que não tiveram possibilidade de ficar em casa e acabaram pegando [o vírus] e falecendo”, lembra Karla.

O painel também contém mensagens dos funcionários do SESIMINAS para as pessoas que estão passando por um momento difícil e para a cidade de forma geral. “Nós abrimos uma plataforma para que eles pudessem enviar as mensagens deles para essas pessoas, então a gente pegou essas mensagens e imprimiu. Então além dos corações, a gente está pregando essas mensagens”, diz Esther.

Mensagens dos funcionários do SESIMINAS (SesiculturaMG/Divulgação)

Todo o processo demandou muito trabalho dos funcionários. “Tem 118 metros de parede, que a gente fez a limpeza, lavou, esfregou com máquina, com bucha, para conseguir pintar e aí sim preparar para a intervenção. Ficou claro, iluminado, que até acendeu para quem passa, pra quem utiliza o metrô” Karla.

Próxima estação: Vilarinho!

Uma terceira estação já está próxima de se iluminar com a intervenção. Na próxima segunda-feira (12), os trabalhos começarão na estação da Vilarinho, na região Norte da capital. “Vilarinho tem outro artista que vai fazer parte dessa conosco, que é o Drin, artista de rua maravilhoso, um selecionados para o Festival Cura do ano passado. Ainda ainda estamos desenhando a participação dele, mas já é o convidado, já topou e já vai começar essa espreitada com a gente”, revela Karla.

Com isso, pode ser que na semana seguinte, mais uma estação seja entregue pelo SESIMINAS. A obra, contudo, está em constante mudança, a partir das adições da população. “Geralmente demora uma semana, entre a limpeza, preparo, e a obra em si, e a gente entrega e as pessoas continuam deixando os corações, mensagem, escrevendo nomes, é uma intervenção artística que permanece com a contribuição das pessoas que passam por ali”, explica Karla.

A supervisora da Galeria de Arte, no entanto, não pôde passar nenhum “spoiler” do painel. “A gente não pede nada para o artista, ele faz o que quiser, a única orientação que a gente passa é que seja uma imagem que você olhe e te passe afeto. E os corações praticamente abraçam essa obra, a obra do artista”, explica Esther.

Sinfonia de pássaros

O “Corações para a Cidade” ainda lançou um vídeo institucional para mostrar o resultado da intervenção na estação da Lagoinha. Os funcionários do SESIMINAS foram convidados para participar da ação. “A gente quis testar a intervenção, ouvir a sinfonia dos pássaros, então fomos para lá preparados para acessar o maior número de QR Codes possível, e fazer a sinfonia tocar, e foi exatamente isso que aconteceu”, explica Karla.

“Foram uma média de 20 pessoas, com o som dos pássaros acontecendo ao mesmo tempo, então a sinfonia de fato aconteceu”, conta. O resultado pode ser visto no vídeo abaixo:

Edição: Vitor Fernandes

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