Jornalistas denunciam demissões por sobrepeso e MPT reabre inquérito

Jornalista da TV Vanguarda
Marcela Mesquita já havia sido afastada da reportagem em vídeo por causa do peso (Reprodução/@mesquita.marcela/Instagram)

O Ministério Público do Trabalho (MPT) reabriu um inquérito que investiga a TV Vanguarda, afiliada da Globo em São José dos Campos, São Paulo, depois de mais uma jornalista denunciar que teria sido afastada da emissora por estar acima do peso. Marcela Mesquita foi demitida nessa segunda-feira (10), ao voltar ao trabalho depois da licença-maternidade, e já havia sido afastada da reportagem em vídeo por causa do peso. Já a jornalista Michelle Sampaio, demitida em 2019, também associou o desligamento a uma dificuldade de perder peso. As informações são do UOL.

O inquérito havia sido arquivado em março, mas foi reaberto nesta terça-feira (11), e as duas jornalistas testemunharam no caso. Ao UOL, Marcela mencionou que foi afastada da reportagem em vídeo em outubro de 2017, quando passou a trabalhar atrás das câmeras como editora, e só voltou no início de 2020. “Quando fui afastada da reportagem por estar acima do peso, foram os meus amigos que não me deixaram cair. Os de lá e os de cá. Vocês que acompanham o meu trabalho também me ajudaram nessa caminhada mandando mensagens de carinho e mesmo não me vendo na TV, continuaram comigo”, escreveu ela no Instagram ao anunciar o desligamento.

“Eu sei que fiz o meu melhor em todas as funções que desempenhei na Vanguarda nesses quase 12 anos de empresa. Saio de cabeça erguida! Que novas portas se abram! Prometo que vou abri-las com o mesmo sorriso no rosto que vocês conhecem!”, completou a jornalista. De acordo com ela, os superiores disseram que haviam decidido afastá-la porque ela estava “fora do padrão”, “acima do peso”.

Ela procurou a ajuda de profissionais e se esforçou para emagrecer, até que decidiu pedir para voltar ao vídeo, mas os diretores disseram que ela “não estava pronta”. Em março de 2020, ela conseguiu voltar, depois de ter perdido 15 quilos. Depois de voltar de licença-maternidade, no entanto, acabou sendo demitida.

Outros casos

Não é a primeira vez que a TV Vanguarda é acusada de demitir uma jornalista por causa do seu peso. Em março de 2019, Michelle Sampaio, que trabalhava na emissora há mais de 16 anos, foi demitida e afirmou que o motivo foi sua dificuldade para emagrecer depois da gravidez. “Meu talento não tem relação com meu peso”, reforçou ela ao UOL, à época.

De acordo com o portal, ela teve uma filha em julho de 2016, depois de ter engordado 24 quilos durante a gravidez. Depois de ter a criança, ela emagreceu sete quilos e voltou à apresentação do telejornal local depois da licença-maternidade. Três dias depois, no entanto, ela foi afastada. Desde então, ela aparecia de vez em quando no vídeo, e passou alguns meses sem poder mostrar o rosto na televisão. Em certo ponto, ela chegou a receber uma orientação da direção: “Volte ao seu peso”.

Em 2019, outra jornalista relatou um caso semelhante: Micheli Diniz, que trabalhou na emissora entre 1998 e 2003, disse em publicação no Facebook que viveu a mesma situação. “Na época eu tinha 26 anos, 2 filhos, 5 anos de TV e não tive a dimensão do impacto que aquela condição havia causado em minha carreira. Sim. Houve uma condição. ‘Pra você voltar à bancada do jornal, você tem 30 dias para emagrecer’. Fui deslocada para reportagem de rua”, escreveu. 60 dias depois de perder a posição na bancada, ela foi desligada.

Inquérito

Em 24 de setembro de 2020, durante inquérito que investigava a emissora, a TV Vanguarda concordou em assinar no MPT um termo de ajuste de conduta (TAC) se comprometendo a “abster-se de prática discriminatória em razão do padrão estético de seus empregados principalmente relacionado ao peso corporal, bem como abster-se de estabelecer referido padrão através de exigências invasivas à privacidade e liberdade de seus empregados”.

O termo ainda prevê que a emissora se compromete a não “formular exigências aos seus empregados que importem discriminação estética”. Também a não “desligar dos quadros da empresa, única e exclusivamente em razão do peso, pessoas que tenham sobrepeso ou obesidade”, ou tirar do vídeo repórteres ou apresentadores “por motivos estéticos relacionados ao peso corporal”.

De acordo com o UOL, o TAC registra que a emissora assinou o termo, mas não reconhece as acusações feitas pelas funcionárias. Sem notícias de descumprimento do acordo, em 3 de março, a procuradora Carolina de Almeida Mesquita pediu o arquivamento do inquérito. Hoje, porém, após a demissão Marcela Mesquita, o MPT pediu o desarquivamento para averiguar se o desligamento da jornalista configura um desrespeito ao termo.

Edição: Roberth Costa
Sofia Leão[email protected]

Repórter do BHAZ desde 2019 e graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Participou de reportagens premiadas pelo Prêmio Cláudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, pela CDL/BH e pelo Prêmio Sebrae de Jornalismo em 2021.

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