Jovem é sedada por motorista de aplicativo, pula de carro em movimento e faz alerta

tentativa estupro
Motorista insistiu que jovem usasse um produto ‘desengordurante’ para a tela do celular dela (Reprodução/@bassani_duda/Instagram)

Um vídeo de alerta publicado por uma jovem tem causado medo e revolta nas redes sociais. Duda Bassani, estudante de biologia de 20 anos, denunciou um motorista da Uber por tentar dopá-la durante uma viagem. Para escapar do que poderia ter terminado em uma tentativa de estupro, a jovem saltou do carro em movimento. Por meio de nota (veja a íntegra abaixo), a Uber explica que ”a conta do motorista foi desativada da plataforma assim que a empresa tomou conhecimento do episódio” e que colabora com a investigação do caso.

De acordo com Duda, tudo começou quando o motorista insistiu que ela usasse um produto “desengordurante” para desembaçar a tela do celular dela. “Eu não dei muita bola, ele pingou o ‘negocinho’ ali num pano, eu passei no meu celular e tudo ok. Depois ele falou pra eu sentir o ‘cheirinho’. ‘É um cheirinho muito bom, né? O cheiro do desengordurante'”, relembra a jovem.

“Dai eu falei que não tinha sentido aí ele pegou o pano de volta e pingou bem mais liquido, passou o pano pra trás e pediu pra eu cheirar. Quando o pano chegou aqui [perto do nariz] eu comecei a tontear e começou a ficar tudo preto e daí ele falou ‘tira a máscara e sente o cheirinho de perto’. Nisso eu coloquei a mão na porta e ele trancou as portas bem nessa hora”, acrescenta.

‘Foi aterrorizante’

Ainda sob o efeito da substância sonífera, a jovem conta que conseguiu destrancar a porta por dentro e se atirou do carro em movimento. Ela disse que o motorista ainda pediu o pano de volta e ela o arremeçou em sua direção, assustada.

“Foi aterrorizante, desesperador. Depois eu fui direto pra delegacia, com o advogado, com o delegado e a empresa do aplicativo negou pro delegado dar o nome completo do motorista. Agora a gente já sabe o nome completo, já sabe tudo e a investigação tá correndo e vai dar tudo certo”, disse.

Após a formalização da denúncia, o caso passou a ser apurado pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher, de Canoas. Em conversa com o BHAZ, a delegada Clarissa Demartini, que está à frente das investigações, disse que o suspeito já foi identificado.

“A gente está fazendo as diligências necessárias para elucidar a investigação, de como o fato aconteceu e a identificação da autoria nós já temos, já sabemos quem é o motorista. Agora nós estamos realizando outros atos de investigação que são necessários para elucidar a dinâmica do evento”, explicou.

Mensagens de apoio

O vídeo publicado por Duda já soma mais de 900 mil visualizações. Pelos comentários, dezenas de pessoas se solidarizaram com a jovem e se indignaram com a situação vivida por ela. “Imagina quantas pessoas ele não já deve ter feito de vítima com esse ‘desengordurante’, ainda bem que está tudo bem e logo logo isso será resolvido”, escreveu uma pessoa.

“Uma amiga passou por algo semelhante esses dias. O motorista parou de seguir o GPS mesmo com ela insistindo pra que voltasse pra rota indicada e entrou em uma rua sem saída. Ela reportou pra Uber a situação e não fizeram nada por ela, ainda aceitaram o pedido do motorista sobre o valor da corrida. Um absurdo total!”, relatou com revolta outra usuária do Instagram.

O BHAZ tentou contato com a Uber para um esclarecimento sobre o caso, mas até o momento não obteve retorno. Caso a empresa se manifeste após a publicação, a reportagem será atualizada.

Crime sexual

O crime de estupro é previsto no art. 213, e consiste em “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”. Mesmo que não exista a conjunção carnal, o criminoso pode ser condenado a uma pena de reclusão de seis a 10 anos.

O art. 217A prevê o crime de estupro de vulnerável, configurado quando a vítima tem menos de 14 anos ou, “por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência”. A pena varia de 8 a 15 anos.

Já o crime de importunação sexual, que se tornou lei em 2018, e é caracterizado pela realização de ato libidinoso na presença de alguém e sem sua anuência. O caso mais comum é o assédio sofrido por mulheres em meios de transporte coletivo, como ônibus e metrô. Antes, isso era considerado apenas uma contravenção penal, com pena de multa. Agora, quem praticá-lo poderá pegar de um a 5 anos de prisão.

Nota da Uber na íntegra

A Uber repudia qualquer tipo de comportamento abusivo contra mulheres e já está em contato com as autoridades para colaborar com a investigação, nos termos da lei. A empresa acredita na importância de combater, coibir e denunciar casos de assédio e violência. Este tipo de comportamento configura violação ao Código de Conduta da Comunidade Uber e a conta do motorista foi desativada da plataforma assim que a empresa tomou conhecimento do episódio.

Vale ressaltar que a Uber está sempre à disposição para colaborar com as autoridades e possui um portal exclusivo para solicitação de dados, que está disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana para processar as demandas, permitindo que informações importantes sejam repassadas com segurança e rapidez, isso tudo respeitando as leis de privacidade exigidas no País, em especial o Marco Civil da Internet

Segurança é uma prioridade para a Uber e inúmeras ferramentas atuam antes, durante e depois das viagens  para torná-las mais tranquilas, como, por exemplo: o compartilhamento de localização, gravação de áudiodetecção de linguagem imprópria no chat, botão de ligar para a polícia, entre outros. 

Desde 2018, a empresa se comprometeu a participar ativamente do enfrentamento da violência contra a mulher e possui diversos projetos voltados para isso, que incluem campanhas contra o assédio, podcast educativo para motoristas parceiros sobre violência de gênero e, recentemente, em parceria com o MeToo, anunciamos um canal de suporte psicológico para apoiar vítimas de violência de gênero na plataforma”. 

Onde conseguir ajuda?

Caso você seja vítima de qualquer tipo de violência de gênero ou conheça alguém que precise de ajuda, pode fazer denúncias pelos números 181, 197 ou 190. Além deles, veja alguns outros mecanismos de denúncia:

Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher
av. Barbacena, 288, Barro Preto | Telefones: 181 ou 197 ou 190

Casa de Referência Tina Martins
r. Paraíba, 641, Santa Efigênia | 3658-9221

Nudem (Núcleo de Defesa da Mulher)
r. Araguari, 210, 5º Andar, Barro Preto | 2010-3171

Casa Benvinda – Centro de Apoio à Mulher
r. Hermilo Alves, 34, Santa Tereza | 3277-4380

Aplicativo MG Mulher
Disponível para download gratuito nos sistemas iOS e Android, o app indica à vítima endereços e telefones dos equipamentos mais próximos de sua localização, que podem auxiliá-la em caso de emergência. O app permite também a criação de uma rede colaborativa de contatos confiáveis que ela pode acionar de forma rápida caso sinta que está em perigo.

Seja qual for o dispositivo mais acessível, as autoridades reforçam o recado: peça ajuda.

Edição: Roberth Costa
Larissa Reis[email protected]

Graduada em jornalismo pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e repórter do BHAZ desde 2021. Vencedora do 13° Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog. Também participou de reportagem premiada pela CDL/BH em 2022.

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